Na última sexta (23), chegaram ao catálogo da Netflix os primeiros episódios de Mestres do Universo: Salvando Eternia, uma série animada produzida por Kevin Smith, que continua os eventos narrativos da série animada dos anos 80, popularmente conhecida no Brasil como “o desenho do He-Man”.
Criada pela Mattel, a franquia Mestres do Universo foi feita única e exclusivamente para vender bonecos, algo muito comum em séries animadas até os dias de hoje, contudo, a trama acabou ganhando muitos fãs, que se tornaram entusiastas da aventura dos heróis para proteger Eternia das garras de um vilão conhecido como Esqueleto.
Desde que fora anunciada, Mestres do Universo: Salvando Eternia, foi descrita como uma continuação da série original, que atualiza animação sem esquecer do legado e essa promessa é cumprida com maestria.
Na trama, vemos o que parece ser o confronto final entre He-Man e Esqueleto e como a morte do herói afeta Eternia como um todo. Além disso, vemos como o fato do Príncipe Adam esconder sua identidade heroica de Teela afetou a heroína, que se sentiu traída por todos a seu redor.
Alguns anos se passam e vemos aquela terra magnífica se deteriorando, onde a magia está se definhando e a tecnologia passa a tomar conta de tudo, consequentemente, afetando seres queridos como a Feiticeira e Gorpo, que precisavam da magia para se manterem vivos.
Com isso, surge uma aliança improvável entre o bem e o mal, para tentar reforjar a Espada do Poder e tentar restaurar as coisas em Eternia. Isso por si só já é uma trama bem empolgante e muito mais profunda do que qualquer coisa que foi feita na animação original, contudo, muitos expectadores se sentiram desapontados e “traídos” com o resultado final.
Isso se deve ao fato de que muitos afirmam que a Netflix usou o He-Man como personagem central de divulgação da série, contudo, o herói pouco aparece, tendo como destaque principal Teela e os demais personagens secundários (“Horas, como pode uma série do He-Man sem o He-Man?!) É aí que mora o problema!
Essa não é uma série do He-Man! Como o próprio nome diz, a aventura é focada nos Mestres do Universo, sendo assim, o destaque em Teela, Gorpo e os demais é extremamente coeso com a proposta da série e você precisa aceitar isso!
Mais estranho ainda é o fato de que, mesmo não aparecendo de fato tanto quanto muitos gostariam, a figura de He-Man/Príncipe Adam jamais é esquecida em todos os episódios da série, pelo contrário, eles são citados até demais.
Em sua busca para salvar Eternia, Teela acaba tendo de enfrentar seus demônios interiores, além de também ter que fazer as pazes com seu passado e tudo isso está ligado ao He-Man.
Mais impressionante ainda, é que a série abre espaço para expandir grandemente a mitologia daquele universo, nos apresentando até mesmo os Campeões que antecederam He-Man e o herói que deu origem ao Castelo de Grayskull, o que é incrível.
Mesmo com tantos momentos icônicos, a série não é o bastante pra agradar aos fãs do original, pois não tem He-Man o bastante.
Bem, eu sinceramente não vejo sentido algum nessas reclamações. O fato de darem o protagonismo para Teela foi uma ótima sacada para reinventar e dar continuidade para a trama, criar o inesperado. Além disso, ela sustenta e muito seu papel e consegue ser um ótimo catalisador para tudo o que acontece.
A impressão que fica é a de que, mais uma vez, temos a clássica reclamação de que uma personagem feminina foi colocada como destaque em uma “franquia masculina” (Que audácia, como ousam fazer isso?!).
Assim como aconteceu em The Last of Us, temos inúmeros discursos de que Teela não deveria ter sido a protagonista, sob a desculpa de que a Netflix “fez os fãs criarem expectativas erradas”.
Oras, a Netflix pode sim ter promovido a série às custas do He-Man, mas o que vocês queriam? Que ela entregasse uma das reviravoltas principais no trailer?
Além disso, os motivos da Netflix ter feito isso são bem óbvios, afinal, você acha mesmo que a série teria sido melhor aceita se tivessem deixado claro que Teela seria a protagonista desde o começo? Tenho certeza que não.
Não dá pra dizer também que um Remake da série original seria melhor, afinal, em 2002, a Mattel tentou fazer isso e o resultado foi desastroso, com a série sendo cancelada precocemente, pois não conseguiram vender tantos brinquedos quanto gostariam.
No fim das contas, todo esse hate é só um repeteco do que já estamos cansados de ver. Marmanjos de 30 anos ou mais, chorando porque “estragaram a infância deles”, ao colocar uma personagem feminina como destaque no lugar do Macho Musculoso e com tanga de texugo. Bem, se sua infância foi ruim o bastante para ser estregada por um desenho, eu só posso lamentar.
A sensação é de que “esses caras” precisam sempre estar cercados por uma produção estrelada pelo “macho alpha”, pra sentirem que estão no comando, ou pior, sentirem que eles são tão incríveis quanto aquele personagem, o que é patético. Qualquer tentativa de expandir a narrativa ou criar algo diferente daquilo é automaticamente subjugada e rejeitada, simplesmente porque o He-Man não é o protagonista.
Eu duvido que essa será a última vez que veremos reclamações desse tipo, mas como o discurso já está batido, fica fácil ignorar e até mesmo dar risada dessa choradeira.
De qualquer forma, Mestres do Universo começou muito bem e parece ser muito promissora, elevando a qualidade da franquia e trazendo o frescor necessário para fazer com que o embate contra o Esqueleto ganhe proporções épicas. Se você consegue aproveitar o novo sem ficar chorando pelo passado (que nem era tão bom assim quanto dizem), com certeza irá adorar a nova série.