Ghost in the Shell | Espetáculo visual de dicotomia existencial

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Baseado no mangá homônimo de 1989, Ghost in the Shell – Vigilante do Amanhã se propõe a, na medida do possível, reproduzir numa nova mídia os aspectos do mundo futurista criado por Masamune Shirow. Dirigido por Rupert Sanders, o filme traz Scarlett Johansson como a ciborgue Major Mira Killian, o sucesso vital da Hanka Robotics e membro da Seção 9, uma força-tarefa dedicada a combater o terrorismo.

E de que tipo de terrorismo uma u(dis?)topia ultra-moderna sofreria, se não do cyber-terrorismo? Trazendo questões interessantes sobre a ameaça dos hackers ou mesmo da falta de confiabilidade das máquinas em uma sociedade quase que plenamente automatizada, Ghost in the Shell não soa anacrônico ao propor questões futuristas quando elas são tão contemporâneas. O problema é não ir além.

MAS AS CENAS SÃO BONITAS, BICHO.

Ghost in the Shell, aos poucos, de fato contextualiza todo o seu ambiente, nos fazendo entender que aprimoramentos são parte vital da “evolução” e até nos permitindo o choque que decorre disso. Quantos aprimoramentos bastam para nos distanciar da humanidade? Nós, de 2017, que já dependemos tanto da tecnologia, estamos indo para um caminho parecido? Ou melhor, já estamos lá?

Os debates disso são facilmente esquecidos para dar lugar a uma trama conspiratória empresarial regada de tiros e robôs tecnológicos. No final, tudo o que resta são lindas imagens associadas a uma agradável trilha sonora. Os planos de fundo políticos que poderiam se envolver em toda a trama se resumem a “vou conversar com o primeiro-ministro”.

Ghost in the Shell se entrega ao comum ao esquecer tudo que podia ser dito e empoderar o clichê. Dizer, por exemplo, que nossas memórias não nos definem em um filme que, basicamente, dedica mais da metade do seu tempo a uma busca por memórias perdidas é como destruir todo o significado da própria luta. E errado. Pelo menos, metade disso.

– Oi. – Oi.

No final, Ghost in the Shell encanta pelos visuais, que também conseguem contar suas próprias histórias, e como adaptação para os veteranos, embora se mantenha interessante para os espectadores de primeira viagem. Apesar disso, fica devendo abordagens que poderiam ser melhor discutidas, caso o filme abrisse mão dos preguiçosos clichês de ação e teológicos.

Talvez as memórias do filme pudessem defini-lo melhor, mas, a exemplo do pensamento de Motoko, suas ações são o que ficam valendo a partir daqui. E suas ações nos deixam com um belo, mas raso filme em mãos. Acho que vamos precisar de uma concha maior da próxima vez.