[ANÁLISE] Resident Evil Resistance | Essa festa virou um enterro

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A franquia Resident Evil dispensa apresentações. Com diversos jogos memoráveis e uma história que encanta milhões de fãs no mundo todo, não costuma focar-se em jogos com multijogador. Mesmo assim, nasceu Resident Evil Resistance. O jogo “grátis” vem junto com o novo lançamento da saga, o remake de Resident Evil 3.

4 jogadores serão colocados em um mapa e deverão sobreviver, trabalhando em equipe, a 1 jogador, que será o vilão, e fará de tudo para eliminá-los.

Jogabilidade

Resistance possui boas ideias, isso é indiscutível. Ele soa como uma espécie de Frankenstein de Left 4 Dead, Dead By Daylight e uma pitada de Resident Evil: Outbreak, mas a verdade é que ele não consegue fazer nada melhor do que nenhum dos títulos citados.

O jogo possibilita jogar de duas formas: assumindo o papel de um dos quatro sobreviventes ou do mestre.

Os sobreviventes devem fugir, mas a tarefa não é simples: diversas ameaças e quebra cabeças irão impedir seu progresso.

O papel do mestre é tornar a vida dos sobreviventes um verdadeiro inferno, implantando ameaças no mapa e fazendo de tudo para que eles não escapem.

E, para piorar, um medidor de tempo irá correr assim que a partida começar e os sobreviventes poderão ganhar tempo, ao eliminar ameaças, ou perder, caso cometam erros. Se o tempo for zerado, o vilão ganha.

Alguns pontos do mapa possuem um baú, que ao contrário dos presentes nos jogos da franquia, é para comprar itens diversos, que vão desde ervas, armas ou munição com os créditos que você encontrará pelo mapa.

6 sobreviventes são disponibilizados e fica notável como o jogo é desbalanceado. Tyrone, Valerie e Becca são os únicos que compensam jogar por terem habilidades úteis, como curar seus parceiros ou ser extremamente eficiente ao usar armas de fogo.

Há uma habilidade que pode ser ativada rapidamente e outra que demora e funciona como uma espécie de ultimate, que pode consistir em aumentar bastante o acerto de ataques críticos ou ter munição infinita por um curto espaço de tempo.

Samuel é o típico esportista de filme besteirol americano e ele é muito bom em… sair no soco. E o problema fica evidente ao encarar ameaças como cães zumbis ou personagens com blindagens e ataques devastadores próximos. O personagem também é bom com armas corpo a corpo, mas você verá que é uma PÉSSIMA ideia tentar parar um Tyrant usando um taco de baseball.

Em todas as partidas que joguei, seja no controle de Samuel ou outros jogadores, o personagem morria constantemente.

Por mais que o jogo seja focado no trabalho em equipe para sobreviver, ele é assolado por lentidão e imprecisão, o que torna a tarefa bem problemática. Isso é notável quando você precisar ajudar seus companheiros caídos ou utilizar itens.

Uma decisão que mostra sua limitação é não poder compartilhar itens encontrados no cenário para ajudar seus amigos, um recurso que já mostrava-se presente em Resident Evil 5 e faria uma bela diferença aqui.

Jogar como o vilão é infinitamente mais divertido do que como sobrevivente e evidencia a falta de equilíbrio do jogo. O vilão é uma espécie de Kevin McCallister, o garoto atentado de “Esqueceram de Mim”, que colocou suas mãos em tecnologia da Umbrella, mas com doses elevadas de sadismo e uma clara inspiração no vilão Jigsaw da saga Jogos Mortais.

Inicialmente, só é possível jogar com Annette Birkin, mas ao passar de nível, é possível jogar com vilões conhecidos como Alex Wesker e até mesmo Ozwell Spencer. Cada um possui uma espécie de “deck” com suas habilidades que permitirá lançar criaturas conhecidas da franquia, como lickers e o infame Mr. X, e plantar armadilhas.

