A Ember Lab começou como um estúdio de animação, entregando um fanfilm de Zelda: Majora’s Mask que encantou o mundo pela sua qualidade, virando um belíssimo tributo para os fãs da franquia e uma bela demonstração de sua capacidade artística.
Kena: Bridge of Spirits foi anunciado em junho do ano passado, durante o evento revelação do PlayStation 5, e atraiu olhares curiosos, principalmente por tratar-se da estreia da Ember Lab no mercado de jogos e por seu estilo de arte saído direto de uma das animações de alta qualidade da DreamWorks ou Pixar.
Sabemos que jogos vão muito além de gráficos e visuais bonitos, mas o que será que podemos esperar do título que inaugura esta nova fase Ember Lab?
Aventura encantadora
O jogador controlará Kena, uma simpática garota com um passado misterioso e que possui a habilidade de libertar almas que ficaram presas entre o mundo físico e o espiritual, auxiliando-as em seus caminhos no pós vida, fazendo dela uma guia espiritual.
Na trama, o reino está morrendo por conta de uma tragédia de séculos atrás, fazendo com que a corrupção avance e Kena, forasteira, deva investigar e encontrar uma forma se livrar dela de uma vez por todas dela. Usando suas habilidades e com o auxílio dos Rot, pequenos espíritos fofos e tímidos que vivem na floresta, que são responsáveis por manter o equilíbrio alimentando-se de coisas mortas e da corrupção, Kena inicia sua jornada.
O mundo de Kena é incrível, com personagens carismáticos e com uma história interessante para contar, o que faz com que o jogador queira mergulhar cada vez mais na narrativa e descobrir todos os mistérios que o aguardam. Desde o início, o jogo faz um belo trabalho em prender a sua atenção.
A trama aborda o tema morte, espiritualidade, vida após a morte e luto de forma brilhante e emocionante, e provavelmente, tocará de forma mais intensa pessoas quem tenham perdido um ente querido recentemente. Kena: Bridge of Spirits traz muita reflexão sobre a vida e como a enfrentamos, principalmente diante da morte, de forma profunda e com uma beleza e sensibilidade sem iguais.
Caso você seja dessas pessoas que chora por quase tudo, recomendo que jogue com uma caixa de lenços do lado. Não tenho o costume de me emocionar em obras de entretenimento, mas em alguns momentos do jogo, fiquei profundamente sensibilizado.
O jogo pode ser terminado entre 8 e 12 horas, a depender do quanto você irá explorar o mapa e se ficar preso em algum chefe mais desafiador. Completar tudo pode levar até 15 horas e, infelizmente, o jogo não conta com New Game +, mesmo tendo uma dificuldade que só é liberada após zerar uma vez. Caso queira recomeçar a história, terá que ser realmente do zero.
Sentimento de nostalgia
Kena: Bridge of Spirits lembra bastante um jogo das antigas, mas de forma bem positiva. Caso você tenha jogado os Zeldas antigos, principalmente os de N64, será praticamente impossível não ser transportado de volta à esta época. O jogo é linear, mas conta com áreas conectadas entre si para serem exploradas, com um chefão lhe aguardando ao final.
A jogabilidade de Kena é rápida, simples e direta, mas não se engane: o mundo colorido e criaturas fofas escondem um jogo desafiador, mesmo sendo jogado no normal. A curva de aprendizado de Kena não é amistosa, mas não chega, obviamente, a um Dark Souls da vida, mas o jogador aprenderá as mecânicas apanhando um bocado. Eu optei por jogar no difícil, achando que seria um jogo fácil, e tomei surras inimagináveis, mas não desci a dificuldade. Mesmo passando perrengues e agarrando em alguns chefes, consegui ter uma experiência prazerosa e altamente divertida.
Kena possui um ataque leve e pesado, podendo esquivar-se e utilizar o escudo espiritual para absorver dano, além de obter novos golpes, por meio de uma árvore de habilidades bem simples, porém significativa, já que afeta completamente o equilíbrio do jogo. Ao avançar na história, você também ganhará novas habilidades, como por exemplo, transformar o seu cajado em um arco e flecha.
