Brian Michael Bendis e o seu papel na medíocre Guerra Civil II

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Vinda no trem da empolgação pelo mais novo filme da Marvel Studios, aproveitando uma premissa usada por um dos maiores escritores de ficção científica da história e sob a batuta de um dos escritores mais respeitados pelo editorial da Casa das Ideias – Brian Michael Bendis – Guerra Civil II poderia ser uma mega-saga à altura de suas antecessoras (Guerras Secretas e Impasse). Poderia.

Após seis edições que mal se explicam por conta própria, construídas no ritmo mais arrastado e descomprimido possível, a saga se encaminha para um final previsível e já estragado pela própria Marvel (que lançou edições cronologicamente posteriores antes da conclusão da saga). E isso é, pelo menos em (grande) parte, culpa do Bendis, responsável por quatro dos títulos que compõem o evento, além da revista principal.

Se dezesseis anos atrás o estilo do roteirista surpreendia, hoje, após o uso excessivo de suas particularidades até a exaustão, ele parece incapaz de tirar um novo truque da cartola. Não que ele não seja bom em determinados aspectos. Com liberdade criativa e espaço o suficiente, o escritor já provou ser capaz de trazer excelentes trabalhos como Alias, Demolidor e Homem-Aranha Ultimate. O problema foi crescer demais.

Em títulos de vitrine (especialmente os de grupos) que vendem às centenas de milhares de unidades e recebem os holofotes o tempo inteiro, não existe tempo para construção ou desenvolvimento que não sejam sincronicamente alinhados com grandes quadros de ação e progressão rítmica. O mercado não tem espaço para um título que leve seis edições de desenvolvimento descomprimido e praticamente diálogo puro que leva do nada a lugar nenhum.

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Escolha o seu lado. Ou não.

Ainda assim, ele segue abrindo mão da continuidade e da caracterização dos personagens que não sejam seus para fazer qualquer coisa que dê na telha. É triste, especialmente em suas histórias de equipe, ver diferentes personagens agindo como uma mente de colméia, com diálogos que não parecem fazer parte de uma conversa entre duas ou mais pessoas e sim de um monólogo expositivo e maçante, com a única função sendo movimentar a trama ao gosto dele.

Bendis parece ter se viciado em dar destaque aos heróis de sua autoria e em transformar os que não são em seus. Se cada vez mais vemos um Peter Quill distante de qualquer coisa que lembre sua personalidade original, também testemunhamos ele literalmente parar uma edição de Guerra Civil II para nos mostrar como sua nova personagem, Riri Williams, é maneira. Tudo bem que ela é maneira, mas sério: Pra quê?

Os balões de diálogo característicos do escritor.

Não apenas isso, seu evento não parece planejado para dialogar com os outros títulos que dele fazem parte e sim depender deles. O papel das revistas adjacentes é, basicamente, de explicar as motivações por trás de cada escolha que o autor não parece se importar em justificar na parte principal. Pior: Os próprios acontecimentos são distorcidos para que a história ocorra de sua maneira, restando aos outros escritores tentar se encaixar nesse louco status quo que o escritor tenta estabelecer.

Bendis já se mostrou excelente com personagens urbanos, especialmente quando são de sua autoria como os dois Homens-Aranha do Universo Ultimate ou a Jessica Jones. Mas quando se trata de grandes títulos que dialogam de imenso com a continuidade do universo Marvel e seus acontecimentos, o escritor falha cada vez mais em apresentar um trabalho consistente e que atenda as necessidades do mercado. A pergunta é: Até quando?