O personagem central de “Vingadores: Guerra Infinita“ começou com uma tímida construção em “Vingadores (2012)”, e desde suas rápidas e pequenas aparições durante alguns dos filmes seguintes, as motivações e razões de Thanos para protagonizar o papel de principal antagonista no MCU ficaram envoltas numa penumbra, até o dia da estreia de Guerra Infinita.
Thanos está em busca das Jóias do Infinito, objetos que dariam ao Titã o ilimitado poder que qualquer ser jamais imaginou. Porém, não é só poder o que Thanos deseja. Ele quer mais, quer salvar a vida no universo, ser reconhecido, agradecido e ter sua recompensa por supostamente proteger todos do caos iminente.
A bidimensionalidade se estabelece quando ele parte à procura dessas jóias, e é onde o roteiro de Guerra Infinita mostra e desenvolve esse grande personagem. Ele está ciente do que tem de fazer para apagar metade da vida no universo e trazer o tal equilíbrio perfeito. Porém, o vilão não imaginava que também teria que matar a única pessoa que amava, numa cena sinistramente tocante e poderosa de um sacrifício que custou muito emocionalmente a Thanos. É neste momento onde a humanidade, por alguns instantes, é demonstrada na pele do genocida estelar.
O amor por Gamora era verdadeiro, mas nada podia ficar no caminho do Titã. Como o próprio diz “Eu já reneguei meu destino um dia, e não farei isso de novo”, momentos antes de jogar sua filha adotiva de um penhasco para obter a jóia da alma. Os roteiristas e diretores do filme acertaram em tudo nessa humanização. Não é só um louco atrás de poder e dominação, é um ser que já perdeu muito, e está disposto a qualquer coisa para não repetir os erros do passado.
Sua posição de vilania com os Vingadores e os Guardiões da Galáxia também é digna de notoriedade. Porque não é simplesmente um cara do mal contra os caras do bem, pois essa relação tem mais profundidade do que isso. Em nenhum momento ele quis de fato enfrentar os heróis, o fez porque era necessário para atingir os objetivos. Uma prova disso é quando o próprio Thanos se compadece com a dor da Wanda logo após ela ter que destruir o Visão, pois ele também sabia que o elo emocional entre os dois heróis era algo real, igual o seu sentimento por Gamora.
A mentalidade de extermínio e sanitização foi abordada em cima de um discurso de justiça imparcial e ordem, mascarando uma paz que poderia ser alcançada para chegar numa estabilidade utópica. Os questionamentos sobre as ações do personagem serem certas ou erradas são o quê o tornam tão memorável, e baseado não somente nos quadrinhos, mas sobretudo em fragmentos explícitos da nossa realidade.