[ANÁLISE] Resident Evil Village | Uma experiência pra ninguém botar defeito

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Resident Evil é uma franquia gigantesca e aclamada, que mora no coração de muitos jogadores, principalmente por ter marcado a infância de muitos. No dia 22 de março, a saga completou o marco incrível de 25 anos de história.

É claro que com tantos títulos, a Capcom viu-se obrigada a pensar fora da caixa e inovar a franquia. Resident Evil 4 foi o primeiro a sofrer mudanças significativas, implementando novos elementos narrativos e novidades em sua jogabilidade. E assim, sucessivamente, a empresa continuou ousando, dividindo os fãs, mas conseguindo trazer novatos para conhecê-la e, inevitavelmente, espantando os mais conservadores.

Resident Evil 7, lançado em 2017, foi o título mais polêmico da série, mas que tinha a melhor das intenções: recuperar as raízes do horror. Trocando a câmera em terceira pessoa e adotando em primeira, apresentando-nos ao novato protagonista Ethan Winters, em uma busca desesperada pela sua esposa na mansão da doentia família Baker, o jogo conseguiu causar um grande impacto sendo elogiadíssimo pela crítica e fãs, mostrando que a Capcom estava no caminho certo.

4 anos depois, estamos diante do oitavo título principal da franquia: Resident Evil Village. Neste ano de celebrações da série, será que Village conseguirá cumprir as altíssimas expectativas e honrar o legado da franquia?

História

Resident Evil Village começa 3 anos e 8 meses após os acontecimentos de Resident Evil 7. Ethan e Mia Winters vivem uma vida perfeita no leste europeu, junto de sua filha bebê, Rose. Chris Redfield, o lendário capitão da BSAA, ajudou ambos a começarem uma nova vida e deixar o passado com a família Baker enterrado. Inclusive, o evento foi encoberto como um acidente devido a um vazamento de gás que matou todos os envolvidos.

Em uma noite agradável, o casal é surpreendido quando o esquadrão de Chris Redfield invade seu lar a tiros, com o mesmo executando Mia a sangue frio com diversos disparos na frente de Ethan. Rose e Ethan são levados sob custódia e durante o trajeto, o veículo sofre um misterioso acidente.

Quando acorda, Ethan vê-se sozinho e perdido, em um local totalmente desconhecido, descobrindo uma vila misteriosa no meio do nada, que, como era de se esperar, esconde um segredo macabro. Sem escolhas e precisando de respostas, Ethan irá aventurar-se em um verdadeiro pesadelo para ter sua filha de volta, batendo de frente com a misteriosa Mãe Miranda, seus filhos e um culto fanático.

A narrativa de Resident Evil Village é bem escrita, com um roteiro que sabe prender a atenção do jogador e que não dá respostas tão cedo, então, acostume-se com o mistério. O jogo pode ser terminado entre 7 e 10 horas, a depender da habilidade do jogador e do quanto ele irá explorar do mapa, já que o jogo esconde alguns segredos, como todo Resident Evil.

Os novos personagens da franquia, principalmente os Quatro Lordes, filhos da Mãe Miranda, são criativos, únicos e enigmáticos. Lady Dimitrescu, a vampirona que reinou no marketing do jogo, é apenas uma dos quatro membros da família. O jogo deixa em aberto diversos detalhes dos mesmos, principalmente o passado. Seria uma ótima oportunidade para a Capcom explorar as origens da família por meio de DLCs, algo que vimos em Resident Evil 7 e funcionou muito bem.

Em Resident Evil 7, Ethan era sem graça porque a Capcom queria um personagem que o jogador pudesse se identificar, sem personalidade definida. Em Village, o protagonista ganha muito mais personalidade e desenvolvimento, tornando-se um dos melhores personagens de Resident Evil criados até hoje.

Jogabilidade

Resident Evil Village mantém a perspectiva de câmera em primeira pessoa do sétimo título e suas mecânicas, mas com diversas melhorias. Ethan consegue manusear armas de forma mais fluida, rápida e precisa. O grande destaque é que agora o personagem não consegue apenas defender-se, mas também pode revidar ataques corpo a corpo, afastando seu inimigo, caso o jogador os defenda no momento certo. Mas não se engane, defender irá custar uma parcela pequena de vida.

Village conta com muitas áreas abertas, que permitem e incentivam a exploração do jogador, já que escondem recursos fundamentais para a criação de itens, como munição e de cura, e também tesouros valiosos para serem vendidos para o mercador. Jogando no modo normal, achei que o jogo foi generoso em dar munição e recursos e, durante toda a minha jogatina, não me vi passando aperto por escassez de balas, mas também não matei tudo o que apareceu no meu caminho.

