[CRÍTICA] Star Wars: A Ascensão Skywalker | Abraçando a nostalgia

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Star Wars é uma das franquias mais amadas e lucrativas da história do entretenimento. Criada em 1977 por George Lucas, apresentou uma aventura espacial cheia de personagens marcantes que caíram nas graças do público, além dos efeitos especiais incríveis que revolucionaram o cinema. Inicialmente planejada como uma única trilogia, encerrou em 1983 com “O Retorno de Jedi”. A nova trilogia, iniciada em 2015, mostrou que o universo novamente, 30 anos depois, está em perigo com a poderosa Primeira Ordem erguendo-se das ruínas do Império e os sobreviventes precisando formar a Resistência, para combatê-los de frente, apresentando novos personagens e o retorno de veteranos como Han Solo e Leia.

“O Despertar da Força” foi um sucesso de crítica especializada e bilheteria, mas foi impossível não notar como o diretor J. J. Abrams decidiu abraçar a nostalgia fazendo um filme bem semelhante a “Uma Nova Esperança”, jogando de forma bem segura para agradar aos fãs. Em 2017, o segundo capítulo da franquia foi lançado, contando com a direção de Rian Johnson. “Os Últimos Jedi” também foi um sucesso de bilheteria e crítica especializada, mas causou grande discordância entre os fãs pelas decisões ousadas de Rian em como conduzir a história, principalmente na representação do herói veterano Luke Skywalker, queridinho dos fãs. É fato que o diretor quis apostar alto e não preocupou-se em manter tradicionalismos, querendo levar a franquia em caminhos ainda não explorados. Na última Quinta-Feira (19), o último capítulo da trilogia foi lançado. Chamado de “A Ascensão Skywalker”, o filme tem a ambiciosa missão de concluir a história da família espacial mais conturbada do cinema e como estamos falando de encerrar uma história com 42 anos de existência, as expectativas (e preocupações!) foram jogadas novamente no teto. Para este encerramento, tivemos o retorno de J. J. Abrams.

Assistindo ao filme, é inegável a sensação de que o roteiro de J. J. Abrams e Chris Terrio tem duas intenções claras: agradar aos fãs e consertar o que eles consideram um erro do filme anterior. Do ponto de vista narrativo, essa decisão pode agradar os mais nostálgicos mas acaba fazendo com que o diretor precise sacrificar desenvolvimento de outros personagens para sobrescrever decisões do filme anterior, como o mistério dos pais de Rey. Além disso, o roteiro precisa apoiar-se na comodidade constante, afinal não há tempo para explicar muitas coisas, sendo um filme que apoia-se nos pilares já estabelecidos pela franquia.

Entretanto, essa decisão acaba sendo uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo que o filme soa familiarmente divertido aos clássicos, ele não tem muita de coisa nova a oferecer, fazendo com que o diretor acabe limitado criativamente, escolhendo soluções que beiram o milagre e facilidades para resolver complexidades da história. O enredo conta com um ritmo bem acelerado, com fatos acontecendo constantemente e apresentando novos personagens. Justamente pela velocidade da trama estes estreantes, por mais interessantes que pareçam, não conseguem destacar-se e dificilmente o público criará algum vínculo eles, servindo apenas para arrancar eventuais risadas ou vender bonecos. Um grande exemplo disso são os estilosos e imponentes Cavaleiros de Ren que pouco adicionam à trama e apenas servirão para uma linha de coleção de action figures.

Do núcleo de personagens principais introduzidos nesta trilogia, Rey é quem recebe o maior destaque e desenvolvimento, como era de se esperar. Ao lado dela, Kylo também tem bons momentos na trama, destacando-se, soando mais frio, calculista e ameaçador do que anteriormente, ganhando grande importância. A partir da segunda metade do filme, a sensação que passa é de que ele precisou ser suprimido para dar mais espaço à conclusão do arco de Rey, fazendo com que infelizmente, o personagem não tenha um fim satisfatório, com Abrams precisando escolher a via mais fácil. O piloto Poe Dameron também tem seus momentos de destaque e até brevemente saberemos mais um pouco do seu passado, mas o que decepciona profundamente é a abordagem dada a Finn. No primeiro filme da trilogia, Finn demonstrava ser um personagem promissor e até inovador pelo seu passado como stormtrooper. Neste filme, ele soa deslocado e desperdiçado já que Abrams decide introduzir um conceito interessante a respeito dele que acaba não sendo desenvolvido pela falta de tempo.

