A desenvolvedora Arkane conseguiu conquistar o coração dos jogadores ao redor do mundo pela criatividade e personalidade de seus jogos, criando obras únicas, como por exemplo, a aclamada franquia Dishonored.
Deathloop é a nova aposta da empresa, que promete inovar, entregando uma história única, mecânicas interessantes em sua jogabilidade e liberdade para os jogadores completarem a campanha da forma que desejarem.
O jogo está sendo lançado para PC e com exclusividade temporária no PlayStation 5, fazendo com que ele tenha a missão de utilizar todos os recursos do novo console da Sony para entregar uma experiência completa e inesquecível, logo no início da nova geração. Mesmo com uma proposta tão ambiciosa, já adianto: mesmo tendo jogado muitos jogos durante a minha vida, nunca vi algo parecido com Deathloop.
O nome é Vahn, Colt Vahn
Em Deathloop, o jogador assumirá o papel do lendário e debochado assassino Colt Vahn, que está sofrendo de amnésia e preso na misteriosa ilha de Blackreef. Vahn logo percebe que o local está preso em um loop temporal, fazendo que todos os dias sejam resetados ao seu final e todos aqueles que morrerem na ilha ressuscitem no dia seguinte, incluindo ele mesmo.
Logo no início, você será apresentado à misteriosa e brutal assassina Juliana, que tem uma rivalidade forte com Colt e demonstra guardar muita mágoa por algum fato desconhecido do passado, querendo matá-lo incessantemente. Essa rivalidade acentua-se durante a história por um simples motivo: Colt percebe que a única forma de fugir de Blackreef é quebrando o loop, enquanto Juliana fará de tudo para mantê-lo lá, tornando a trama uma verdadeira caçada repleta de emoção e reviravoltas.
A grande sacada da narrativa é unir a amnésia de Colt à confusão do jogador sobre o que realmente está acontecendo. Inicialmente, o excesso de informações sem explicações pode causar insegurança a quem está jogando. Algumas vezes, cheguei a me perguntar, “será que eu perdi algum detalhe e vou precisar voltar alguma parte?”, mas isso faz parte da experiência.
O grande charme de Deathloop é não dar as respostas de mão beijada, mas sim, incentivar o jogador a explorar o mapa e ir atrás de pistas, conduzindo a sua própria investigação e ir ligando tudo como um grande quebra-cabeças, tornando a experiência cada vez mais empolgante e viciante.
Por mais confusa que a história seja nas primeiras horas, ela engata assim que as primeiras respostas surgem e atiçam a curiosidade do jogador, fazendo com que a trama toda se conecte lá na frente de forma brilhante. Do ponto de vista narrativo, se eu tivesse que escolher uma palavra para definir Deathloop, seria incrível.
Além disso, os personagens carismáticos e memoráveis, junto de seu humor afiado, tornam sua história mais rica ainda. Logo nos primeiros minutos, acabei me simpatizando com Colt, com seu jeito canastrão e piadista, algo ressaltado pelos diálogos divertidos entre ele e Juliana.
Deathloop é um jogo muito único e cheio de particularidades, por isso é difícil definir quanto tempo cada jogador levará para termina-lo, mas creio que entre 15 a 20 horas serão suficientes para finalizar a história principal, sem contar ainda com a miríade de atividades extras e segredos prontos para serem descobertos.
Um ciclo misterioso
O jogador conta com um variado arsenal de armas, mas isso não significa que você resolverá tudo no tiro. Deathloop dá ao jogador a liberdade para passar pelos locais na base da furtividade e hacking de dispositivos, eliminando silenciosamente seus inimigos ou passando por eles sem dar um golpe sequer, mas também permite que os jogadores incorporem o Rambo e saiam detonando tudo o que apareça pela frente, sem trazer prejuízo algum à experiência. Mas, em certos momentos, será mais inteligente agir pelas sombras, já em outros, será melhor equipar uma escopeta e resolver tudo de forma prática e rápida.
