[ANÁLISE] Death Stranding Director’s Cut | A máfia das versões de diretor precisa acabar

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Anunciado na E3 de 2016, Death Stranding quebrou a internet cin seu trailer enigmático e por ser um jogo do lendário diretor de jogos Hideo Kojima, o pai da aclamada franquia Metal Gear.

Lançado em 2019, o jogo causou uma grande polêmica entre os jogadores por ser altamente divisivo, com uma parte do público completamente fascinada por ele e outra parte que o achava entediante e uma grande decepção.

Death Stranding Director’s Cut é mais um título da Sony que ganhará uma versão expandida e com diversas melhorias para aproveitar-se do potente hardware do PlayStation 5, assim como aconteceu com Ghost of Tsushima. Será que Kojima conseguiu fazer valer o retorno para seu jogo?

Uma narrativa estendida, só que não

Em Death Stranding, o jogador assumirá o papel de Sam Bridges, uma espécie de entregador que utiliza alta tecnologia para fazer entregas em um mundo pós-apocalíptico, na região dos Estados Unidos da América. Um evento cataclísmico quebrou as barreiras entre a vida e a morte, permitindo que criaturas fantasmagóricas perambulassem pela Terra.

Quando estas criaturas entram em contato com matéria morta, como cadáveres, ocorre uma reação violentíssima que causam explosões chamadas de Vórtices. Além disso, quando a matéria viva entra em contato com matéria morta, outra reação acontece: uma espécie de chuva chamada de temporal, que degrada tudo o que entra em contato, inclusive seres humanos, causando envelhecimento precoce.

Tudo isso somado fez com que as pessoas precisassem viver em cidades abrigos, cabendo a Sam e outros entregadores como ele, desbravar este cenário de pesadelo para levarem suprimentos e equipamentos onde seja necessário.

A narrativa de Death Stranding é cheia de altos e baixos, mas no geral, o saldo é positivo. Em alguns momentos, Kojima consegue trazer uma boa dose de fascínio ao jogador com suas loucuras e cenas emocionantes, instigando a curiosidade, mas em outros, a história acaba sendo extremamente entediante, com explicações vastas, que tentam dar um tom de profundidade filosófica e técnica ao jogo, mas isso não é alcançado.

Durante boa parte da aventura, você não entenderá absolutamente nada do que está acontecendo e não há problema algum com isso. O problema é quando tudo começa a ser explicado de uma vez, sem parcimônia.

No ato final, por mais que eu quisesse as respostas, eu não aguentava mais explicações infinitas e complexas sobre absolutamente tudo, como se estivesse em uma aula na faculdade que o professor passou o semestre inteiro enrolando e precisava passar a matéria toda em um mês.

A história poderá ser terminada em 30 horas, caso você foque apenas na história principal, algo que não recomendo. Explorando o mundo e seus segredos, essa duração pode até dobrar. Caso seja daqueles jogadores que gostam de fazer 100%, o tempo poderá atingir 120 horas.

Caso você esteja esperando um conteúdo de história novo como em Ghost of Tsushima Director’s Cut, sinto lhe desapontar: as novas missões de história e a nova área, uma espécie de fábrica abandonada, darão algumas explicações a mais sobre um dos conceitos do jogo, mas nada significativo. É possível terminar esse novo conteúdo em uma hora.

O que tem de novo?

Em Death Stranding, o jogador deverá fazer entregas, dos mais variados tipos e tamanhos e em todos os tipos de terrenos, tendo que lidar com terrenos íngremes e intempéries diversas, como os BTs, as criaturas fantasmagóricas, e a chuva temporal. Cada entrega é um verdadeiro desafio e requer que o jogador utilize do bom senso e da inteligência.

Felizmente, Sam conta com um bom acervo de equipamentos para completar suas entregas. Desde exoesqueletos que permitem carregar cargas mais pesadas, itens de escalada para contornar montanhas e até veículos.

O desafio começa quando o jogador começa a preparar-se para a entrega, calculando a melhor rota e compreendendo qual o tipo de terreno e desafios você encontrará pelo caminho. Além das entregas pesarem, o próprio equipamento utilizado pelo jogador também contará.

A qualidade das entregas também importa, já que os pacotes podem ser danificados e até mesmo destruídos, obrigando o jogador a recomeçar a missão. Como dito anteriormente, a própria chuva temporal degrada tudo, inclusive seus itens.

Nesta nova versão, as mecânicas são mais detalhadas e explicadas, permitindo que o jogador tenha mais clareza no que fazer para cumprir seus objetivos. Além disso, novas ferramentas e estruturas, como uma catapulta que lança cargas com paraquedas, tornam o processo de entregas mais fácil, provocando mudanças significativas em sua jogabilidade, o que pode tirar um pouco do charme da dificuldade original ou atrair jogadores que queiram uma experiência mais acessível, dependerá do tipo que jogador você é.

Particularmente, achei que todos os recursos que facilitam as entregas nesta versão são uma adição excelente e que tornam o jogo mais justo e acessível. Na versão original, certas entregas tornavam-se uma experiência frustrante.

Se você não gostou do título pela falta de ação no PlayStation 4, esta nova versão não mudará a sua opinião, já que o título continua focado na exploração e realização de entregas com conflitos ocasionais. Um recurso muito bem-vindo adicionado é a possibilidade de repetir momentos específicos da história que possuem grandes sequências de ação e confrontos épicos com chefes.

