[ANÁLISE] Ghost Of Tsushima Director’s Cut | Um caça-níquel disfarçado?

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Lançado originalmente em julho de 2020, Ghost Of Tsushima foi um grande sucesso, aclamado pela crítica (confira a nossa aqui) e pelo público, tornando-se um dos melhores exclusivos do PlayStation na última década. Se não fosse pelo colosso The Last Of Us 2, poderíamos ter testemunhado o primeiro capítulo da nova propriedade intelectual da Sucker Punch abocanhando mais títulos nas premiações, inclusive o de melhor jogo do ano.

Quase um ano depois, a Sony decide relançar o jogo na sua versão do diretor, trazendo uma campanha inédita, melhorias e uma versão especial para o PlayStation 5. Será que vale a pena revisitar Tsushima?

História

Após deparar-se com uma situação estranha em Tsushima, Jin Sakai começa a investigar e encontra uma pista: um novo grupo de mongóis que vieram da Ilha Iki, diferentes daqueles que Jin está acostumado a enfrentar.

Ao chegar à Ilha Iki, Jin descobre que os mongóis pertencem à Tribo da Águia, liderados pela misteriosa Águia, uma xamã poderosíssima que utiliza o medo, mas de forma diferente do Fantasma, para dominar e eliminar todos aqueles que se opuserem a ela.

Mas a Águia não é a única ameaça que Jin enfrentará na Ilha Iki. O local esconde uma mancha terrível e dolorosa do seu passado, que obrigará o samurai a encará-lo de frente.

A narrativa segue a mesma linha do jogo base, mantendo a sua qualidade e apresentando uma trama enxuta, que responde diversas perguntas do passado do Jin enquanto apresenta uma ameaça diferente daquelas que ele já enfrentou.

Por achar a trama intrigante, decidi jogar as missões principais primeiro, deixando a exploração da Ilha Iki para depois. Isso me permitiu finalizar a aventura em 5 horas. Para fazer todas missões secundárias, atividades extras e visitar cada pedaço da nova ilha, o jogador levará entre 12 e 15 horas.

Jogabilidade

A Ilha Iki não é apenas uma mera repetição da ilha de Tsushima com uma história nova, ela adiciona novos elementos interessantes e atividades ao jogo.

A nova habilidade de Jin chama bastante a atenção: o jogador poderá utilizar seu cavalo para atropelar patrulhas mongóis e é divertidíssima de se usar, além de ser extremamente útil para eliminar uma parcela de inimigos em um grupo antes de você engajá-los no combate direto. Por ser poderosa demais, ela só pode ser utilizada gastando a barra de determinação, mantendo o equilíbrio do jogo.

O combate também muda com a chegada de um novo inimigo: os xamãs. Estes oponentes entoam cânticos para que seus amigos entrem em um estado de frenesi, semelhante aos berserkers, atacando o jogador de forma implacável e incansável. Em uma batalha, se você não quer um batalhão de guerreiros ensandecidos te atacando sem pausa, mate imediatamente os xamãs.

Além dos xamãs, a novidade é que alguns guerreiros mongóis carregam mais de uma arma e irão trocá-las repentinamente, no calor da batalha, obrigando o jogador a mudar constantemente a sua postura para adequar-se ao oponente. Isso dá uma bela dinâmica ao confrontos e uma pitada a mais de estratégia.

A Ilha de Iki contém novas atividades para o jogador passar o tempo. A minha favorita foi o torneio de Bokken em que você precisará enfrentar diversos oponentes, numa espécie de campeonato de espadachins, onde cada um luta de um jeito diferente, uns utilizando posturas semelhantes a Jin e outros jogando sujo. A atividade vale também como um bom treino para o combate real, já que você precisará ser preciso e esperto em como reagir a cada oponente.

No jogo base, tínhamos os santuários de raposas em que o jogador deveria seguir o animal até um altar e rezar. Na Ilha Iki, temos santuários de animais que trarão um minigame bacana, diferente de apenas seguir o animal homenageado e rezar.

A atividade que mais me fez passar raiva de início foi a arquearia. Durante o mapa, você encontrará arqueiros em uma competição de acertar alvos no menor tempo possível, exigindo estratégia e habilidade do jogador para obter o melhor placar. Apesar de causar certa frustração inicialmente, acaba sendo emocionante e altamente satisfatório tirar o primeiro lugar após inúmeras tentativas.

Um dos aspectos mais fascinantes do jogo base eram os “Contos Místicos” em que o jogador deveria investigar uma suposta lenda e, no final, descobrir se ela era real ou não, adquirindo alguma armadura especial como recompensa ao seu término. Há apenas um conto na Ilha Iki que traz uma belíssima armadura com bons efeitos, que recomendo que faça assim que possível.

A Director’s Cut não traz somente conteúdo pago, ela implementa algumas melhorias úteis que são muito bem-vindas. Uma delas, que considero a mais importante, é a possibilidade de você colocar amuletos individualmente em cada armadura, permitindo fazer sets especiais. Por exemplo, você pode combinar as habilidades do Fantasma com amuletos que a amplifiquem, tornando-se uma verdadeira sombra mortal quase invisível.