Eu tentei jogar um pouco das duas formas para ver qual eu acabaria preferindo e preferi tentar atirar em tudo, devido à fluidez e polimento das mecânicas de tiro. Não me entenda mal, a furtividade é uma boa opção, mas como o conceito de diversão é subjetivo, eu gostei mais de agir como John Wick e testar todas as armas que eu encontrasse pelo caminho.
Para os afoitos, que gostam de dar tiros e sair avançando implacavelmente, como eu, as armas de Deathloop podem emperrar e quando isso acontece no meio de um confronto com meia dúzia de assassinos, pode ser uma verdadeira sentença de morte, dando uma boa pitada de risco e emoção aos tiroteios, obrigando a jogador a pensar rápido.
Para os jogadores que gostam de personalizar suas habilidades, Deathloop não conta com um sistema de árvore de habilidades nem de ganho de experiência e níveis, mas conta com um sistema de itens chamados berloques e placas, que são a chave para diversificar a jogabilidade.
Estes itens são equipados e dão novas habilidades para Colt, como aumento de vida ou garantir que sua arma jamais emperre, tenha mais estabilidade ao atirar e carregamentos mais rápidos. Os mais poderosos permitem mecânicas mais avançadas, como pulo duplo e até mesmo invisibilidade.
Selecionar as placas e berloques que melhor adequem-se ao seu estilo de jogo é onde Deathloop brilha. Você não deverá adaptar-se ao jogo e sim, poderá adaptá-lo à forma que desejar e que irá te trazer a melhor experiência.
Deathloop adiciona uma pinta de “maldade”, vinda direto dos jogos roguelite, mas não é tão punitiva quanto os jogos do gênero. O jogador pode morrer duas vezes durante cada estágio, fazendo com que você retorne a um ponto não distante de sua morte, com todos os seus itens, tendo também uma nova chance de avançar. Caso morra pela terceira vez, a fase encerra e você será obrigado a recomeçar, perdendo todos os seus itens.
Felizmente, uma mecânica chamada de infusão permite que você carregue seus itens, mesmo morrendo e encerrando o ciclo, por meio de um recurso chamado Residuum. Recomendo que não desperdice este recurso com qualquer item e guarde apenas para aqueles mais valiosos e que realmente valem a pena carregar, já que, à medida que avança na história, não será raro encontrar equipamentos de boa qualidade.
O jogo é dividido em um ciclo, que equivale a um dia, em quatro momentos diferentes do dia: manhã, meio-dia, tarde e noite, que se passam em quatro locais diferentes. As pistas, segredos e acontecimentos dividem-se por estes quatro períodos e locais ao longo de um único dia, sendo resetado ao seu final.
Para conseguir encerrar o loop e terminar o jogo, o jogador deverá explorar cada local em todos os horários disponíveis para obter pistas que darão a resposta para conseguir fazer o ciclo perfeito e encerrar o loop. Por mais repetitivo que isso possa soar, a variedade de Deathloop faz com que a experiência seja constantemente interessante.
Não entrarei em detalhes para não dar spoilers, mas você precisará assassinar certos alvos para avançar na história. Somente por meio da exploração, dicas e pistas, você conseguirá a localização e horário que os alvos estarão vulneráveis para serem eliminados, tendo liberdade para montar um planejamento e fazer a execução da maneira que desejar, semelhante ao que vemos na franquia Hitman.
O jogo também conta com um sistema parecido com o de Dark Sous para o seu multijogador: é possível que um jogador invada o mundo de outro, controlando a assassina Juliana. Quando isso acontece, há uma boa dose de tensão, principalmente se você não tiver feito a infusão de seus itens e estiver cheio de coisas valiosas. Como Colt e Juliana são rivais, a única forma de resolver isso é um com um dos jogadores sendo morto. Caso você não goste da ideia de alguém invadindo seu jogo para te matar, é possível desativar a opção.
Um mundo fascinante, mas não perfeito
Em termos de performance, o jogo conta com 3 estilos gráficos diferentes: 4k e 30 quadros por segundo com Ray Tracing e dois modos, resolução 4k estável e 60 quadros por segundo instáveis e resolução variável 4k e 60 quadros por segundo estáveis, com essas duas últimas sem Ray Tracing.
