[CRÍTICA] Eternos | Devagar, mas funciona

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A maior promessa de Eternos é, além de introduzir novos personagens que o público geral não conhece, assim como aconteceu em Guardiões da Galáxia, mostrar novos conceitos que vão ser abordados no futuro do Universo Cinematográfico Marvel.

A vencedora do Oscar, Chloé Zhao, assumiu essa responsabilidade de expandir esse universo e foi além: concedeu uma identidade única para a produção de um universo cujos filmes são formulaicos e podem ser bem parecidos quando comparados.

O jeitão Marvel Studios de trazer histórias dos quadrinhos para o cinema abraçou um formato que é bastante funcional porém acomodado. Em filmes de origem de personagens, temos a impressão de que as estruturas funcionam de forma parecida e que somente há a mudança dos protagonistas e as ambientações, embora sejam claramente diferentes em vários quesitos.

Mas Eternos é um pouco diferente, seja pelas técnicas de fotografia utilizadas, cenários mais orgânicos, dispensando em maior parte os paredões verdes de chroma key, e uma narrativa que escala com calma. O problema é que essa calmaria talvez tenha sido um pouco exagerada.

Os Eternos são uma raça criada pelos Celestiais com o intuito de combater os Deviantes, formas de vida maligna que se alimentam de vida inteligente pelo cosmos. Os heróis aqui – que apenas seguem um propósito que lhes foi dado – chegam ao nosso planeta milhares de anos no passado para proteger a humanidade dessas criaturas. Isso faz com que eles participem de alguns eventos importantes ao longo da história, mas sem interferir no andamento deles.

E é aí que mora o conflito de ideais entre a equipe, já que alguns querem interferir por empatia e outros somente querem seguir as ordens do celestial Arishem, responsável por criá-los. Acontece que eles também estão mais perdidos do que cego em tiroteio.

Eternos soma ao universo Marvel com uma história mais filosófica sobre conflitos de interesses e fé naquilo que se acredita, mesmo que certas partes de um propósito sejam omitidas.

O foco aqui com certeza é o amadurecimento necessário para o MCU, servindo como uma analogia para o crescimento daqueles que acompanharam esse universo desde o princípio e que agora está pronto para testemunhar temas mais complexos, inclusive apresentando a primeira relação sexual entre personagens.

Claro que o filme tem elementos básicos de filmes de super-heróis, pois é necessário para se comunicar com o público-alvo, inclusive com cenas de encher os olhos como as batalhas aéreas de Ikaris (Richard Madden) ou Makkari (Lauren Ridloff) usando sua supervelocidade. Temos também as esperadas referências aos Vingadores, bem como menções a heróis da editora concorrente, com personagens sendo comparados ao Superman e ao Batman, por exemplo.

O longa é riquíssimo, mas sofre com um pequeno problema que é o ritmo. Inicia-se rápido demais logo depois passa a se arrastar com algumas cenas um pouco extensas, que poderiam ser comprimidas. Mas é exatamente aí que mora a ideia da contemplação dos temas mais filosóficos, o que pode fazer com que o público que está acostumado com a ação frenética e momentos mais dinâmicos acabe estranhando a estrutura, pois é necessário uma calmaria absoluta para que a ideia de seriedade seja transmitida.

Eternos é traduzido dos quadrinhos do passado para o cinema atual e, sem dúvidas, uma expansão absurda ao UCM, apresentando de forma bem mais competente o lado cósmico da editora. Mesmo que sem todas as cores fortes e incríveis de Jack Kirby, o longa traz a importância das cores da diversidade e representatividade.

O ritmo é lento, mas mesmo assim ainda pode agradar e servir de pontapé inicial para boas melhorias.