A presença da general Leia Organa tem importante papel no arco de Rey e o uso da mesma é feito de forma muito bela, demonstrando muito carinho e respeito de Abrams com a personagem, já que a atriz Carrie Fisher veio a falecer em 2016, sendo necessário utilizar-se de gravações não utilizadas dos dois episódios anteriores. Na obra como um todo, os fãs irão emocionar-se com a abordagem utilizada pelo diretor, soando como uma verdadeira homenagem à finada atriz, respeitando também o legado da personagem.

A decisão de trazer o maligno Imperador Palpatine de volta foi muito arriscada e conta novamente com Abrams escolhendo a nostalgia em detrimento da novidade. Felizmente, a abordagem dada a Palpatine é interessante e ele soa mais ameaçador e imponente do que nunca, além de sua presença permitir que conheçamos mais da cultura Sith e ver brevemente conceitos do Universo Expandido, que foi descartado pela Disney ao adquirir a Lucasfilm. O diretor não aprofunda-se nestes elementos, praticamente pincelando e deixando o resto a imaginação do espectador, mas abre terreno para que seja explorado em eventuais derivados.

No campo de atuações, os atores Daisy Ridley e Adam Driver entregam perfomances muito boas, do início ao fim, demonstrando que foram boas escolhas no papel de Rey e Kylo, dando o tom emocional que a relação de ambos precisavam. O elenco como um todo consegue entregar atuações competentes, mas Daisy Ridley, Oscar Isaac e John Boyega por mais que sejam atores bons, o trio formado pelos personagens Rey, Poe e Finn soa artificial algumas vezes, deixando a desejar. A culpa, evidentemente, não é dos atores e sim do roteiro apressado com muitos elementos jogados e pouco tempo para desenvolvimento. Um dos maiores destaques do filme fica com Ian McDiarmid como Palpatine, entregando a representação mais macabra e perversa do personagem de todos os filmes da saga.

Tecnicamente, a franquia Star Wars sempre elevou os patamares dos efeitos especiais do cinema, com visuais estonteantes e cenas de tirar o fôlego. As cenas de ação empolgam e estão mais megalomaníacas do que nunca, principalmente no ato final, mas são sabotadas em alguns momentos pela edição confusa, que é muita rápida e desconexa, quebrando o ritmo nas melhores partes. Inclusive, há um uso bacana da técnica de de-aging, vista em “O Irlandês” para rejuvunescer atores, em uma cena que irá empolgar os fãs mais antigos.

Não é surpresa que “A Ascensão Skywalker” é um dos filmes mais bonitos e impressionantes visualmente da saga e certamente deixará muitos fãs boquiabertos com as novas ambientações, com destaque para a direção de arte que brilha ao entregar locais variados e coloridos. Em oposição aos ambientes vibrantes, é impossível não impressionar-se com o tom sombrio e perverso de Exegol, o planeta dos Sith onde reside o Imperador. Os figurinos mantém o nível do resto da trilogia e possuem poucas novidades, sendo muito bem feitos e detalhados. John Williams entrega, mais uma vez, uma trilha sonora memorável, casando perfeitamente com os momentos representados na tela, passando por todos os momentos icônicos da história da saga.

Star Wars: A Ascensão Skywalker consegue ser uma conclusão divertida para os fãs nostálgicos, encerrando uma franquia que escreveu sua história no cinema. Pelo fato do roteiro jogar seguro e consertar eventuais discordâncias do filme anterior, acaba sendo um filme corrido e que por falta de tempo, depende de soluções rápidas, fáceis e às vezes, nem sempre muito lógicas, sacrificando a liberdade criativa para entregar uma história de fácil assimilação e que ousa pouco, mas que funciona dentro da proposta. Mesmo com seus problemas, o filme consegue entregar boas ideias, cenas eletrizantes de ação, reencontros únicos e celebrar mais de 40 anos de história de forma digna.