[CRÍTICA] Cidade de Deus: A Luta Não Para evolui os dramas do filme

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Cidade de Deus: A Luta Não Para, a nova série da HBO, chega como uma ambiciosa sequência do icônico filme de Fernando Meirelles e Kátia Lund de 2002. Carregando o peso de uma das obras mais influentes do cinema brasileiro, a série não só expande o universo retratado no filme, mas também oferece uma crítica social sobre os problemas atuais das favelas cariocas, especialmente o tráfico, a milícia e a corrupção política.

Uma continuação necessária e contemporânea

Buscapé com a sua câmera em Cidade de Deus: A Luta Não Para

A premissa da série, ambientada 20 anos após os eventos do filme original, coloca os personagens sobreviventes e novos rostos em destaque, todos interligados pelos mesmos dilemas que assombram a comunidade da Cidade de Deus. Se no filme de 2002 a narrativa frenética e visceral nos apresentou uma realidade brutal sobre a vida nas favelas, A Luta Não Para se aprofunda em temas como o impacto contínuo da violência, a manipulação política e o controle das comunidades pelo crime organizado.

O protagonista Wilson, mais conhecido como Buscapé (Alexandre Rodrigues), retorna como um fotojornalista bem-sucedido, mas desgastado pelas imagens de morte e violência que pavimentaram sua carreira. Ele agora enfrenta um dilema ético central: seu papel na perpetuação da miséria através da lente de sua câmera. A série explora a relação entre a mídia e a favela, questionando como a violência e a pobreza são vendidas para os espectadores de classes mais altas. A personagem Leka, sua filha (Luellem de Castro), simboliza uma nova geração que desafia o conformismo, refletindo a desconexão de Buscapé com sua comunidade e com sua própria identidade.

O jogo de poder e manipulação

Bradock e Jerusa

Conforme a narrativa avança, a série realmente brilha ao alinhar política e corrupção como temas centrais. A série não trata apenas de traficantes e policiais, mas também de figuras poderosas como Cabeção (Kiko Marques), agora Secretário de Segurança Pública, que utiliza a violência nas favelas como ferramenta para promover suas ambições políticas. Essa dinâmica política faz uma crítica direta à relação complicada e muitas vezes obscura entre o Estado, o crime organizado e as comunidades periféricas.

A série dá destaque para a manipulação política nas mãos de Jerusa (Andreia Horta), uma mulher que não hesita em usar a força bruta de Bradock (Thiago Martins), novo dono do morro, para alcançar seus objetivos. O arco de Jerusa se destaca por sua complexidade, transformando-a em uma figura intrigante, cujo desejo pelo poder a coloca no centro do caos que domina a Cidade de Deus. A narrativa, ao colocá-la no comando, também reforça a presença feminina em uma história tradicionalmente dominada por homens.

Personagens que evoluem

Berenice, Barbantinho e Buscapé

Cidade de Deus: A Luta Não Para acerta ao dar espaço para personagens que, no filme, eram coadjuvantes ou pouco explorados. Berenice (Roberta Rodrigues), por exemplo, emerge como uma personagem crucial, simbolizando a resistência e a luta das mulheres da comunidade. De namorada de um criminoso no filme original, Berê agora se transforma em uma liderança política. A transição de Berê é uma das mais impactantes da série, e Roberta Rodrigues entrega uma atuação comovente, trazendo profundidade e camadas à personagem.

Por outro lado, Bradock, que deveria ser o grande vilão da série, tem seu arco final um tanto subaproveitado, com sua ameaça sendo diluída conforme os episódios se aproximam do desfecho. Ainda assim, sua dinâmica com Jerusa e sua trajetória de violência são elementos cruciais para manter a tensão elevada durante boa parte da temporada.

Estilo e ritmo narrativo

Buscapé correndo para fotografar

A série acaba se perdendo na edição ao trazer cenas com cortes secos e sequências que parecem não ter o tempo necessário para desenvolver adequadamente a trama ou os personagens. Isso cria a impressão de uma direção um tanto apressada e sem foco em alguns episódios, como se estivesse tentando cobrir terreno demais em um espaço curto de tempo.

Além disso, algumas subtramas não levam a lugar nenhum, como o arco de Leka, a filha de Buscapé, que tem um potencial interessante mas acaba sendo mal explorado. A falta de desenvolvimento em histórias como essa deixa o espectador com a sensação de que certos elementos foram inseridos sem um propósito claro, prejudicando o impacto geral da série.

Conclusão

Cidade de Deus: A Luta Não Para é uma sequência à altura do legado deixado pelo filme de 2002. Embora não tenha o mesmo impacto inovador do original, a série expande o universo da Cidade de Deus de forma inteligente, trazendo discussões relevantes e contemporâneas sobre a realidade das favelas brasileiras. Com grandes atuações, uma crítica social bem afiada e uma trama que mistura violência e política, a série se destaca como uma das mais importantes produções nacionais dos últimos anos.

RESUMO DA CRÍTICA
Direção
Roteiro
Trilha Sonora
Efeitos Especiais
Atuação
Edição
Figurino
Fotografia
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Uma vez recebi 5k de um pagamento, eu cuidei em gastar antes que aparecesse algum imprevisto, por essa a vida não esperava!