[ANÁLISE] Returnal | Frustração e repetição são o suficiente para um bom jogo?

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A desenvolvedora finlandesa Housemarque, em parceria com a Sony, decidiu ousar em seu novo título, exclusivo do PlayStation 5. Responsável por jogos elogiadíssimos, como Resogun e Nex Machina, a empresa produz agora uma aventura em terceira pessoa de ficção com elementos de horror e que abraça um dos subgêneros mais difíceis: o roguelike.

Esta decisão afastará jogadores mais casuais, devido ao teor elevado de dificuldade. O que os jogadores podem esperar de Returnal?

História

Returnal traz a história da exploradora espacial da ASTRA, Selene Vassos. Desobedecendo ordens, Selene decide investigar um misterioso sinal de transmissão conhecido como “Sombra Branca” vindo do misterioso planeta Atropos, tido como desconhecido. Ao chegar na atmosfera do planeta, a nave de Selene sofre avarias graves, obrigando-a a fazer um pouso de emergência, perdendo contato com a ASTRA e vendo-se presa em um planeta hostil, onde deverá investigá-lo e procurar uma forma de sair de lá.

Explorando o planeta, Selene fica chocada ao deparar-se com cadáveres e gravações dela mesma, percebendo que ela está encontrando seus próprios restos mortais e chegando a uma terrível conclusão: cada vez que ela morrer, voltará desde o início do seu pouso forçado, presa no que parece ser um loop temporal.

Acontece que o mais curioso nessa história toda é que ela não repete exatamente o que aconteceu da última vez, já que apesar de ter perdido parte de seus itens e habilidades, a personagem renasce em um novo ponto do mapa, o que torna a nova jornada diferente da anterior.

A história de Returnal pode ser terminada entre 20 e 40 horas, dependendo bastante da habilidade do jogador e de como o fator de aleatoriedade do jogo irá influenciar o seu ciclo.

O jogo possui influências de Metroid, Alien de Ridley Scott e do terror cósmico de H.P. Lovecraft na arquitetura do planeta, criaturas e sua história. Essa combinação de fatores faz de Returnal um jogo único e com uma ambientação fantástica.

A estrutura narrativa de Returnal foge do convencional e pode afastar alguns jogadores conservadores, mas seus elementos de mistério brincam constantemente com a curiosidade, incentivando o jogador a continuar avançando em busca de respostas.

Jogabilidade

O jogo de ação em terceira pessoa abraça o subgênero roguelike, isto é, cada vez que o jogador morrer, ele será mandado para o início do jogo, perdendo suas armas e itens consumíveis, coincidindo com a estrutura narrativa do loop em que a protagonista se vê presa. Além disso, o mapa e a disposição dos itens mudarão. Ou seja, caso você tenha chegado longe no seu ciclo, conseguido boas armas e itens, e morrido, ao voltar para o início, você estará sem nada e sem saber o que te espera pelo mapa.

Por mais assustador e irritante que isso pareça, Returnal acaba tornando-se uma experiência viciante. Claro, ninguém quer morrer e voltar ao início, mas cada vez que isso acontece, o jogador se sente desafiado a tentar novamente e ver quais surpresas lhe aguardam.

Um dos maiores destaques do jogo é sua jogabilidade afiada, fluída e simples. Ao controlar Selene, o jogador contará com seu traje espacial, que lhe permite pulos mais altos, utilizar esquiva e se aprimorar equipando tecnologia alienígena para “evoluir” suas habilidades.

As armas são bem distintas e variadas, com modificações secundárias aleatórias que alteram seu funcionamento. A mesma arma poderá contar com um tiro secundário com mísseis perseguidores ou com lança-granadas, o que te deixa a pergunta: qual é a melhor? Aquela que o jogador se sentir mais confortável. O jogador carrega apenas uma arma por vez e conta com um golpe corpo a corpo, então deverá escolher seu equipamento com sabedoria.

Pelo cenário, o jogador encontrará consumíveis dos mais variados tipos, seja para curar ou bloquear projéteis. Inicialmente, apenas um pode ser carregado, mas à medida que for jogando, você encontrará itens permanentes que expandirão seu inventário. Há também fabricadores espalhados pelo mapa, mas como tudo é aleatório, nem sempre você os encontrará.