A grande diferença vem por meio do controle do Rot, as criaturinhas fofas que mencionei anteriormente. Ao entrar em batalha, você encherá um medidor chamado de coragem e ao enchê-lo por completo, poderá contar com ações especiais, como por exemplo, dar um golpe poderosíssimo em conjunto com eles ou comandá-los para imobilizar o inimigo enquanto você parte para o ataque ou até mesmo curar-se.
Inicialmente, o combate é um tanto quanto repetitivo pela pouca variedade de inimigos e pela simplicidade, já que apertar repetidamente o botão de ataque leve e esquivar-se resolverá a maior parte dos problemas. Com a adição de novos inimigos no decorrer da aventura e mais mecânicas, o jogo vai tomando corpo e torna-se muito mais atrativo.
As batalhas com os chefes são um dos melhores momentos de Kena: Bridge of Spirits. Cada um deles luta de forma única e exigirá que o jogador combine todas as mecânicas aprendidas de forma inteligente e sábia. Somado a história de cada um, que o jogador vai descobrindo aos poucos enquanto desbrava as áreas, até chegar nele, acaba culminando em um dos momentos mais emocionantes da aventura.
O jogo também conta com momentos de plataforma e alguns quebra-cabeças, que ajudam o título a manter uma boa variedade de ritmo. Kena pode comandar o Rot para mover objetos, como por exemplo, colocar uma estátua caída em seu lugar ou comandá-los para transformar-se em uma criatura única e eliminar partes da corrupção, neste último, comandar o Rot é um pouco confuso e travado, sendo um dos momentos que mais me incomodou.
Por mais que a exploração seja divertida, ela me decepcionou um pouco quando percebi que na maior parte do tempo, você estará apenas obtendo itens cosméticos, chapéus, que o Rot poderá e usar que não influenciarão em nada o combate. Em alguns momentos, você encontrará itens para comprar melhorias e moedas para comprar cosméticos, mas o divertido mesmo é encontrar baús corrompidos que irão requerer que o jogador elimine inimigos em um curto espaço de tempo para limpá-lo da corrupção.
Uma obra de arte
A direção de arte de Kena: Bridge of Spirits é belíssima e encantadora e, como dito anteriormente, assemelha-se à uma animação da Pixar, principalmente na sua qualidade, fazendo os modelos de personagens bem ricos e com expressões faciais bem feitas, além de cenários incríveis e cheios de detalhes, principalmente inspirados no oriente.
Os personagens, principalmente os chefes principais de cada área, contam com um design de cair o queixo, com a Ember Lab usando a sua criatividade de forma memorável.
O jogo conta com dois modos gráficos: fidelidade 4K e 30 quadros por segundo e desempenho com 4K dinâmicos e 60 quadros por segundo. Particularmente, sempre escolho o modo que tenha a maior taxa de quadros e assim o fiz com o Kena também e tive uma performance sem quedas perceptíveis e totalmente fluída. O Dual Sense é utilizado de forma tímida, mas competente.
A trilha sonora de Kena é outro ponto alto do título, complementando os momentos mais emocionantes e dando o tom épico aos combates com chefes. Ela foi composta por Jason Gallaty em colaboração com o grupo gamelão Çudamani da Ilha de Bali para criar uma seleção de músicas únicas e envolventes.
Tive pouquíssimos bugs durante a minha experiência, mas apenas com relação a coisas simples e que não atrapalharam em nada, sequer exigiram que eu precisasse recarregar algum save. Tudo é perfeitamente compreensível quando lembramos que Kena foi produzido por apenas 15 pessoas, sendo uma obra que, também tecnicamente, impressiona.
O jogo conta com legendas em português, mas que contém alguns erros como palavras faltando letras ou frases inteiras em inglês que devem ser consertadas em um eventual patch.
Vale a pena?
Kena: Bridge of Spirits é uma das grandes surpresas do ano. Com uma jogabilidade que fará a festa dos jogadores das antigas, mas também irá agradar novatos, e uma história emocionante e envolvente, a obra merece um espaço na sua coleção. A estreia da Ember Lab no mercado de jogos é um acerto fantástico e nos deixa ansiosos para mais títulos da empresa.
*O jogo foi testado no PlayStation 5 e agradecemos a Ember Lab e a FSB Comunicação por nos ceder uma cópia para análise.