Depois de toda a incerteza deixada por Liga da Justiça, muitos estavam céticos quanto ao lançamento do primeiro filme solo do Aquaman, já que, enquanto esteve como um dos integrantes da icônica equipe de super-heróis, o herdeiro do trono de Atlântida interpretado por Jason Momoa, não conseguiu cativar tanto os fãs e mostrar que estava apto para segurar um filme solo, contudo, parece que estávamos errados e o maior problema do personagem se deu por conta dos diretores e do roteiro de Liga da Justiça.
Em Aquaman, acompanhamos a história de Arthur Curry, um homem que nasceu de uma relação proibida entre uma atlante e um humano. Conforme dito inúmeras vezes, o filme solo do Aquaman bebe da fonte criada por Geoff Johns e Ivan Reis, durante o arco Novos 52 do quadrinho do personagem, mas o que não sabíamos, é que o diretor James Wan conseguiria transmitir de forma tão perfeita a narrativa e os visuais dos quadrinhos para as telonas.
Wan, que esteve empenhado na produção por muito tempo, mostra toda a sua versatilidade e competência por trás das câmeras, nos entregando uma aventura impressionante, que eleva o nível das produções cinematográficas baseadas em personagens da DC Comics à enésima potência. Assim como o diretor cumpre sua parte com maestria, o elenco recheado de grandes talentos também mostra que não brinca em serviço.
Embora Jason Momoa fosse uma das maiores preocupações de basicamente todo mundo que conhece um pouco da carreira do ator, Momoa mostra que evoluiu e que consegue sim segurar bem um filme solo e, quem sabe, até mesmo uma franquia inteira do Aquaman. Deixando de lado o jeito afetado e esquizofrênico visto em Liga da Justiça, Momoa consegue cumprir com sucesso a jornada do herói proposta pela produção, chegando ao final da trama como o verdadeiro Rei de Atlântida e mostrando que está pronto para chamar o Reino Submarino de lar.
Além de Momoa, quem se destaca muito é a estonteante Amber Heard, que vive a Princesa Mera, que também pode ser traduzida como uma Pequena Sereia que ganha vida. Heard, que também havia sido apresentada em Liga da Justiça, ganha espaço para um desenvolvimento melhor, bem como momentos de pleno destaque, onde pode mostrar seu verdadeiro potencial, deixando os expectadores ávidos por mais.
Fica difícil elogiar todos os personagens coadjuvantes, já que, todos eles estão impecáveis em seus papéis e se encaixam como uma luva na trama, sem contar os antagonistas, vividos por Patrick Wilson e Yahya Abdul-Mateen II, que nos entregam vilões dignos de comparações com Loki e Killmonger dos filmes da Marvel.
O maior trunfo de Aquaman talvez seja a simplicidade de sua trama. Embora os roteiristas Will Beal e David Leslie Johnson tenham de amarrar muita coisa na trama, ela se conta de modo fluído e não deixa o espectador confuso, pelo contrário, surpreende e muito por sua linearidade ao contornar eventos do passado, presente e até mesmo deixar ganchos para o futuro. Sendo assim, temos uma aventura muito divertida e que sabe dosar os momentos dramáticos e cômicos, deixando espaço até mesmo para alguns toques de terror, que denotam a assinatura única de James Wan.
Por mais que o ritmo inicial da trama seja um pouco lento, o momento pode ser encarado como a calmaria antes da tempestade, já que, do segundo ato em diante, o filme fica tão frenético que você se sentirá em meio a um tsunami de lutas bem coreografadas, efeitos visuais de cair o queixo e um reino submarino dos quadrinhos que ganha vida diante de seus olhos.
Assim como Patty Jenkins fez com Mulher-Maravilha, James Wan conseguiu transformar o Aquaman de um herói secundário em um dos personagens mais importantes da DC nos cinema, fazendo do público os súditos desse herói que foi marginalizado por tanto tempo.
Aquaman é um tiro certeiro da DC nos cinemas e uma bela correção de curso para o início desastroso desse universo cinematográfico. Embora o longa ainda conte com uma ou outra referência ao filme da Liga da Justiça, fica bem claro que o objetivo principal era contar uma história do Aquaman, sem que ele tivesse que se preocupar em como isso afetaria o restante dos super-heróis e isso foi alcançado com louvor.
Os poucos deslizes visuais avistados acabam sendo sobrepujados por uma verdadeira aula de como se fazer uma batalha épica embaixo d’água. Desde o movimento dos cabelos, à comunicação submarina dos personagens que não precisa de uma bolha, tudo funciona perfeitamente bem e nos deixa maravilhados com a quantidade de elementos e criaturas que foram desenvolvidas para um filme introdutório, algo que também pode ser um pouco preocupante, já que nos perguntamos como eles conseguirão superar isso em uma possível sequência.
O maior defeito do filme talvez aconteça na cena inicial, onde vemos um flashback entre a Rainha Atlanna (Nicole Kidman) e Tom Curry (Temuera Morrison), no qual a produção usa dos já tradicionais recursos de rejuvenescimento digital. Se por um lado a Marvel consegue fazer com que Michelle Pfeiffer e Michael Douglas pareçam ter voltado no tempo, por outro, a DC mostra que ainda precisa evoluir um pouco mais nesse quesito, mas não se preocupe, isso não afeta em nada a sua experiência e como dito anteriormente, tudo o que vem a seguir redime esse pequeno deslize.
Aquaman é uma revista em quadrinhos que ganha vida, contando com inúmeros elementos que irão deixar o coração dos fãs palpitando e cenas que deixarão todo mundo de queixo caído. Se Aquaman é o modelo de padrão de qualidade que a DC deve seguir daqui em diante, não irá demorar muito para que a Marvel tenha uma concorrente à sua altura nas telonas.
Aquaman chega aos cinemas brasileiros em 13 de dezembro de 2018.