Desde o final de WandaVision, que culminou nos eventos de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, a Marvel tem explorado a magia de maneira cada vez mais ousada. Em Agatha Desde Sempre, o estúdio surpreende ao elevar o nível da narrativa ao abordar questões LGBTQIAPN+ de forma mais explícita e o papel das bruxas de maneira que desafia o estilo tradicionalmente “sanitário” da Disney.
Sob a direção de Rachel Goldberg, Gandja Monteiro e Jac Schaeffer, a série não só expande o universo mágico do MCU, mas faz isso com uma profundidade visual e emocional que merece destaque.
A evolução do MCU
Desde 2008, a Marvel constrói seu Universo Cinematográfico, um projeto ambicioso que culminou em filmes extremamente aclamados e bem-sucedidos, revolucionando o cinema de super-heróis como conhecíamos.
14 anos depois, muito mudou nesse universo, com a Marvel deixando de lado a fundamentação “realista” para explicar a existência de deuses nórdicos e abraçando a galhofa e o misticismo dos quadrinhos em sua essência.
Depois de tantos filmes e séries, o Marvel Studios começou a entregar uma série de produções que não fizeram tanto sucesso e começamos a nos questionar se a era dos super-heróis havia chegado ao seu limite. Felizmente, Agatha Desde Sempre mostra que ainda é possível explorar esse universo de uma maneira interessante.
Talvez o maior trunfo de Agatha Desde Sempre seja seu distanciamento do padrão Marvel, especialmente em relação à violência e ao terror psicológico. A série não hesita em mostrar cenas de sangue e, em alguns momentos, adota uma abordagem brutal, raramente vista no universo da Marvel. Isso, aliado à exploração de relações LGBTQIAPN+ da forma certa e à profundidade nas personagens, dá à série uma coragem inédita, abrindo espaço para uma narrativa mais adulta e menos previsível.
Ainda que essa seja uma série da Agatha Harkness em sua essência, o retorno de Billy Maximoff e sua apresentação como Wiccano, interpretado por Joe Locke, também pavimenta o caminho para histórias futuras com uma abordagem mais inclusiva e consciente.
Um elenco estelar faz parte de Agatha Desde Sempre
Kathryn Hahn retoma o papel de Agatha Harkness com o mesmo carisma e intensidade que conquistaram os fãs em WandaVision. Ela domina a tela com sua atuação, trazendo complexidade e camadas de humor e obscuridade à personagem.
A produção consegue não só desenvolver melhor a personagem a ponto de entendermos mais de seu passado e os motivos que fizeram com que ela se transformasse em uma vilã, mas o roteiro aproveita o talento de Hahn ao máximo, fazendo com que o espectador passe a amá-la e odiá-la na mesma intensidade.
Ao seu lado, a veterana Patti LuPone rouba a cena como Lilia Calderu, uma figura enigmática e poderosa, cuja presença intensifica o drama da trama.
Quem também se destaca é a estonteante Aubrey Plaza, personagem que faz par romântico com Hahn, mas que desempenha um papel muito maior na trama, podendo inclusive redefinir o futuro do MCU.
Embora Joe Locke desempenhe bem o papel de Billy Maximoff, ou Wiccano, ele acaba sendo ofuscado pelo talento das veteranas ao seu redor. O elenco feminino, cada uma com uma faceta única de bruxaria, traz um equilíbrio fascinante entre força e vulnerabilidade, elevando a produção.
Agatha Desde Sempre traz narrativa e edição triunfais
A narrativa de Agatha Desde Sempre é bem construída, aproveitando o desenvolvimento dos eventos e personagens vistos em WandaVision. O roteiro combina a mística do paganismo e as referências à bruxaria com temas modernos e universais, como o pertencimento e o poder feminino.
A edição equilibra bem os momentos dramáticos com cenas de ação e suspense, tornando a série envolvente e com um ritmo equilibrado. Não há pressa em introduzir cada elemento da trama, o que permite ao público absorver a atmosfera e mergulhar na complexidade dos personagens.
O episódio dedicado a Lilia Calderu é simplesmente uma obra-prima, trazendo o conceito de viagem no tempo de uma forma sem arestas e que prende a atenção do espectador do começo ao fim.
A bruxaria por trás das câmeras
Visualmente, Agatha Desde Sempre impressiona. A fotografia da série aposta em tons sombrios e nuances místicas, evocando uma atmosfera que flerta com o terror. Cada quadro parece pensado para intensificar a aura misteriosa que cerca as bruxas e seus rituais, ajudando a imergir o público nesse universo antigo e poderoso.
A direção, comandada pelo trio Goldberg, Monteiro e Schaeffer, explora esse lado sombrio com coragem, aproveitando-se de ângulos menos convencionais e de uma mise-en-scène que realça o simbolismo oculto de cada cena.
A estética gótica se funde com referências claras a outras representações icônicas de bruxaria na cultura pop, criando uma identidade visual marcante e cheia de alma.
Bruxas também se vestem bem
O figurino merece uma menção especial: cada traje reflete a personalidade e a história das bruxas, resgatando elementos tradicionais de várias culturas místicas.
A personagem de Hahn, por exemplo, veste peças escuras, detalhadas e ricas em textura, que simbolizam sua conexão com o poder e a tradição de sua linhagem.
Enquanto isso, Joe Locke aparece com uma representação fiel do Wiccano nos quadrinhos, o que certamente é um alívio para os fãs do personagem. Para falar a verdade, a Marvel vem acertando bastante nas caracterizações dos personagens e Agatha Desde Sempre é uma evolução do que já vinha sendo feito.
O veredito
Agatha Desde Sempre é um acerto da Marvel, que se arrisca ao trazer uma série com identidade própria, estética e narrativa maduras, sem perder a conexão com o universo dos quadrinhos.
Em meio a críticas a recentes produções da Marvel, a série surge como respiro no melhor sentido, encantando tanto pelo visual quanto pelo conteúdo.
O equilíbrio entre entretenimento e drama faz de Agatha Desde Sempre uma série indispensável para os fãs do MCU e para quem aprecia histórias de bruxaria e empoderamento feminino.