Conhecendo Eve Ewing, a escritora que deu à Coração de Ferro uma alma e um propósito

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Se você entrar no site da escritora Eve Ewing, será saudado ou saudada por uma citação da Chicago Magazine que, numa tradução livre, diz o seguinte:

“Ignore Eve Ewing por sua conta e risco intelectual, político e cultural.”

Lendo seus primeiros trabalhos com quadrinhos, publicados recentemente pela Marvel, é bem difícil discordar dessa afirmação. Lendo os seus outros trabalhos, é impossível.

Escritora, professora e doutora em sociologia da educação (entre outras coisas), Eve Ewing direciona a sua carreira para temas pedagógicos, além do racismo, da desigualdade social e das políticas públicas, além dos seus impactos na vida dos jovens. Não é à toa que o seu primeiro trabalho é com uma das maiores (e mais jovens) promessas do Universo Marvel: a Riri Williams, t.c.c. Coração de Ferro.

Criada por Brian Michael Bendis em 2016, a personagem foi alvo de muitas polêmicas desde cedo. Grande parte delas foi criada por pessoas que não admitiam que o Homem de Ferro tivesse uma sucessora – o que não é, nem de longe, inédito na carreira do personagem – e que provavelmente nem liam os gibis. Essas polêmicas, nós podemos ignorar.

Porém, existiram várias críticas pertinentes ao contexto de criação da personagem. Dentre as mais relevantes, cito um trecho escrito pela ilustradora Olivia Stephens, no site Women Write About Comics, na época do anúncio de Riri Williams:

“Embora seja um bom começo ter pessoas de cor como protagonistas, é só isso: um bom começo. É difícil, como uma mulher negra que trabalha com quadrinhos, ficar muito alegre com a Riri, sabendo que não existem mulheres negras participando da história dela, seja na escrita ou na arte. Mulheres negras são tão ignoradas a respeito da nossa própria caracterização em mídias populares que ficamos desconfiadas quando vemos um projeto usar nosso rosto, mas não nossas habilidades.”

Diante dessas críticas, a escolha de Eve Ewing para construir a mitologia da personagem a partir de agora não é uma coincidência. É uma medida mais do que necessária.

Mas engana-se quem se atreve a pensar que a escritora foi escolhida só pela cor ou pelo gênero. Além de ser uma escritora de sucesso, compatível com a tendência atual da Marvel de trazer romancistas para as suas fileiras (vejam o sucesso que nomes como Ta-Nehisi Coates vêm fazendo na editora), Eve é uma grande fã de quadrinhos e de super-heróis. Filha de um cartunista, ela sempre sonhou em publicar seus próprios gibis.

Assim como a também novata na Marvel, Tini Howard, que lançou mão do Devastador na sua estreia (ROCK ‘N’ ROLL, BABY), Eve Ewing é amante dos clássicos. Como antagonista do seu primeiro arco na revista da Coração de Ferro, ela escolheu outro personagem das antigas: O Fogo Noturno (alô, leitores de formatinhos do Aranha e dos Novos Guerreiros, vocês devem lembrar dele).

E, segundo a autora, a escolha foi feita sob medida para os seus objetivos:

“Um dos maiores problemas [de enfrentar o Fogo Noturno] é que a Riri não é uma boa lutadora no corpo-a-corpo, ela sempre tenta tomar distância e atirar nos inimigos. Esse é, basicamente, o poder dela. E como isso vai funcionar contra um ninja de elite que pode se transportar, é rápido e prevê seus movimentos?

É muito divertido criar esse tipo de luta.”

Quem a vê comentando casualmente sobre lutas de personagens de quadrinhos, pode até esquecer do trabalho social que a escritora faz, e das causas que defende. Contudo, mesmo sem abrir mão da clássica ação de super-heróis, suas primeiras edições pela Coração de Ferro exploram temas como a saúde mental dos jovens e a exploração infantil.

O sucesso da sua escrita também já permitiu que ela escrevesse dois dos maiores queridinhos da Marvel de uma só vez. Na sua primeira edição de “Marvel Team-Up”, Eve traz o reencontro do Homem-Aranha com a Ms. Marvel, num formato leve e divertido.

Para uma escritora tão promissora no mundo dos quadrinhos, o céu é o limite. Talvez até literalmente, já que ela afirmou querer escrever a Tempestade algum dia… só podemos aguardar, enquanto curtimos seus trabalhos maravilhosos.