Kraven: O Caçador tinha o potencial de ser um ponto de desenvolvimento do universo dos vilões da franquia Homem-Aranha, ou ate mesmo um recomeço, mas acaba sendo mais uma adição genérica e esquecível ao catálogo da Sony. A proposta de mergulhar na origem de um personagem tão interessante é sufocada por um roteiro mal estruturado, escolhas criativas duvidosas e uma execução sem alma.
A Trama de Kraven
A trama acompanha Kraven (Aaron Taylor-Johnson), um jovem de origem russa cuja relação abusiva com o pai, Nicolai Kravinoff (Russell Crowe), serve como o catalisador de sua jornada. A premissa promete uma exploração de vingança, moralidade e legado familiar, mas o filme falha em estabelecer qualquer conexão emocional. Apesar de ser um vilão fascinante nos quadrinhos, a versão cinematográfica de Kraven parece mais interessada em cenas de ação genéricas do que em construir um arco narrativo significativo. O protagonista começa e termina da mesma forma, sem qualquer evolução ou reflexão sobre suas escolhas.
O roteiro é particularmente problemático. Grande parte do filme é dedicada à introdução da origem de Kraven, mas sem uma razão convincente para o público se importar. Personagens entram e saem da narrativa com tanta rapidez que parecem figurantes em uma história que deveria ser sobre eles. Ariana DeBose, por exemplo, tem uma participação tão irrelevante que você se esquece de sua existência logo após sua cena. O mesmo vale para outros coadjuvantes, que são utilizados apenas como ferramentas para mover a trama sem nenhuma construção prévia ou payoff emocional.
Uma Produção Desconexa
Do ponto de vista técnico, Kraven: O Caçador é uma mistura desconcertante de estilos. Enquanto 90% do filme parece um reciclado de filmes de ação dos anos 2000, há uma única cena climática que aposta em violência gráfica explícita, destoando completamente do restante da produção. Essa escolha, embora interessante isoladamente, apenas evidencia a falta de identidade e coesão do longa. É como se a equipe criativa estivesse indecisa sobre o público-alvo e sobre o que o filme deveria ser.
O design dos personagens também é digno de nota, mas não de elogios. O “homem rinoceronte” (RHINO), uma figura que deveria ser imponente e ameaçadora, é um dos piores exemplos de design em um blockbuster ate então. Ao invés de causar impacto, ele parece algo saído de um filme paródico, tornando difícil levar a ameaça a sério.
Alessandro Nivola é o único ator que parece estar se divertindo com seu papel, trazendo alguns momentos de personalidade que contrastam com o tom sem vida do restante do elenco. Ainda assim, nem sua performance é suficiente para compensar a montagem confusa e o ritmo lento. O filme leva mais de uma hora para estabelecer um objetivo claro, desperdiçando muito tempo em cenas expositivas que poderiam ter sido substituídas por desenvolvimento real dos personagens.
Por fim, não há cenas pós-créditos, mas o filme tenta, de forma forçada, sugerir uma expansão para futuros projetos do universo Sony. Dado o desempenho insatisfatório de filmes como Morbius e a recepção questionável de Madame Teia, é difícil acreditar que essas promessas irão gerar algo significativo.
Conclusão
No final das contas o longa é desprovido de personalidade, estilo visual ou qualquer elemento que o diferencie em um gênero já saturado. Assistir ao filme é como ler um resumo de personagens em um artigo genérico na internet: informativo na superfície, mas vazio de emoção ou envolvimento. É um filme que tenta preencher uma lacuna, mas acaba sendo uma experiência facilmente esquecível.