Entre as novas adições, estão uma pista de corrida, que permite que o jogador teste todos veículos do jogo em circuitos para tentar alcançar o melhor tempo, mas pouco adiciona em termos de conteúdo. A condução de veículos de Death Stranding é decente para a proposta do jogo, mas ao colocar pistas de corrida é notório que não funcionam bem com esse intuito. Inclusive, a ausência de adversários físicos para competir acaba tornando a experiência monótona e desinteressante.

O campo de tiro permite que o jogador teste todas as armas e treine sua mira, trazendo desafios dinâmicos que ensinam bem as mecânicas do jogo, funcionando como um bom tutorial, mas nada além disso.

Death Stranding possui um multijogador assíncrono, isto é, os jogadores não interagem diretamente entre si. As estruturas que você constrói aparecem no mundo de outros jogadores, além de armários em que você pode colocar e receber itens online. Tudo isso reforça a ideia da trama em reestabelecer conexões e trabalhar em conjunto para o bem comum. Nesta nova versão, há novos desafios que colocam os jogadores para competir pelo melhor tempo de entrega e receber recompensas, como suprimentos extras.

Decisões questionáveis

A versão original já era belíssima, contando com gráficos de cair o queixo, graças à Decima Engine, criada pela Guerrilla Games. Death Stranding Director’s Cut conta com quatro modos gráficos no PlayStation 5: modo qualidade com 2160p e 60 fps, o modo performance com 1800p e 60 fps, o modo de qualidade ultrawide com 3840 x 1620p com 60 fps e o modo performance ultrawide com 3200 x 1350p e 60 fps. Em todos os modos, o jogo roda com uma performance excelente.

O hardware do PlayStation 5 é bem utilizado em alguns aspectos, com carregamentos quase instantâneos e a Tempest Engine com o áudio 3D, mas o Dual Sense é a grande decepção.

Hideo Kojima é um diretor lendário que sempre inovou em seus jogos. Quem jogou Metal Gear Solid no PlayStation 1, lembra de Psycho Mantis lendo o memory card do jogador e comentando sobre outros jogos da Konami que você tivesse armazenado e mandando o jogador colocar o controle no chão para mexê-lo com a mente, usando o recurso de vibração do joystick.

Já em Death Stranding, o Dual Sense apenas tem alguns momentos em que vibra de forma diferente em terrenos variados e os gatilhos adaptáveis servindo para simular a resistência ao carregar as cargas ou os diferentes tipos de armas, mas de forma bem sutil. Ao entrar na correnteza de um rio, o controle não tem nenhum tipo de reação.

O jogo conta com dublagem em português e vale frisar a alta qualidade do trabalho e como as vozes casaram bem com os personagens. A novidade mesmo fica na trilha sonora, que era repleta de músicas excelentes e agora conta com outras adições que enriquecem a obra.

Caso você tenha o jogo no PlayStation 4, é possível transferir o seu save para continuar o jogo de onde parou o PlayStation 5. Ao contrário de Ghost of Tsushima, em que apenas é necessário transferir o progresso no menu inicial após mandar o save para a nuvem da PlayStation Plus, Kojima quis dar um toque de “genialidade”, que obriga o jogador a baixar a versão inteira de Death Stranding de PlayStation 4, entrar no jogo, aproximar-se de um terminal de carga e procurar nas configurações uma forma de exportar o save para os servidor do jogo e então, entrar na versão de PlayStation 5 e escolher a opção de fazer a transferência.

Infelizmente, essa burocracia toda não aumenta em nada a imersão do jogador e apenas o faz perder tempo e ocupar seu SSD com a versão anterior.

O upgrade para a versão do diretor custará aos jogadores R$ 50,40, um valor que não justifica pelos novos recursos apresentados, que poderiam facilmente fazer parte de uma atualização gratuita. Caso não tenha o jogo base, deverá desembolsar R$ 249,50 para obter a versão do diretor, que vem acompanhada do pacote deluxe.

Infelizmente, a chegada dessa versão do diretor se mostra, mais uma vez, prejudicial para quem só tem o PS4, já que isso fez com que a versão do jogo base, lançada em 2019, fosse removida da PS Store, ficando apenas a Edição Deluxe, que sai por R$ 249,50 e não inclui a atualização gratuita para o PS5.

Vale a pena?

Death Stranding Director’s Cut é a melhor versão do jogo por apresentar melhorias significativas na jogabilidade, tornando-a mais acessível e divertida, mas não irá mudar a visão daqueles que acharam o jogo entediante pela falta de ação direta.

Caso tenha consciência de que Death Stranding é um jogo diferente do que estamos acostumados, e também dos que Hideo Kojima apresentou em sua carreira, e queira ter esta experiência pela primeira vez, é uma boa pedida.

Para aqueles que jogaram a versão de PlayStation 4, e principalmente terminaram a aventura, esta nova versão tem muito pouco a adicionar, não vale o investimento e não fará falta nenhuma em sua coleção.

*O jogo foi testado no PlayStation 5 e agradecemos a FSB Comunicação e PlayStation Brasil por nos ceder uma cópia para análise.