Em 2019, a Capcom surpreendeu e agradou os fãs de Survival Horror com o remake de Resident Evil 2. O jogo conseguiu agradar aos fãs de todas as eras por respeitar o material original e entregar uma experiência de terror como não víamos há muito tempo.
Sabendo do sucesso que seria, a desenvolvedora não perdeu tempo e começou os trabalhos no remake do terceiro jogo da franquia.
Resident Evil 3 marcou época por sua história e, principalmente, pelo seu vilão: Nemesis. A criatura espalhava momentos de dor e desespero em todas as vezes que aparecia para atormentar Jill Valentine na sua missão de sair de Raccoon City.
Sendo um título que habita a memória de muitos com carinho, o anúncio de seu remake trouxe fortes emoções. Será que é possível repetir o sucesso do 2?
História
O remake de Resident Evil 2 foi uma verdadeira carta de amor aos fãs da franquia, principalmente por respeitar a história antiga e conseguir captar a mesma atmosfera de medo e tensão do original.
O remake do terceiro jogo é cheio de decisões controversas, inclusive com diversos fatos da trama original sendo modificados ou cortados, resultando em um jogo extremamente curto e cheio de decisões estranhas.
Diversos momentos memoráveis do jogo original, como a Torre do Relógio e o Cemitério não se fazem presentes. Esse fato vai ficando claro à medida que avançamos no jogo e percebemos que a correria para entregar o título foi o principal motivo. O velho ditado de que a pressa é inimiga da perfeição cai como uma luva para esse novo remake em termos narrativos.
Não vejo mudanças ou adaptações como um problema, desde que as mesmas tenham uma justificativa coerente, mas aqui, elas não seguem muito essa linha.
Entendo a proposta da reimaginação, mas o final do jogo é completamente modificado apenas para reaproveitar os cenários do remake de Resident Evil 2.
Esqueça referências ao jogo antigo, a nova versão deixa muito a desejar, do ponto de vista narrativo, e soa apenas como um trabalho corrido, sem o capricho do título anterior e muito menos com intenção de prestar reverência a obra original.
Não me entenda mal, algumas das mudanças na trama funcionam dentro da proposta e somos presenteados com momentos divertidos e extremamente tensos, mas isso não acontece com frequência.
Jogando no modo normal, a aventura pode ser terminada em 6 horas, sem pressa e explorando todos os cantos de Raccoon City e encontrando seus segredos, até mesmo com momentos de correria com o Nemesis tentando arrancar seu fígado.
Ao terminar, a sensação que temos é de que muita coisa ficou faltando e que o jogo poderia ser ter sido uma DLC do título anterior. Esperamos que a Capcom aprenda a lição e tenha mais cuidado ao tratar da trama dos futuros remakes.
Jogabilidade
Aqui é o onde o remake de Resident Evil 3 brilha e muito. Pegando muito da excelente jogabilidade do jogo anterior e adicionando novidades, entrega uma experiência fluida e intuitiva.
Os menus continuam praticamente os mesmos, o que significa que usar itens e trocar armas continua fácil e os controles são extremamente responsivos.
Uma das novidades bem-vindas é a possibilidade de Jill esquivar-se de ataques. Conseguindo executar a esquiva perfeitamente, a tela brilhará e você poderá executar um ataque crítico.
Essa mecânica adiciona uma pitada de risco/recompensa cheia de adrenalina, principalmente ao encarar criaturas mais perigosas e nas batalhas com chefes.
Passear por Raccoon City continua sendo uma aventura tensa, mesmo que o novo título esteja mais inclinado para a ação do que para o terror, mas não se iluda: os sustos se fazem presentes.
Era muito esperado o retorno do vilão Nemesis e de fato, ele sabe marcar presença. A criatura aparece em alguns momentos da aventura, como chefe e como uma ameaça que você deverá escolher como lidar, já que ele não pode ser morto por meios convencionais, apenas fica “atordoado”, após tomar muito dano, levantando depois de um tempo para atormentar o jogador.
As batalhas de chefe com Nemesis são um dos pontos mais fortes do jogo, principalmente ao serem jogadas em dificuldades mais difíceis.
O monstrengo mudará seu estilo e caberá ao jogador adaptar-se para enfrentá-lo, rendendo momentos memoráveis e únicos. Até ouso dizer que nestes momentos, o remake ofusca o título original.