Antes que o jogador fique assanhado para lançar tudo sem parar, há um medidor de energia que fará com que seja necessário calcular a melhor forma de usar seus recursos. Os vilões também possuem um ataque especial e quando isso acontece, a partida praticamente acaba de tão desbalanceado que é.

Em uma das partidas, o vilão invocou o cientista William Birkin como ameaça (a forma que sofre mutação e é um chefe no Resident Evil 2). A partir dali, ele caçou cada um dos jogadores, matou todos e ficou no ponto de renascimento dos mesmos, aguardando um a um renascer apenas para matar novamente até o tempo acabar e ele sair como vitorioso.

Este fato ocorreu em mais de uma partida e mesmo com jogadores em nível alto no time, ninguém saiu vivo. Tenho certeza de que o vilão divertiu-se muito jogando todo mundo para o alto e esmagando as nossas cabeças até o tempo acabar, mas para os sobreviventes foi frustrante.

Aspectos Técnicos

Para completar o pacote, Resistance é outra bagunça tecnicamente. Para começar, o matchmaking, a organização de partidas, mostrou-se extremamente problemática. É curioso um jogo em pleno lançamento, durante um período de quarentena, em que as pessoas estão jogando mais, seja necessário esperar 10 a 15 minutos para entrar em uma única partida. Nos testes, eu nunca utilizei filtro, seja para jogar como sobrevivente ou vilão. Caso o jogador queira apenas jogar como vilão, o tempo de espera pode subir para meia hora.

Pela organização de partidas ser precária, é comum você cair em partidas com jogadores do mundo todo. Em algumas das partidas que joguei, caí com um francês e um alemão. Pelo tanto que eles berravam de raiva no microfone, creio que deveria ser o lag absurdo que assolava a partida e a tornou praticamente impossível de ser jogada, com o vilão aproveitando-se disso e ganhando.

Infelizmente, é rara a partida que é possível jogar sem lag. Em alguns momentos, você irá atirar em inimigos e eles irão desaparecer, magicamente. Algumas vezes, você não saberá o que aconteceu, mas em outras, eles reaparecerão te atacando do nada.

Os modelos dos personagens são bem feitos e detalhados, mas alguns cenários soam esquisitos e o level design é péssimo, soando preguiçoso e pouco detalhado. A quantidade de corredores é enorme e muitas vezes, isso atrapalha demais os sobreviventes e ajuda (E MUITO!) a vida dos vilões.

A interface é uma zona. Muitas vezes, você verá diversas informações e ícones na tela que a poluem de forma prejudicial, ao ponto de você não saber para onde ir: juntar-se aos seus colegas de times, buscar as chaves ou se há uma nova ameaça sendo lançada no mapa.

Nem mesmo o áudio de Resistance se salva: imagine estar numa sala com 5 pessoas falando ao mesmo tempo e não me refiro a jogadores reais: os protagonistas soltam falas fora de hora que misturam-se com os sons ambientes e das criaturas de tal forma que sequer é possível aproveitar a trilha sonora ou entender o que está sendo falado.

Não tente se guiar pelo cenário e sons ambientes como muitos jogos da atualidade fazem, a tarefa mostra-se impossível aqui.

Considerações Finais

Resident Evil Resistance mostra-se como uma tentativa problemática da Capcom de tentar investir no mercado multijogador, querendo aproveitar-se do nome da franquia Resident Evil. E acaba dando terrivelmente errado.

Extremamente desbalanceado e tecnicamente ruim, não consegue entregar tensão e nem medo, apenas sensação de frustração e raiva diante dos problemas que assolam o título. Teria sido melhor ter voltado os esforços para incrementar o remake do Resident Evil 3. Mesmo sendo um acompanhamento grátis para quem comprar o título mais recente, mostra-se como um jogo dispensável e esquecível. Definitivamente, não vale o espaço do seu HD.