Subestimada, icônica e com uma base de fãs enorme que vem crescendo tanto em popularidade quanto em qualidade nos últimos anos. Essa é a minha descrição sincera para JoJo’s- Bizarre Adventures, uma obra caricata, cheia de características fortes e marcantes, a qual o tempo só beneficiou. E muito.
Publicada na Weekly Shounen Jump em 1987, JoJo’s Bizarre Adventures iniciou sua história como uma daquelas obras genéricas, com um protagonista forte e clichê, feito especialmente para conquistar o coração da juventude (até porque, é por isso que a Shounen Jump se chama “SHOUNEN Jump”).
A obra tinha tudo para ser visto como algo “tanto faz”, algo que você pega e diz “Tá, mas eu já vi isso um milhão de vezes, em um milhão de lugares, Araki-Sensei.”, mas é aí que surge a primeira bizarrice de toda a história: Você não liga.
Isso é tão expressivo na obra que você acaba gostando, é como se tudo ali fosse uma sátira ao que já é feito e estamos cansados. É aí que surge a segunda bizarrice: Não é! E me imagine gritando isso como um vilão prestes a ser espancado pelo Jotaro-Kun.
Tudo tem um propósito em JoJo, por mais que num primeiro momento não entendamos ou não tenha sentido, acredite, no início muitas coisas não têm. Parece que a graça da obra é ver algo ruim e achar bom. Hirohiko Araki pegou o dispensável e tornou essencial, evoluindo sua narrativa à cada parte.
A primeira parte, Phantom Blood, é a mais curta de todas, durando apenas 9 episódios. Se você aceitar o tom da série, então vivenciará uma experiência sensacional. Ela não é uma obra-prima, é uma introdução honesta à essência da obra.
Na segunda parte, Battle Tendency, acompanhamos o protagonista Joseph Joestar numa jornada para impedir os homens do pilar. Esta é a queridinha de muitos, principalmente pelo carisma de Joseph e suas frases marcantes.
A série passa a ser mais fluída e os personagens ganham mais camadas. É aqui que você percebe que Hirohiko Araki dá mais valor ao desenvolvimento dos personagens e vê o quão bem escritos eles são (talvez isso explique as pontas soltas no enredo), chegando a serem tão sentimentalmente expressivos ao ponto de te fazer imaginar e, talvez, até mesmo reproduzir os seus sentimentos.
Claro que uma obra não pode viver apenas dos mesmos elementos que a compõem para sempre. Causa saturação e aos poucos vai ficando difícil de manter a sua própria essência, o que afastaria de vez o público da obra e a levaria um cancelamento certeiro.
Por sorte, Jojo’s Bizarre Adventures soube reconhecer a sua popularidade e investiu na sua revitalização. Na terceira parte, a tão famosa Stardust Crusarders e o seu protagonista mais famoso, queridinho e garoto propaganda da obra, Kujo Jotaro, somos introduzidos a um novo conceito: Os stands, a representação da alma do usuário que lhe concede habilidades extraordinárias. Esse é o que eu chamaria de ponto de ebulição da obra, aqui as coisas ficam interessantes, apesar de eu considerar tudo apenas um teste do autor para algo maior que ele estava preparando.
Os stands são os sucessores da técnica de porradaria utilizada em Phantom Blood e Battle Tendency, o Hamon. Na primeira parte, nem todos eles são tão empolgantes, mas sem dúvida essa parte é importantíssima para a evolução narrativa da franquia.
É aqui que o Araki apresenta novos conceitos e uma nova forma pessoal de escrever, mas é aqui também onde ele comete um erro trágico: a quantidade de capítulos. Nenhuma saga com enredo tão pequeno deveria ter tantos capítulos. É como jogar água demais no café, ele acaba muito diluído e fica com um gosto horrível. Café tem que ser feito com medidas certas e precisas, de modo que o açúcar…
O que ocorre nessa parte é que os elementos se repetem demais, então perdemos o interesse nos contos bizarros porque estamos nos aproximando do final e então temos que correr e, minha nossa, todo o foco vai embora. Nada tão grave que estrague a emoção da batalha final, é apenas cansativo. Ânimo!