O novo mercador, conhecido como Duque, é uma figura peculiar que negociará com os jogadores em diversos momentos. Ele venderá itens diversos, desde suprimentos até acessórios para suas armas, melhorar o desempenho de seu arsenal e cozinhar pratos.

Durante o jogo, caso o jogador encontre animais, como porcos, galinhas e peixes, Ethan poderá abatê-los para obter carnes e levar ao Duque para preparar iguarias da região que darão bônus permanentes ao jogador, como saúde aumentada e maior velocidade de movimento.

Os fãs de Resident Evil 4 notarão muitas similaridades com mecânicas do novo jogo, seja pelo mercador ou pelo sistema de inventário, que resgata a maleta de Leon, te obrigando a manter seus equipamentos organizados e otimizando espaço.

O inventário é organizado no estilo “Tetris”, da mesma maneira que em Resident Evil 4 e não possui os tradicionais baús para guardar itens, dando uma dose boa de realismo.

Uma das maiores queixas dos fãs era que a série se afastou do terror, perdendo a sua identidade. Felizmente, Village recupera esse elemento, mas de forma inteligente. Não espere sustos constantes e coisas pavorosas o tempo todo, mas sim na construção da atmosfera tensa.

Mesmo tendo gostado bastante de Resident Evil 7, tive um sério problema com a pouca variedade de inimigos. Já em Village, o jogador poderá encontrar criaturas perigosas e variadas, difíceis de matar e em alguns momentos aos bandos, gerando momentos de desespero genuínos.

As batalhas contra chefes são divertidas e contém todos os elementos que os fãs esperam da franquia, com exceção de 2, que trazem elementos inovadores e ousados, nunca antes vistos na série. O embate final entra facilmente na minha lista como uma das melhores batalhas da história de Resident Evil.

Os tradicionais puzzles retornam, mas costumam ser bem simples e com a solução bem na sua cara, basta prestar um pouco de atenção, com exceção de um ou dois que irão requerer um pouco mais de raciocínio.

Aspectos Técnicos

De todos os títulos que pude experimentar no PlayStation 5 até agora, Resident Evil Village foi o primeiro que me fez sentir dentro da nova geração. Graficamente, o jogo é majestoso, mostrando toda a capacidade da RE Engine em criar ambientes realistas, com ótimo uso do ray tracing.

A vila, paisagens, monstros e personagens possuem detalhes caprichados. No Reddit, um membro postou uma foto das mãos do Ethan com a legenda “Como será possível que as mãos dele consigam parecer mais reais do que as minhas?” e isso resume bem a qualidade gráfica do jogo.

A Capcom liberou a informação, que deixou os fãs um tanto quanto desconfiados, de que o jogo rodaria em 4K e, ao ativar o ray tracing, atingiria 45 quadros por segundo, uma previsão um tanto quanto pessimista. Após análises do Digital Foundry, fomos surpreendidos positivamente com o jogo tendo uma performance sólida de 60 quadros por segundo e pouquíssimas quedas nos consoles da nova geração, além de carregamentos instantâneos. Durante toda a minha experiência jogando no PlayStation 5, não percebi bugs ou problemas de performance, demonstrando um trabalho incrível de otimização da desenvolvedora.

A direção de arte, seus ambientes e design de monstros baseia-se no estilo gótico e de lendas europeias, criando uma ambientação incrível, criativa e assustadora. A Tempest Engine do PlayStation 5 é muito bem utilizada e, junto do fone pulse 3D, permite uma imersão absurda, como nunca vivenciei antes em um jogo de terror. A trilha sonora é fantástica e consegue contribuir para a atmosfera de terror e tensão.

Resident Evil Village é o primeiro título da série dublado para o nosso idioma e, felizmente, podemos presenciar o quanto a dublagem brasileira é competente pelo trabalho grandioso aqui apresentado.

O DualSense contribui positivamente para a experiência, mas não impressiona e passa a sensação de que não foi explorado como poderia. Por exemplo, os recursos dos gatilhos adaptáveis funcionam de forma excelente para armas, mas não servem para dar sustos ou causar momentos de tensão.

Considerações Finais

Resident Evil Village celebra os 25 anos da franquia da melhor forma possível: entregando um jogo fantástico, que honra todo o legado da série, pegando tudo o que deu certo e evoluindo a fórmula, fazendo com que os fãs se lembrem do porquê se apaixonaram por ela.

Com uma história envolvente e criativa, incríveis sequências de terror e ação, personagens fascinantes, uma ambientação única e mostrando o poder da nova geração, Resident Evil Village consegue a façanha de ser o melhor título da série lançado até hoje.

*Agradecemos a Capcom e a TheoGames pela cópia do jogo para esta review.