Não, ler gibis não te faz uma autoridade no assunto!

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Interrompa-me se já leu essa antes: Uma discussão sobre filmes de heróis que termina sendo uma exposição (normalmente nada didática) sobre gibis e os intermináveis conhecimentos de seus leitores sagazes. É óbvio que, quando se trata do assunto, os dois temas se associam com frequência indispensável, mas eles deveriam ser tão interdependentes quanto pintam os fãs ao discutir a qualidade de uma adaptação? Ler gibis deveria dar tanta “autoridade” para se discutir essencialmente se um filme é bom ou não?

É frequente temas pessoais como os anos de leitura – ou a quantidade da mesma – de um indivíduo serem usados para embasar opiniões sobre a qualidade das obras enquanto filmes. E, embora questões acerca de fidelidade com relação ao material-base possam ser beneficiadas com esse conhecimento, ele pouco ou nada se relaciona com os aspectos que fazem de um filme ser algo bom ou não e não deveriam se interligar com habitualidade. Não existe nenhuma relação entre fidelidade e qualidade que não seja pessoal. Logo, elas não cabem quando se discute o entendimento coletivo de uma obra.

Não que a bagagem quadrinística do leitor não valha nada quando combinada ao seu testemunho de um filme inspirado em suas leituras, ela vale. Para ele, pelo menos. Contudo, enquanto indivíduo de experiências particulares, seu julgamento é único, assim como sua visão, moldada por suas leituras específicas – que dificilmente abrangem toda a cronologia de dado personagem/grupo – e interpretações únicas da mesma, que podem ou não concordar com as visões dos produtores do filme e/ou de parte do público que também pertence ao nicho dos leitores de quadrinhos.

O que significa que é possível entender um filme e seus conceitos, mas ainda assim desaprovar sua execução ou a própria inspiração. Clareza não traz aprovação automática e certamente o “Gostar” não se relaciona com o “Ser bom” e vice-versa. Então, a menos que o tema em questão seja a similaridade do material com sua base, essa mesma similaridade é praticamente descartável quando se trata do quão bom o filme é. E mesmo isso é discutível quando se trata da Marvel e da DC.

Afinal, personagens de quadrinhos mainstream não são escritos em pedra. Pelo contrário, são tão maleáveis que estão sendo constantemente remodelados pelas mãos de diversos escritores em períodos de tempo relativamente curtos. Mesmo suas origens não estão a salvo da continuidade retroativa que os autores costumam aplicar em seus trabalhos. Ou seja, não existe uma visão única e concreta sobre dado evento ou personagem ou grupo ou… Tenho certeza de que você entendeu.

É ótimo ler e conhecer quadrinhos, vibrar a cada sonho realizado na tela grande e poder expor essas visões com os outros. Porém, às vezes, elas não se tratam da realidade coletiva, e sim de uma realidade individual, que não está mais certa ou errada do que outras, mas é extremamente pessoal e pouco aplicável num contexto de julgamento de valor objetivo (que, por sinal, é o que críticos profissionais via de regra buscam em filmes, independentemente do contexto de ser uma adaptação de quadrinhos).