CromoNostalgia | No More Heroes e o Delírio Punk de Suda51

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À medida que nos aproximamos do lançamento de Shadow of the Damned Remastered, viemos revisitar uma outra obra-prima produzida pelo lendário Suda51, lançada durante a sétima geração de consoles: No More Heroes. Lançado originalmente para o Nintendo Wii em 2007, o jogo ganhou popularidade por sua abordagem única e estilo visual estilizado.

no more heroes

Revisitando o passado

No More Heroes foi inicialmente concebido como um jogo para ser lançado no Xbox 360 e no PS3. No entanto, com a chegada do Nintendo Wii e seus controles de movimento, Suda viu a oportunidade de usar o combate de forma mais dinâmica, levando No More Heroes a ser lançado inicialmente apenas para o Wii.

Posteriormente, o jogo ganhou uma versão para PS3 chamada No More Heroes: Heroes’ Paradise, que cortou parte do mundo aberto e apresentou censura no sangue do jogo. Com uma recepção mista, uma nova versão chamada No More Heroes: Heroes’ Paradise – RED ZONE foi criada, removendo a censura, adicionando chefes extras e incluindo dublagem em japonês.

No entanto, a versão que vamos discutir é o port para o Nintendo Switch, lançado em 2020. Até hoje, o port é considerado a melhor versão do jogo por apresentar o mapa completo, sem censura e com controles convencionais.

Versão fisica de NH1 indo pro Switch
Relançamento dos dois primeiros jogos para Nintendo Switch, vindo em um otimo momento pelo futuro lançamento de no more heroes 3

A história de Travis Touchdown

No More Heroes começa de forma única, com o protagonista Travis Touchdown resumindo o motivo pelo qual o jogo se inicia: Ele conheceu uma garota em um bar que o convenceu a se tornar um assassino contratado.

Após cumprir sua missão e matar seu alvo, Travis percebe que agora faz parte de um ranking de assassinos, tendo eliminado o décimo primeiro da lista. Agora, ele está vinculado a esse ranking, podendo apenas subir na classificação ou esperar alguém tentar tomar seu lugar. Com isso em mente, Travis demonstra sua determinação em se tornar o melhor, mostrando total indiferença ao eliminar o décimo colocado, dando início à sua jornada rumo ao topo.

Um dos grandes diferenciais de No More Heroes é a forte crítica ao personagem de Travis. Ele é um homem na faixa dos 30 anos que é obcecado por animes, mangás e passa seus dias em casa assistindo filmes e jogando videogame. Sua vida carece de sentido, sendo uma existência patética até o ponto em que ele se torna um assassino por dinheiro. Ele começa sua jornada como um personagem tão desprovido de moralidade que não sente repulsa ao matar, e até mesmo glorifica seus atos.

À medida que Travis avança no ranking, ele começa a perceber como a vida de assassino afetou todos os que estavam na lista, e como essa jornada de assassinatos só o afundará ainda mais, sem chance de redenção. Um dos grandes pontos de destaque de Travis é sua consciência de que está dentro de um videogame, permitindo-lhe reconhecer clichês e, principalmente, transmitir ao jogador a ideia de que nem tudo precisa ter sentido ou explicação, refletindo a vida patética que ele leva.

A boss explicando como acha travis patético
As pessoas ao redor tem noção da pessoa patética que Travis é

Gameplay

No More Heroes apresenta Travis usando sua Beam Katana (uma espécie de sabre de luz para os mais familiarizados), com a qual ele pode realizar combos curtos ou intercalados, finalizando com golpes que eliminam seus inimigos. Além da espada, também pode realizar suplex e finalizações, permitindo que o jogador termine as batalhas da maneira que preferir.

O jogo também possui seu famoso sistema de recarga da espada durante as batalhas, adicionando uma estratégia para evitar ataques infinitos. O posicionamento de Travis para recarregar a katana é bastante sugestivo, acrescentando um toque de humor à mecânica.

No entanto, ele não se resume apenas ao combate. Há toda uma rede de serviços normais que o jogador precisa realizar para ganhar dinheiro e continuar subindo no ranking. Esses trabalhos mundanos contribuem significativamente para a atmosfera de Santa Destroy e refletem muito a vida de SUDA51, que também teve que se envolver em vários trabalhos banais antes de iniciar sua carreira como criador de jogos.

Quando você ganha dinheiro, há uma variedade satisfatória de atividades para realizar. Você pode frequentar a academia para melhorar sua vida ou força, comprar novas katanas, roupas e até mesmo visitar um bar para conversar com um velho bêbado. O único problema desta parte do jogo é talvez o mundo aberto, que a longo prazo pode se tornar um pouco repetitivo, mas isso não chega a estragar a experiência; é mais uma questão de paciência. 

Travis finalizando o oponente
As finalizações do jogo são incríveis

Trilha sonora

A trilha sonora de No More Heroes foi composta pelo lendário Masafumi Takada, que já trabalhou com Suda em outros jogos como “Killer7” e “Killer is Dead“. A primeira impressão da trilha pode parecer simples, já que utiliza bastante o tema de Travis com diversas variações. No entanto, as faixas variadas não apenas são muito boas, como também revelam muito sobre a personalidade de Travis. Ele está tão imerso em sua própria visão de mundo que, sempre que está em batalha, apenas sua música toca, mudando apenas quando um chefão entra em ação, sobrepondo temporariamente seu tema, que volta a tocar assim que o chefão é derrotado.

A trilha original deste jogo é incrível, contendo músicas que são simples, porém extremamente eficazes. Elas não apenas criam empolgação para as lutas, como também refletem muito bem a personalidade do chefe em questão.

Travis aprendendo novos golpes
Travis vendo um bom WWE pra aprender novos movimentos

Gráficos

Os gráficos de No More Heroes utilizam a tecnologia Cel-shading, conferindo um aspecto único ao jogo e proporcionando uma estética mais cartunesca, que combina perfeitamente com todas as artes originais do game. As expressões são muito bem feitas e funcionam de maneira excelente com a estética exagerada e os detalhes estilizados da obra. Talvez a única área que não recebeu tanto polimento seja a cidade em geral, que é bastante simples se observada de perto, mas isso não é nada grave, pois o jogo sabe direcionar seus recursos gráficos para onde realmente importa. Além disso, as cutscenes são muito bem dirigidas, utilizando todo o espaço e detalhes do cenário para manter o jogador envolvido.

Seu mestre ensinando novas habilidades
os gráficos do jogo condizem muito com todas artes do mesmo

Conclusão

No More Heroes é o épico de Suda51 que demonstra que, com total liberdade criativa, esse homem nunca decepciona. O jogo traz uma discussão importante sobre como os jogos são feitos para serem jogados e não vividos, além de abordar a apatia que os jogadores têm em relação à alta violência e, principalmente, os perigos desse caminho.

No More Heroes é o tipo de jogo único que, por não se conformar totalmente ao comercialismo, consegue ser verdadeiramente único, algo que a indústria atual nunca permitiria.

Caso queira conhecer um pouco mais da franquia, No More Heroes III estreou recentemente no catálogo do Game Pass.