Ao morrerem, os inimigos derrubarão uma moeda chamada obólito, que permitirá o jogador trocá-los por itens consumíveis ou mais poderosos, como por exemplo uma misteriosa estatueta que permitirá ressuscitar do ponto onde morreu, sem voltar ao início.

O jogador também encontrará itens amaldiçoados e, cada vez que pegá-los, correrá o risco de sofrer uma avaria, que funciona de maneira semelhante a uma maldição. Uma delas, por exemplo, reduz o dano do seu ataque corpo a corpo pela metade e para removê-la, o jogo colocará uma condição aleatória, como por exemplo: coletar resinas ou matar 3 inimigos de uma vez.

Junto com o conceito de Selene incorporar artefatos alienígenas em seu equipamento, há também os misteriosos parasitas. Como o nome diz, são seres vivos do planeta Atropos que podem ser equipados no traje de Selene concedendo vantagens aleatórias. Um dos mais úteis que encontrei permitia curar vida ao coletar obólitos, fazendo a minha experiência menos dolorosa.

Mas, como seus nomes dizem, os parasitas também impõem uma condição negativa para o benefício que oferecem, implementando uma camada extra de desafio.

A ação de Returnal tem a identidade própria da Housemarque: prepare-se para confrontos frenéticos, explosivos e com tiros para todos os lados. Ficar parado é uma sentença de morte e o jogo constantemente te incentiva a continuar movimentando-se. À medida que você mata inimigos sem tomar dano, a adrenalina de Selene aumenta dando bônus variados, como por exemplo, coleta de obólitos melhorada e golpes corpo a corpo mais fortes.

Atropos é um planeta hostil e as criaturas que o habitam, impiedosas e com aparências criativas, são inspiradas nos seres que vivem nas fossas abissais dos oceanos e com toques generosos de Lovecraft, então, espere por alienígenas cheios de tentáculos e aparências exóticas.

Os confrontos com chefes são dificílimos e farão os jogadores arrancarem os cabelos de tanto ódio, principalmente chegando perto ao final da batalha e serem surpreendidos com golpes apelões de desespero. Felizmente, o jogador liberará atalhos que permitirão chegar aos chefes rapidamente, sem necessidade de explorar o mapa inteiro novamente.

Aspectos Técnicos

Graficamente, Returnal não impressiona, mas isso não quer dizer que seus gráficos sejam ruins, apenas que não estão nos níveis que os jogadores estão acostumados pelos padrões de exclusivos PlayStation. O destaque é a performance do jogo com resolução de 4K dinâmicos e 60 quadros por segundo. A taxa de quadros apresenta quedas raras, com algumas sendo perceptíveis, principalmente em mapas mais avançados. O SSD brilha com seus loadings velozes, evitando a frustração do jogador de ficar esperando carregamentos todas as vezes que morrer.

A trilha sonora e mixagem de som de Returnal são um trabalho fantástico e recomendo que você jogue com um fone com tecnologia 3D para poder perceber todas as nuances, permitindo uma imersão profunda. O Dual Sense contribui com efeitos interessantes que vão desde a nave de Selene caindo até os pingos de chuva no seu traje, com respostas táteis interessantes.

Returnal não lançou sem apresentar alguns problemas, incluindo o jogo fechando sozinho por erros desconhecidos. Não foi um problema tão raro, com diversos jogadores relatando o ocorrido, mas uma decisão polêmica da Housemarque causou a fúria de muitos: o jogo não possui salvamento automático durante os ciclos. Caso você esteja numa jogatina e precise interromper, precisará colocar o PS5 em modo repouso ou então, perderá todo progresso daquele ciclo. Caso o jogo apresente algum tipo de problema, você voltará ao início de tudo também.

A desenvolvedora lançou patches para tentar corrigir os problemas de crashes e diz que está estudando a sugestão dos salvamentos, mas não prometeu nada.

Considerações Finais

Returnal é um ótimo exclusivo do PlayStation 5, que foge dos padrões e procura atender um público diferenciado que busca uma experiência mais desafiadora. A história misteriosa, com temática de horror e ficção científica, atrairá jogadores casuais desavisados, mas tenha em mente isso: você passará muita raiva.

O jogo é a prova de que a Sony deve continuar investindo em jogos fora dos padrões, para construir um acervo variado para todos os gostos, tendo como exemplo a ousadia da Housemarque em investir no subgênero roguelike para produzir uma obra única e viciante.

*Agradecemos à Sony e a FSB Comunicação pela cópia cedida para review.