Saber utilizar a esquiva de Jill efetivamente e gerenciar seus recursos é o que fará a diferença para que o jogador consiga chegar ao final do jogo, dando pitadas de emoção a mais.
O vilão, nos momentos em que não somos obrigados a enfrentá-lo, consegue oferecer momentos desesperadores, principalmente durante perseguições.
Por uma decisão questionável, enfrentar o vilão na dificuldade normal em seus encontros aleatórios, não costuma ser uma experiência desafiadora. Há diversos itens espalhados pelo mapa como tanques explosivos e geradores que atordoam o monstro facilmente, além do fato de que Nemesis cai facilmente para uma granada.
Esta decisão pode ter sido tomada para equilibrar a jogabilidade ao encarar ao vilão, já que Nemesis é “apelão” e tem uma variedade enorme de golpes, além da inteligência artificial brutal e implacável.
Infelizmente, essa fraqueza torna os enfrentamentos extremamente desbalanceados, indo contra a proposta da arma biológica “imparável”. O jogador que poupar granadas não terá problemas nenhum ao esbarrar em Nemesis.
Raccoon City está cheia de zumbis, mas desta vez, temos novidades. Nemesis pode causar mutações em alguns zumbis, tornando-os mais fortes e com ataques novos, semelhantes ao ganados com os parasitas e uma variante nova “pálida”, que consegue regenerar-se, sendo um verdadeiro inferno para jogadores que querem poupar seus suprimentos.
Na parte de criaturas, temos o retorno de monstros icônicos, mas não irei detalhar para não estragar a surpresa. Com certeza, jogadores mais antigos irão abrir um sorriso em determinados momentos.
Não espere por quebra-cabeças memoráveis e únicos, como nos títulos anteriores. Os poucos momentos em que nos deparamos com eles, são extremamente simples e não oferecem dificuldade.
O jogador eventualmente irá jogar algumas partes com o mercenário Carlos. Nestas partes, o jogo não tem vergonha de assumir a ação frenética e os sustos ficam escassos, mas não deixa de entregar momentos divertidos e tensos, em que o jogador ficará em situações de aperto e precisará usar a cabeça.
Mesmo sendo um jogo curto, Resident Evil 3 oferece incentivos para o jogador experimentar múltiplas jogatinas e desbloquear itens novos que oferecem vantagens como regeneração de vida constante ou armas com munição infinita.
É necessário completar desafios para ganhar pontos que funcionam como dinheiro. Ao terminar o jogo pela primeira vez, a loja ficará disponível e você poderá comprar o que te interessar.
Aspectos Técnicos
Na parte técnica, Resident Evil 3 é uma verdadeira obra prima.
Graças à miraculosa RE Engine, o jogo entrega gráficos belíssimos e extremamente detalhados, como já havia sido feito no título anterior.
Efeitos de fogo e até de poeira suspensa são retratados meticulosamente, além das feições dos personagens, tudo nos menores detalhes e com uma qualidade sobrenatural.
Somando isso ao trabalho sonoro, o jogo consegue levar ao jogador uma imersão incrível.
Outro fator que impressiona é a performance do jogo, mesmo nos consoles atuais, em suas versões padrão.
Estamos no final da geração e, mesmo assim, a Capcom consegue tirar máximo proveito das máquinas sem causar lentidão ou travamentos durante a jogatina, mantendo um ritmo fluido e afiado.
Durante a minha experiência, vi uma quantidade mínima de bugs, mas nada que incomodasse ou atrapalhasse a experiência. Podemos dizer que no campo de otimização, a Capcom fez um excelente trabalho.
Considerações Finais
Resident Evil 3 era um dos jogos mais aguardados do ano, com expectativas no teto, tanto pelos velhos jogadores quanto os novos, da geração recente que conheceram a franquia agora.
Do ponto de vista narrativo, ele é um passo para trás nos trabalhos recentes da Capcom, já que a pressa tira grande parte do brilho do jogo, mas não todo.
As batalhas com chefes, a qualidade da jogabilidade e os aspectos técnicos ainda impressionam e fazem com que o jogo seja uma experiência fabulosa para fãs da saga e de jogos de terror no geral.
Ter sido lançado num espaço de tempo curto em comparação ao título anterior, que foi impecável em todos aspectos, evidencia mais ainda seus defeitos.
Que ele sirva de lição para os futuros remakes. Se o remake do segundo título foi uma carta de amor os fãs, o remake do terceiro mostra que é hora de discutir a relação…