Quando disse que o Araki conseguiu revitalizar os elementos de JoJo, eu não estava brincando. Ele faz isso de uma maneira tão excepcional que temos a sensação de que obra não é sobre entretenimento, é sobre um protagonista chamado Hirohiko Araki que está em constante evolução, tanto em relação ao seu traço quanto à sua forma de escrita.
Diamond Wa Kudakenai, a 4º parte, recebe uma suavização em seu traço, Araki cria novos poderes para os stands, totalmente criativos, começa a utilizar referências musicais sensacionais e cria o vilão perfeito. É uma parte linda, que não apresenta grandes defeitos. Realmente o Araki acertou a mão nessa, mas a falta de exposição ao erro ainda impede o alcance do maravilhoso. É uma boa parte, mas não é “tão”. É divertido.
Na parte 5, Golden Wind, algo fica mais nítido. Araki não faz apenas referências, ele estuda. Ele estuda todo o cenário que vai compor a sua obra, do início ao fim.
Quando estamos assistindo Golden Wind, não estamos assistindo apenas mais um membro da linha Joestar apelidado de JoJo (até porque, aqui temos um GioGio) combatendo um inimigo ao qual foi destinado.
Estamos vendo moda, escutando música e fazendo um tour pela Itália ao lado da máfia. Todo o simbolismo empregado aqui é muito bem executado. Na verdade, é tudo muito religioso (se passando na Itália, não poderia ser diferente), um toque de questionamentos morais e um senso de justiça tênue cheio de glamour.
Essa parte é literalmente a batalha do filho de Deus contra o Diabo. Aparentemente, toda essa pesquisa e show de elementos fenomenais cansou o Araki e o fez perder a noção de como se faz um protagonista. O tempo todo implorei para que Giorno Giovanna fizesse algo e ele fica lá parado. Inexpressivo. O cara que o Metaforando não pode analisar, pois ele não tem expressões genuínas e, quando as têm, soa forçado. (morra, Giorno, morra!)
Eu creio que depois de todos esses erros e acertos, o Araki reclinou-se sobre sua poltrona, suspirou e teve um surto de excitação criativa. Em 2004, quando JoJo passa a ser publicada na Seinen Ultra Jump, tivemos o lançamento de Stone Ocean e ela é perfeita. Não havia como essa parte ser abaixo da média, disso já sabíamos, mas não sabia que tinha como ela ser extraordinária.
Depois de anos, temos a primeira protagonista feminina da obra, Jolyne Kujo é a JoJo da vez e sim, ela é filha do JoJo mais popular, Jotaro Kujo. O que já garante à ela um status de badass girl só por herança, mas isso não a limita.
Ela, por si só, consegue ser incrível. Presa injustamente na prisão de segurança máxima, Green Dolphin, localizada na Flórida, Jolyne enfrenta apertos desde a sua acusação por homicídio. O encontro com seu pai facilita as coisas, garantindo à ela um stand, no qual ela vai usar para tentar sobreviver. A todo momento, Jolyne se vê numa situação desfavorável e recorre às saídas mais inimagináveis possíveis. E, ok, isso é comum com todo JoJo, mas imagine isso em um lugar tão apertado quanto uma prisão e eu não me refiro apenas às paredes e grades, mas a toda confusão interpessoal.
A parte 6 marca o fim de uma fase bem significativa no universo de JoJo e na carreira de Hirohiki Araki. Se antes ele poderia ser considerado um autor mediano cuja a obra só é sustentada por memes e um nível aguçado de ridículo (é claro, apenas quem escolhe ver a obra por esse lado), agora ele é dono de uma das histórias mais cativantes que existem.
Uma linda história de esforço pessoal, dedicação e amor ao trabalho. Amor esse que rendeu à obra sua sexta parte animada. Existem ainda mais duas partes de JoJo’s Bizarre Adventures, porém não é devido falar delas aqui por conter um grande spoiler da série. Deixaremos para um outro dia.
Se você quer começar a assistir a série a tempo do lançamento de Stone Ocean, o anime já está disponível na Netflix e com promessa de dublagem em breve.
Mas então, caros amigos? O que acham da série? Animados para sexta parte ? Deixe suas expectativas nos comentários.