Quem é fã de mitologias sabe que a China é cheia de contos e divindades fantásticas, ficando em pé de igualdade com outras culturas como a Egípcia, Nórdica e Grega. Infelizmente, o mundo ocidental não costuma dar muito espaço para a mitologia chinesa em suas produções, e como uma forma de resolver isso, um estúdio chinês decidiu criar Black Myth: Wukong para adaptar a história do livro Jornada ao Oeste, escrito por Wu Cheng’en.
Será que o Game Science fez um bom trabalho e conseguiu colocar a China no mesmo patamar que as maiores produtoras de games AAA do mundo? Acompanhe nossa crítica e descubra.
O mito do Rei Macaco
Em Black Myth: Wukong, acompanhamos a história da divindade Sun Wukong, o Rei Macaco, que se revolta contra os deuses por sobrepujarem os mortais de sua espécie, decidindo se libertar das amarras que ser uma divindade lhe impõe para poder viver entre os seus.
O jogo começa com uma batalha fenomenal de Wukong conta Erlang Shen, que serve não só como prelúdio para a história como também para explicar algumas das mecânicas básicas.
Depois de ser derrotado, Wukong é aprisionado em uma rocha no topo de uma montanha. Centenas de anos se passam e ele acaba se tornando apenas um mito entre os mortais. Segundo a lenda, irá nascer um escolhido capaz de reviver a essência de Wukong que fora dividida em seis pedaços após sua morte.
É nesse cenário que nossa jornada se estabelece, onde um jovem macaco deve partir em busca das relíquias que irão reviver Wukong.
Como fã de God of War e de mitologias, devo dizer que fiquei muito satisfeito com toda a atmosfera proporcionada pelo jogo. Ainda que muitos imaginassem Kratos se aventurando um dia pela mitologia chinesa, a Game Science decidiu se adiantar e entregar uma visão respeitosa e fantástica para suas lendas, algo que só um estúdio chinês seria capaz de fazer.
Black Myth: Wukong traz um combate de respeito
Quando as primeiras prévias de Black Myth: Wukong começaram a surgir, muitos suspeitaram que ele seria um jogo no estilo soulslike, mas para a alegria de muitos, esse não é o caso aqui.
Apesar de contar com alguns elementos inspirados no soulslike, tais como o respawn dos inimigos ao visitar os pontos de save, o combate de Black Myth é muito mais dinâmico e até inspirado em alguns jogos hack ‘n slash.
Munido apenas de um bastão, Wukong é capaz de utilizar diferentes posturas, cada qual com habilidades diferentes, permitindo que você crie combos rápidos e bem impressionantes.
Outro elemento que se inspira bastante nos jogos souls é a falta de opções para a escolha de dificuldade, o que faz com que você tenha que aprender com seus erros, escolher o momento certo de esquivar e atacar e aceitar que você irá morrer bastante. Felizmente, o jogo tem pausa, o que já é um avanço.
O jogo conta com três árvores de habilidade iniciais:
- Fundamentos – para melhorar os atributos físicos de seu personagem e algumas habilidades de artes marciais;
- Posturas de Bastão – para aumentar a variedade de ataques e combos que podem ser usados;
- Misticismo – para melhora as habilidades mágicas de nosso personagem.
O sistema de progressão é simples e bem familiar, onde a cada inimigo derrotado, você coleta essências chamadas Faíscas e, ao subir de nível, ganha pontos para comprar habilidades.
Mais adiante na história, você também irá derrotar inimigos que irão liberar Transformações temporárias para Wukong, permitindo que você use as habilidades do inimigo derrotado e ganhe vantagens em combate.
Além das habilidades, o jogo também conta com um sistema de builds, onde é possível ganhar atributos melhores através dos trajes que você usa em seu personagem. Alguns trajes contam com resistências elementais, sendo indicados para o combate contra inimigos e chefões específicos.
O combate de Wukong funciona muito bem e apesar de não ser tão grandioso quanto os trailers prometiam, essa certamente foi uma estreia e tanto, abrindo caminho para algo ainda mais grandioso em uma eventual sequência.
Black Myth: Wukong é tão bonito quanto nos trailers?
Uma das coisas que fez com que Black Myth: Wukong ganhasse a atenção do mundo foi seu trailer de anúncio, liberado em 2020. Enquanto o mundo se preparava para viver uma das piores crises sanitárias na história da humanidade, a Game Science chegava com um trailer colossal, mostrando gráficos de cair o queixo e uma jogabilidade frenética.
Ainda que o resultado final seja próximo ao mostrado nos trailers, devo dizer que o jogo não se sustenta assim o tempo todo.
Em alguns momentos, Black Myth: Wukong traz uma riqueza de detalhes impressionante, nos proporcionando uma belíssima jornada por alguns pontos icônicos da China e ajudando a estabelecer essa atmosfera mítica tão impressionante, mas em outros, o jogo simplesmente perde um pouco de seu brilho.
Sabemos como o desenvolvimento de jogos tem ficado cada vez mais complexo com o passar do tempo, além do fato de que entregar um jogo totalmente polido hoje em dia parece ser uma tarefa praticamente impossível. Ainda assim, o jogo é competente em sua maior parte e digno de aplausos, tendo em vista que outros estúdios com anos de carreira e muito mais expertise em projetos AAA ainda conseguem entregar alguns resultados muito piores.
Desempenho técnico que deixa a desejar
Um dos maiores fantasmas dessa geração também acaba sendo um pesadelo para Black Myth: Wukong. A versão usada para esta análise foi a de PS5 e devo dizer que a otimização está bem aquém do esperado, ainda mais quando levamos em conta de que ele é o único console em que o título estava disponível no lançamento.
Em alguns momentos, a queda de frames era notável, o que é extremamente prejudicial para um jogo que exige ações rápidas por parte do jogador e que errar o timming de uma esquiva pode significar sua morte.
Ainda que as quedas acontecessem em trechos esporádicos, não posso deixar de citar isso como algo negativo e que afetou minha experiência.
Outro ponto que me surpreendeu também foi a total falta de suporte aos recursos do DualSense. O controle sequer vibra, o que quebra bastante a imersão.
Uma bola fora da Game Science
Black Myth: Wukong é, de fato, um jogo impressionante, ainda mais quando levamos em conta de que a primeira empreitada da China para concorrer com grandes estúdios de mercado no ramo de jogos AAA. Embora a China já seja uma potência global na indústria de jogos de videogame, esse império foi construído quase que totalmente em cima dos jogos para celular, o que faz de Wukong um divisor de águas.
Infelizmente, o estúdio por trás do jogo acabou mostrando um comportamento completamente errático, preconceituoso e machista, algo que já deveria estar extinto na indústria dos games. Representantes do estúdio deram declarações extremamente problemáticas ao longo dos últimos anos, o que tirou o brilho de um projeto que tinha tudo para ser impecável, com problemas técnicos ou não.
Apesar disso, o valor do jogo existe e merece ser reconhecido.
Se você é fã de mitologias e gostaria de ver a franquia God of War se aventurando pela China, não precisa mais esperar por isso. Black Myth: Wukong traz uma narrativa sólida, jogabilidade empolgante e um conjunto geral muito satisfatório.
*O Cromossomo Nerd agradece a Game Science e a TheoGames pela chave do jogo para esta análise.