Quando a empresa por trás de God Eater anunciou uma nova franquia, os fãs ficaram curiosos com o que estava por vir. Por ser também um RPG de ação, a indagação ficou por conta da capacidade da desenvolvedora de apresentar algo novo e distante do seu título anterior.
Por mais que Code Vein seja do mesmo gênero, a Shift inspirou-se em outra franquia famosa para entregar seu novo trabalho: Dark Souls. Sua produção levou anos e após um adiamento longo, finalmente saiu. O resultado, por mais familiar que pareça, consegue apresentar novas ideias que rendem um jogo interessante.
História
Após um evento apocalíptico, grande parte da humanidade morre e o mundo fica em ruínas. Algumas pessoas ressuscitam, porém diferentes do que eram antes – e além de imortais, seus corpos trazem uma necessidade constante de sangue. Por mais que à temática de vampiros esteja no jogo, não espere que a história siga a mitologia clássica a risca. Os personagens andam sob a luz do Sol normalmente e nem mordem o pescoço de ninguém, a sede de sangue é saciada por meio de frutas sanguíneas que nascem no mundo, mas que começaram a se tornar escassas. Quando não se bebe sangue por muito tempo, os seres começam a sofrer uma mutação até se tornarem aberrações irracionais chamadas de Perdidos.
O jogador controla um personagem que sofre de amnésia e acorda neste mundo caótico, onde encontra seres semelhantes a ele, que buscam uma solução para salvar o mundo. Ao unir-se a este grupo, percebe-se que você não é como eles e pode ser a chave para resolver o problema.
Devido à imunidade do protagonista ao Miasma, uma energia que transforma seres em Perdidos imediatamente, caberá a você descobrir a fonte dela e ao mesmo tempo, relembrar quem é você.
A trama principal é bem simples, sem nada extraordinário ou que fuja dos clichês de sempre, mas tem um desenrolar que consegue prender a atenção e manter-se interessante à medida que vamos descobrindo mais do passado do protagonista.
Um fato interessante são os itens de vestígios de memória. Eles permitem que o protagonista “viaje” nas memórias de outros personagens, onde vemos onde cada um estava durante os eventos que causaram o cenário apocalíptico, permitindo que entendamos suas motivações e adicionando uma pitada de drama à história. Para incentivar o jogador a vivenciar esses pedaços, eles desbloqueiam habilidades novas ao seu término e apenas passando por todos, você será capaz de ver o final verdadeiro.
Durante estes momentos, o personagem apenas pode locomover-se lentamente à medida que os fatos são mostrados. Devido ao número de memórias ser enorme, ficar repetindo essa experiência acaba se tornando cansativo e chato, quebrando completamente o ritmo do jogo.
Jogabilidade
Mecanicamente, Code Vein bebe demais da fonte de Dark Souls mas não é uma cópia como muitos esperavam. Sendo um RPG de ação em primeira pessoa, temos a barra de stamina que limita nossos ataques e evasão, ataques leve e forte, rolamento, defesa e uma mecânica de aparar ataques, que ao ser ativada no momento correto, faz com que o personagem interrompa o ataque inimigo e o desarme para um golpe crítico.
Os oponentes não são variados e a abordagem com a maioria não foge do usual devido à fraca inteligência artificial dos mesmos, tornando o jogo repetitivo depois que você investe poucas horas nele.
A movimentação do personagem, principalmente ao atacar, passa uma sensação de falta de coordenação por ser lenta demais e pela falta de fluidez ao produzir sequências de ataques. Enfrentar grupos de inimigos torna-se frustrante não pela dificuldade e sim pelo ritmo errático. Por diversas vezes, a sensação que passa é de que a velocidade de combate não combina com o ritmo de jogo.
O jogo consegue ser bem mais acessível do que a série Souls por uma série de fatores. A primeira delas é que contamos com um mapa no canto da tela, que demonstra a rota que traçamos, evitando que o jogador fique rodando em círculos.
Ao encontrar checkpoints que são representados por plantas chamadas viscos, o mapa das redondezas é detalhado, dando noção das dimensões de determinada área e seus itens de interesses. Para incentivar a exploração, cada local possui viscos que vão aos poucos revelando cada pedaço, até completar a locação.
