Maria Callas concentra todos os esforços de Angelina Jolie para tentar um Oscar – CRÍTICA

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Quando Maria Callas (Maria) abre com Angelina Jolie encarnando a lendária Maria Callas, o visual é irresistível. Pablo Larraín, mais uma vez, captura o brilho e o declínio de uma diva icônica, desta vez com uma pitada melancólica dos anos 70 em Paris. E quem, afinal, é mais perfeito para viver Callas do que Jolie, alguém que consegue equilibrar vulnerabilidade e carisma como poucos? Até aqui, ponto para o diretor.

Pablo Larraín e sua Visão Melancólica dos Anos 70

Angelina Jolie numa cena do filme 'Maria Callas'

Mas o que esperar de um cineasta que, pela terceira vez, se aventura a explorar mulheres do século XX mergulhadas em uma montanha-russa emocional? Se em Spencer o terror psicológico prendeu o espectador no palácio claustrofóbico de Diana, em Maria Callas a tentativa de recriar o declínio de Callas perde parte do seu potencial. E isso porque Larraín e Steven Knight (roteirista de mão cheia, mas que aqui exagera na mão) acabam tão preocupados em “explicar” cada toque de metáfora e cada linha de diálogo que o resultado soa menos como uma experiência emocional e mais como uma aula sobre a vida e obra de Callas.

A trilha é delicada e tenta se enroscar em cada memória e reflexão da protagonista, mas o exagero dos flashbacks transforma a narrativa em algo mais próximo de um documentário com licença poética. Não é que o público precise de mistério para se conectar, mas talvez Larraín subestime um pouco a inteligência de quem assiste, empurrando a história com uma mão pesada onde o silêncio bastaria.

Roteiro Excessivo e Fotografia de Lachman em Maria Callas

Angelina Jolie numa cena do filme 'Maria Callas'

E o roteiro, bom… em vez de abrir espaço para que Jolie brilhe (e, cá entre nós, ela é uma força da natureza aqui), Knight insere uma série de frases temáticas mastigadas, como se Callas estivesse sempre à beira de uma epifania forçada. As frases simbólicas surgem como lembretes de sua jornada e de sua dor, mas sem um tom natural, o que cria uma sensação de déjà-vu, onde cada linha está escrita para ser um grito de socorro artístico.

Agora, vale a pena aplaudir a parte técnica – Edward Lachman é um gênio. A fotografia dele em Maria Callas é um luxo só. Ele captura Jolie/Callas com a mesma precisão que ela tinha em seu canto: elegante, quase escultural, mas sem jamais descuidar das sombras que revelam o peso de suas perdas e decepções. Esse trabalho de luz e sombra faz com que cada expressão de Jolie nos mantenha firmemente ancorados na tela. Quanto à trilha sonora, ela se dobra e retorce para dar vida às gravações de Callas e chega a fazer mágica com fitas antigas, criando um ambiente sonoro que beira o surreal.

Conclusão

O filme acaba sendo uma vitrine para o talento de Jolie, um presente para os olhos e ouvidos. O que falta é um coração pulsante que nos faça sentir mais do que a simples admiração. É como uma ópera interpretada magistralmente, mas cujo libreto não está à altura da música.