Outra melhoria, esta já estética, é esconder o arco das costas do protagonista, já que alguns não combinam bem com a armadura utilizada no momento.

Antes de começar a jogatina, recomendo que vá no menu principal e escolha a opção de configurações para ver as diversas melhorias novas e personalizar tudo ao seu gosto, já que no jogo em si estas opções não ficam muito claras.

Aspectos Técnicos

Ghost Of Tsushima já era um jogo muito bonito no PlayStation 4, mesmo que algumas texturas deixassem a desejar, como por exemplo, a da água. No PlayStation 5, o jogo continua bonito, mas no aspecto gráfico não é uma diferença significativa. A versão da nova geração roda em uma resolução maior, porém consegue atingir os 4K e 60 quadros por segundo de forma estável.

Desta vez, temos suporte ao áudio 3D, permitindo uma maior imersão na experiência. O Dual Sense também ganha destaque com os gatilhos táteis ao escalar, cavalgar e atirar com o seu arco, mas seu uso é um tanto quanto discreto, podendo ter sido mais explorado.

Na realidade, sabemos que o jogo foi desenvolvido originalmente para o PlayStation 4 e essa versão foi apenas uma atualização, logo, é natural que alguns problemas dessa portabilidade sejam perceptíveis. Em algumas cenas, é notório que alguns personagens não têm expressão facial, apesar da sincronização com a linguagem japonesa. Embora a viagem rápida seja instantânea graças ao SSD do novo console, as armaduras demoram tempo demais para carregar no menu para escolhê-las.

Escolhi jogar a Director’s Cut com o áudio em japonês, assim como joguei a aventura original, pela imersão e para ver o trabalho com a sincronização labial com o idioma e, de fato, está perfeita, porém algo que incomodou profundamente é que em algumas cenas, esqueceram de colocar as legendas.

No Conto Mítico, durante a animação que contava a história da lenda, a legenda não apareceu e eu fiquei sem entender porque não falo japonês e precisei recorrer ao YouTube para entender o conto.

Ao jogar no PlayStation 5, um recurso que deve ser destacado é que ao contrário de outras versões que requerem um certo trabalho para fazer a transferência de save ou alguns que sequer contam com o recurso no PlayStation (vide Doom Eternal), basta que você transfira seu save para a nuvem, que requer PlayStation Plus, e no menu do jogo, peça para transferir o save, permitindo que o jogador comece exatamente de onde parou no PlayStation 4.

Vale o investimento?

O que mais incomodou nesta versão não foi a duração nem os pequenos problemas e defeitos, mas sim, como a Sony abordou o lançamento dela. Entramos na nova geração e a Microsoft tem mostrado um trabalho fantástico com o seu Smart Delivery, isto é, o recurso que permite que os jogadores tenham acesso à versão aprimorada do jogo sem custo adicional na geração desejada.

Caso você já tenha o Ghost of Tsushima de 2020 no PS4 e deseje obter a a versão de diretor, também no PS4, você deverá pagar R$ 104,90 para fazer o upgrade. Mesmo com essa nova versão, você não terá acesso às atualizações da nova geração, sendo obrigado a pagar mais R$ 55,00. Em suma, você precisa pagar cerca de R$ 160,00 para ter acesso |à versão de diretor e melhorias do PS5.

Caso você não tenha nenhuma versão e queira adquirir o jogo pela primeira vez, a versão básica foi retirada da loja e agora somente pode ser adquirida na versão do diretor, custando R$ 299,90 no PS4 e R$ 349,90 no PS5.

A expansão da Ilha Iki fica atrelada à essa nova versão do diretor e não pode ser comprada separadamente e aqueles que desejem adquirir o jogo pela primeira vez são obrigados a comprar o pacote completo, pagando o preço cheio em um jogo que foi lançado em 2020. Não há sequer a possiblidade de comprar apenas o jogo base para testá-lo e pensar em adquirir a expansão depois.

Considerações Finais

Ghost Of Tsushima Director’s Cut é a cereja de um bolo que já foi bem preparado há algum tempo e funciona como um bom complemento para aqueles que adoraram a experiência no jogo base e querem um bom motivo para voltar ao mundo de Tsushima e matar as saudades de aventurar-se com Jin Sakai na sua luta contra os mongóis, mas também serve como um pacote mais do que completo para aqueles que querem conhecer a história pela primeira vez.

Os valores são salgados, principalmente para aqueles que desejam adquirir apenas o upgrade, e a necessidade do jogador ser obrigado a comprar a versão da nova geração já possuindo o jogo na geração passada é algo bem controverso.

Isso seria facilmente resolvido dando o upgrade gratuitamente, assim como o Smart Delivery no Xbox e muitos outros jogos do próprio PS5. Além disso, a Sony poderia ter sido mais inclusiva em suas ofertas, já que a expansão poderia ser adquirida individualmente.

*Gostaríamos de agradecer a Sony Brasil e a FSB Comunicação pela cópia do jogo para esta análise.