Um filme que se inicia ao som de “It’s a Man’s Man’s Man’s World” de Etta James, com um belíssimo enquadramento noturno de Nova York nos anos 70, não poderia ter como premissa algo menos representativo que o empoderamento feminino. E quem leu a HQ da DC/Vertigo em que a história é baseada, sabe exatamente que é disso mesmo que The Kitchen: Rainhas do Crime se trata.
A história gira em torno de três esposas que veem seus maridos criminosos serem condenados à uma sentença mais longa do que estão acostumados e se vendo obrigadas a assumir seus papéis no submundo de gangues de imigrantes do bairro de Hell’s Kitchen, para sobreviver sem eles nesse meio tempo. E é justamente nisso que a trama aposta e acerta, apesar de alguns tropeços.
Trazendo uma atmosfera setentista com ambientação impecável, a começar pela trilha sonora, contendo nomes como Lynyrd Skynyrd, Kansas e Fleetwood Mac, a diretora Andrea Berloff conseguiu encaixar Melissa McCarthy e Tiffany Haddish (que inclusive merece destaque), humoristas natas, em papéis com cargas dramáticas extremamente exigentes, elevando suas atuações a um novo patamar. Enquanto isso, Elizabeth Moss, que vem direto da série O Conto da Aia, que interpreta a mais sofrida e interessante das três, continua sabendo lidar com papéis dessa linha.
Com suas vidas viradas de cabeça para baixo após a prisão de seus cônjuges, as três mulheres precisam traçar seus novos objetivos de vida, porém, diferentemente de seus maridos, elas miram em metas mais concretas e importantes, para que seus esforços possam durar, o que acaba servindo como uma espécie de lição de moral e mensagem principal do longa. O poder feminino representado e a habilidade intelectual sendo usada a favor delas, além da busca por superação perante uma sociedade predominantemente machista e desrespeitosa, acaba equivalendo a um leve tapa na cara da audiência, tanto por conta das atitudes das protagonistas quanto por suas falas e frases de efeito.
Apesar de uma boa premissa, Berloff pecou um pouco em adaptar os quadrinhos mais adultos publicados sob o selo Vertigo, tornando o ritmo acelerado um pouco incômodo em algumas sequências, que acabam sendo rápidas demais e sem muito peso emocional ou desenvolvimento.
Rainhas do Crime aborda algumas reviravoltas interessantíssimas através de um importante empoderamento feminino de maneira natural, que se comunica tanto com as mulheres quanto com homens. Apesar de seu ritmo um tanto quanto esquizofrênico e a falta de profundidade em alguns momentos, o longa irá te arrancar alguns sorrisos, principalmente pelas boas sacadas de humor ou pelo orgulho que você sente das personagens.