Eu optei por jogar o início de Deathloop com a primeira opção gráfica e mudei para a terceira após 4 horas de jogo. Não vi grande diferença gráfica do Ray Tracing ativado para desativado e como acredito que a quantidade de quadros seja mais relevante, principalmente em um jogo de ação em primeira pessoa, optei pela terceira durante o resto do jogo e tive uma experiência fluída e estável.
Graficamente, Deathloop não é ruim, mas também não impressiona. Seus gráficos cartunescos são competentes, mas o que brilha mesmo é o estilo do jogo. A direção artística preocupou-se em criar Blackreef como uma ilha retrofuturista inspirada na década 60, que se destaca muito e torna o mundo do jogo mais fascinante. Some isso à uma trilha sonora incrível, que mistura desde blues até jazz, e tenha um resultado fascinante.
A dublagem brasileira apresenta um trabalho competente e de boa qualidade.
Durante toda a minha experiência, tive apenas um bug que atrapalhou gravemente a minha jogatina. Ao entrar numa cinemática, o personagem não voltou ao meu controle, fazendo com que eu ficasse preso na cena e sendo obrigado a reiniciar o jogo.
Neste momento, eu percebi uma particularidade de Deathloop que irá incomodar alguns: o jogo não conta com salvamento convencional, apenas quando o jogador termina um dos distritos, que funcionam como fases. Caso haja um bug, como o meu, queda de luz ou precise parar de jogar repentinamente, por um motivo de força maior, você será obrigado a reiniciar a parte que estiver jogando.
Outro bug que presenciei, porém de menor frequência e não tão grave, eram inimigos que conseguiam me ver pelas paredes, mesmo eu tendo certeza de que aquilo era impossível, fazendo com que os outros companheiros entrassem em alerta automaticamente e forçando que eu saísse da furtividade e os matasse de forma prática.
O elemento que mais me incomodou em Deathloop foi a inteligência artificial dos inimigos. Por vezes, mesmo que você apareça na frente deles, ele não o verão ou então, caso veja você sem entrar em estado de alerta, irão esquecer do fato e voltarão a sua rotina como se nada tivesse acontecido.
Em alguns momentos, percebi inimigos que atiravam para a direção errada de onde eu estava e se movimentavam de forma desengonçada, como se algo bloqueasse o caminho. Grande parte das vezes que isso aconteceu, boa parte do desafio foi embora, já que eles podiam ser mortos sem nenhuma dificuldade.
O Dual Sense brilha de forma majestosa em Deathloop, utilizando-se dos gatilhos táteis para simular a sensação dos tiroteios frenéticos, desde a arma emperrando até o som emitido pelo controle para que o jogador escute as balas disparadas da sua arma caindo aos seus pés. De todos os jogos desta geração experimentados até agora, Deathloop fica apenas atrás de Astro’s Playroom no uso completo das funções do joystick, sendo que estamos falando de uma demonstração criada pela Sony justamente para testar o Dual Sense em toda a sua magnitude, o que é bem surpreendente.
Outro fato que vale salientar é a ótima interface do jogo, que além de estilosa, é extremamente prática, permitindo que o jogador gerencie facilmente todas as mecânicas e informações sem ficar perdido.
Jogo do ano?
Deathloop é um dos melhores títulos da atualidade e, sem sombra de dúvidas, uma das obras mais incríveis já produzidas pela Arkane. Por mais complexo que o jogo pareça, sua curva de aprendizado é acessível e o seu loop de jogabilidade acaba sendo uma experiência divertida e recompensadora, que incentiva o jogador a continuar explorando a misteriosa e fascinante ilha de Blackreef atrás de todos os seus segredos em uma das aventuras mais únicas dos últimos anos.
O ano ainda não acabou e diversos títulos serão lançados, mas caso eu precisasse fazer uma aposta, diria com toda a tranquilidade: Deathloop é um forte candidato a jogo do ano.
*O jogo foi testado no PlayStation 5 e agradecemos a Bethesda e FD Comunicação pela cópia cedida para análise.