A diversidade da Marvel é uma farsa?

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“Em vez de sentir que eu trabalhei com algumas das pessoas mais inspiradoras e corajosas dos quadrinhos, eu estava cercado por covardes.”

O painel da Marvel Studios na SDCC arrasou na diversidade dos seus anúncios. Entre outros avanços significativos, a voz dos fãs ecoou de alegria com as promessas de personagens abertamente LGBT protagonizando Eternos e Thor: Amor e Trovão. Contudo, alguns dias antes, uma voz um tanto menos ouvida escrevia sobre suas experiências como escritor da Marvel Comics. 

Escritor e ilustrador independente, Sina Grace já tinha um bom histórico na indústria americana de quadrinhos antes de ser chamado pela Marvel para escrever a revista solo do Homem de Gelo, que tinha acabado de sair do armário e podia se beneficiar de ter um escritor assumidamente gay nas suas histórias. Contudo, a experiência que parecia um sonho se tornou um inferno na vida de Sina Grace, como ele relatou em um texto publicado no Tumblr.

Como sempre, a decisão de contratar um autor LGBT para escrever um personagem LGBT atraiu uma multidão de haters para as redes sociais de Sina, que foi prontamente ignorado pela Marvel Comics quando pediu para que a editora o apoiasse mais nessa situação. 

Como Sina relata, ele pediu para ter mais oportunidades nos quadrinhos da Marvel, para que a editora mostrasse que ele não estava apenas preenchendo uma cota e que estava lá pelo seu talento. Mesmo a troca de editor-chefe da editora não lhe deu essa oportunidade, pois C. B. Cebulski até concordou que ele tinha talento e precisava ir além de escrever “o personagem gay”. Mas a única oportunidade que veio foi para escrever seis páginas de uma versão do Wolverine fundido com a Emma Frost

“Fabuloso, sim. Heterossexual, sim. Mas ainda é meio que um personagem gay,” reclama Sina, com razão. 

Mesmo para escrever seu “personagem gay”, Sina sofreu bastante nas mãos dos editores, que afirmaram que o gibi seria um fracasso se fosse “gay demais” e que ele nem deveria ter muitas expectativas, já que seu gibi provavelmente seria cancelado, como a maioria das mensais solo dos X-Men eram. 

Como o quadrinho não era muito divulgado — a Marvel tinha vergonha dele? — Grace tentou promovê-lo pelo NY Times e começou a ser censurado pela editora, que passou a supervisionar todas as suas entrevistas:

“E tudo bem se esse fosse o padrão, mas eu afirmo: nenhum dos meus colegas héteros precisava de permissão para ir a podcasts promover seus gibis.”

Mas a falta de interesse do editorial nele nem foi a pior parte, já que Sina saiu da Marvel — apesar de ter alcançado números muito bons nas vendas de encadernados e acumulado uma fortuna crítica muito positiva — e pode seguir a sua carreira que existia muito bem sem a editora. 

O pior veio quando a Marvel, na mesma SDCC onde anunciou seus novos filmes cheios de diversidade, anunciou um novo quadrinho da linha X-Men chamado Marauders, que basicamente estrelava uma formação que Sina Grace criou no seu ignorado gibi do Homem de Gelo

“Para piorar a situação: eles colocaram como escritor o cara que me indicou para a Marvel.” Publicou Grace no Twitter, após ser avisado de que sua ideia — que tinha lhe rendido um cancelamento — seria utilizada por outra pessoa. Infelizmente, para a Marvel, ele não era bom o bastante para ir além do “personagem gay”.