“Eu não estava escrevendo panfletos feministas, sabe. Eu estava escrevendo contos sobre essa mulher que solta raios das mãos. Mas aí eu tinha essas amizades femininas entre gerações e um elenco feminino enorme e, você sabe, de vez em quando, uma piada. As pessoas odiavam amar isso e eu pensei ‘Bem, se é disso que vamos falar, então vamos falar disso.'” – Kelly Sue DeConnick
“Pense nas maravilhas que nós podemos fazer“, destaca o slogan da campanha da ONU focada em promover os direitos femininos. Ou, mais especificamente, “na igualdade de gêneros e o empoderamento de mulheres e moças como um componente essencial para um mundo pacífico, próspero e sustentável”. O símbolo da campanha? A Mulher-Maravilha.
E eu sei como isso soa legal para os fãs de quadrinhos (me incluam nessa). Na verdade, essa iniciativa visava justamente atingir novos públicos com essa mensagem que, convenhamos, é de vital importância. E eu não vou questionar aqui o papel da Mulher-Maravilha como ícone, sua importância na campanha como embaixadora honorária ou usar as críticas que surgiram durante o evento (como a ausência de uma embaixadora que, bom… exista no mundo real) para diminuir sua importância.
Porque eu quero falar da Capitã Marvel.
Não que já não tenham falado sobre ela. Parece chover no molhado citar suas origens em 68 como Carol Danvers, o interesse amoroso do Capitão Marvel, sua estreia como a heroína Ms. Marvel em 77, o controverso caso do estupro e gravidez dos anos 80 que todos queremos esquecer ou a marcante passagem de Kelly Sue DeConnick pela personagem, entre outros tantos eventos marcantes de sua carreira. Com uma mitologia cheia de causos, ela passa longe de ser uma personagem desconhecida.
Mas vamos escolher um recorte para a nossa sincronia: 2012. A heroína que já tinha se identificado por diversos codinomes toma um novo para si: Capitã Marvel. Não era a primeira a fazer isso desde a morte do original, embora fosse a primeira a fazer tanto sucesso assim. Além do nome, um novo traje, menos sexualizado que os anteriores.
E de lá para cá, além do sucesso fenomenal (em vendas e críticas), o título também nos trouxe um papel maior do que nunca para a Capitã nos quadrinhos da Marvel, chegando até a introduzir uma heroína de legado (muito bem-sucedida, por sinal) em suas fileiras: A nova Ms. Marvel, uma paquistanesa de 15 anos chamada Kamala Khan. E também um filme que será estrelado por Brie Larson, uma talentosa atriz que já levantou assuntos como a importância da diversidade nas telonas.
Isso lembra (e deveria) muito os objetivos da campanha da ONU, citada lá em cima. Mulher-Maravilha e Capitã Marvel. Parceiras na luta pelos mesmos objetivos em uma mídia que, vide a recepção da escolha de embaixadora (que incluiu até abaixo-assinado de membros da ONU contra a escolha de uma personagem fictícia/americanizada), não é tão aceita ou reconhecida como veículo de mudança fora do meio nerd.
E, por mais inflamadas que tenham sido as recentes discussões sobre relevância, popularidade, reconhecimento ou status entre as duas, é de se imaginar que, caso Diana e Carol se encontrassem, o mais provável seria (parafraseando o belo slogan da campanha): “Pense nas maravilhas que nós podemos fazer pelo mundo se ficarmos juntas.”. Pense.