[CRÍTICA] Ad Astra: Rumo às Estrelas | Uma jornada espacial solitária

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Quando anunciado originalmente em 2016, Ad Astra prometia ser a representação mais fiel de uma viagem ao espaço já feita – e o seu título não foi escolhido a toa. A expressão foi retirada da epopeia Eneida de Virgílio, da linha “sic itur ad astra” que na tradução seria “por caminhos árduos rumo às estrelas” e não poderia descrever melhor o novo trabalho de James Gray.

Insatisfeito com o resultado final, o diretor tomou a decisão arriscada, porém acertada, de adiar o filme e investir mais nos efeitos especiais, para tornar a experiência mais realista. A trama densa e filosófica conta com Brad Pitt entregando umas das melhores atuações de sua carreira.

No futuro próximo, a humanidade dominou as viagens espaciais. O lendário astronauta H. Clifford McBride, interpretado por Tommy Lee Jones, foi o primeiro homem à chegar em Júpiter e Saturno, sendo um herói celebrado pelas missões bem-sucedidas ao espaço profundo.

Devido a sua competência, Clifford é escolhido para liderar o ambicioso Projeto Lima, em que ele iria junto com um time até a órbita de Netuno, além da influência da radiação solar, para verificar traços de existência extraterrestre no universo. Após o desaparecimento da equipe e a perda de contato com a Terra, a missão é dada como um fracasso com seus integrantes todos mortos.

Algum tempo depois, estranhos pulsos de energia começam a atingir a Terra, causando um destruição catastrófica. Somos apresentados então ao Major Roy McBride, interpretado por Brad Pitt. Roy é um astronauta membro da força militar espacial, famoso pela sua calma diante de situações de perigo e seu foco inabalável durante as missões. Ele se fechou das relações humanas devido à sua dedicação ao trabalho, distanciando-se até de sua esposa, interpretada por Liv Tyler.

Os pulsos destrutivos são rastreados e têm sua origem identificada: o local de origem do Projeto Lima. Neste momento, Roy vê a possibilidade do seu pai estar vivo e sendo responsável por tudo, dando início à sua jornada incerta para salvar o planeta Terra.

Por mais que Roy tenha uma missão seríssima em que o futuro do planeta está em suas mãos, ele acaba sendo obrigado a lidar com um contratempo inesperado em sua missão: ele mesmo.

O astronauta inabalável não é realmente aquilo que ele demonstra, é tão problemático quanto qualquer ser humano. Aos poucos, iremos entender mais dos seus traumas e veremos como a descoberta de segredos sombrios irá atingir seu estado psicológico.

A atuação de Brad Pitt é fenomenal com o ator ocupando a tela na maior parte das vezes com suas reflexões e mágoas por meio de monólogos, transmitindo suas emoções de forma transparente e tocante. Nessa jornada dramática de autoconhecimento, entenderemos mais da relação passada com seu pai e como ela o impactou para que ele venha a ser quem é hoje – e vale destacar que na relação pai e filho, Tommy Lee Jones entrega uma atuação impecável tendo uma química excelente em tela com Pitt.

Visualmente, Ad Astra é uma das obras mais impressionantes da atualidade. Os filtros cromáticos para ilustrar os diferentes planetas permitem um show de cores belíssimo. Nas cenas de tensão, o diretor consegue produzir sequências interessantes com ângulos desesperadores, utilizando a perspectiva do protagonista, transmitindo a angústia ao espectador.

Nos momentos de diálogos mais introspectivos, o foco fica em Brad Pitt, de forma próxima, criando uma sensação melancólica e solitária, que contribui para a atmosfera de desolação do filme.

Na parte sonora, o trabalho é bem competente, com a trilha contribuindo para o clima de solidão espacial, tendo seus pontos altos nos momentos mais dramáticos.

Por mais ambicioso que seja tecnicamente e com atuações impecáveis, o filme peca justamente no seu roteiro. Embora a jornada do personagem de Brad Pitt seja complexa, diversos elementos são pouco explorados e a própria conclusão de sua missão que deveria ser importantíssima têm um desfecho extremamente anti-climático. A sensação que passa é que o filme merecia mais alguns minutos para o fechamento de arcos lançados durante a trama.

Ad Astra é uma boa escolha não só para os amantes de ficção científica, mas também para aqueles que gostam de um filme mais sofisticado e envolvente. É gratificante ver Brad Pitt fechando o ano de 2019 com chave de ouro em mais uma atuação memorável após Era Uma Vez Em Hollywood. Por mais que o ritmo seja um pouco lento e com uma abordagem mais reflexiva, a trama consegue instigar a curiosidade do espectador, mesmo que a conclusão deixe a desejar.