Nestes pontos que funcionam como as fogueiras de Dark Souls, o jogador poderá utilizar as brumas para subir de nível, comprar habilidades e viajar rapidamente para outras áreas do jogo. Brumas constituem a moeda de Code Vein e são obtidas ao derrotar inimigos. Ao morrer, suas brumas ficarão no local de sua morte, obrigando você ir até lá recuperá-las. Caso você morra no meio do caminho, elas irão desaparecer para sempre.
A adição de um NPC aliado para acompanhar o jogador na aventura torna a experiência bem mais fácil. Por diversas vezes, esse aliado irá te ressuscitar e dar cabo de inimigos com magias e ataques poderosos. Caso você ache que o jogo está fácil demais, poderá desabilitar esta opção, conversando com este mesmo NPC no mapa que representa a base do jogador.
O multijogador permite que um jogador assuma o papel deste NPC, permitindo combate em duplas. Tanto você pode pedir por ajuda e um amigo se juntar ao seu jogo, quanto entrar no jogo de alguém que solicitou auxílio.
Ao iniciar o jogo, devemos criar nosso personagem. As opções são extensas, com diversos acessórios, roupas, cabelos e etc. A boa notícia é que aqueles que quiserem mudar o visual de seu personagem podem alterá-lo quantas vezes quiser na base do jogador, em qualquer momento.
Porém onde Code Vein brilha não é na personalização estética e sim de estilo de jogo. Durante a aventura, seremos apresentados aos Códigos de Sangue. Nosso personagem, ao obter o sangue de outros aliados, poderá adquirir suas habilidades e tendo em vista que cada personagem é único, quanto mais códigos você coletar maior será o acervo de habilidades para serem desbloqueadas. Por mais que algumas tenham nomes diferentes do comum, elas representam as típicas classes de RPG, porém adaptando suas habilidades ao universo do jogo, baseando-se na mitologia dele.
A qualquer momento do jogo, você pode trocar a sua classe, dando total liberdade ao jogador de testar aquilo que lhe agrada. Ao obter um código, você precisa desbloquear as habilidades para utilizá-las e o jogo apresenta outra ótima ideia para incentivar o jogador dedicar-se à experimentação.
Ao desbloquear uma habilidade de um determinado código, só conseguiremos utilizá-la ao ter aquele código equipado como nossa classe. À medida que a utilizarmos durante o jogo, poderemos herdá-la, que nada mais é do que a capacidade de equipá-la em códigos diferentes, ou seja: você poderá construir um personagem com a classe que quiser e equipar quais habilidades desejar, tornando-o único e permitindo combinações exóticas que farão diferença durante os combates.
Seu personagem tem espaços limitados para equipar as habilidades que podem ser ativas ou passivas e é justamente achar a combinação certa entre elas que torna o jogo divertido.
Como não poderia faltar num jogo deste tipo, temos os tradicionais chefes. Cada um segue um padrão de ataque diferente, que irá obrigar o jogador a adaptar-se para superá-lo. Visualmente, alguns conseguem realmente ser extraordinários, mas mecanicamente, não tendem a surpreender por serem muito previsíveis. Se você quer realmente um desafio nestas batalhas, desative seu aliado, pois eles tendem a fazer a maior parte do trabalho por você, tirando boa parte da graça.
A Shift faz um bom trabalho em adaptar o estilo de animes ao gráficos. Por mais que não tenhamos nada extraordinário nesse aspecto, o trabalho é competente e conta com efeitos bacanas, principalmente na parte de iluminação e texturas caprichadas. O efeito dos olhos dos personagens brilhando em vermelho é interessante e as cutscenes são bem desenvolvidas e contam com uma dublagem boa, passando realmente a sensação de estarmos assistindo um anime, algo que fica melhor ainda caso você escolha a opção de jogar com o idioma em japonês.
A trilha sonora é bacana, revezando músicas orquestrais nos momentos mais dramáticos e rock quando você perambula pela base.
Considerações Finais
Code Vein é um jogo que consegue ser mais do que um mero clone de Dark Souls. Com uma vasta personalização de classes que conseguem agradar os diversos tipos de jogadores e uma boa história, é uma experiência interessante para aqueles que curtem RPGs de ação com desafio moderado.
Infelizmente, o combate disrítmico e a pouca variedade de inimigos tendem a tornar o jogo repetitivo, mas não tira a diversão da obra que consegue ser única a seu modo.