Summer Breeze 2024 | Calor e música incendeiam São Paulo

Entre os dias 26 e 28 de abril de 2024, aconteceu no Memorial da América Latina, em São Paulo, a segunda edição do Summer Breeze, festival alemão que deu as caras pela primeira vez no Brasil em 2023 e que promete misturar diversas bandas de gêneros diferentes do metal com feiras gastronômicas e conteúdo geek. Além disso, o evento prometia trazer uma estrutura semelhante a dos festivais europeus.

Na edição desse ano, os headliners do evento foram Anthrax, Mercyful Fate, Gene Simmons, Epica, Within Temptation, Hammerfall, Mr Big e Killswitch Engange, e diversas outras bandas importantes do cenário heavy metal mundial.

Estrutura europeia no meio de São Paulo

Assim como na sua primeira edição, o Summer Breeze manteve a tradição de trazer o festival Alemão para o Brasil, só que dessa vez com um palco extra para o público. O evento contou com um total de 4 palcos espalhados estrategicamente por todo Memorial da América Latina.

Os palcos principais, Hot e Ice Stage, ficaram um ao lado do outro, e durante apresentação de uma banda, o palco da próxima já era montado simultaneamente. Devido a isso, o intervalo entre bandas girava em torno de, no máximo, 10 minutos.

Já na outra extremidade do Memorial, ficaram os palcos Sun Stage e Waves Stage, sendo necessário atravessar a passarela que liga cada espaço para chegar até eles.

No palco Sun, um pouco menor que os principais, ficaram concentradas as bandas de médio porte do evento, ainda assim ficando tão lotado quanto os palcos maiores devido a shows que raramente aparecem pelo Brasil. Já no palco Waves, ficaram as bandas menores, com o evento dando espaço para várias bandas do underground brasileiro.

Além das atrações musicais, o festival contou também com diversas experiências e ativações que tiveram uma boa recepção do público. Entre elas, o destaque ficou para a Feira geek, Summer Expo Tattoo, Horror Expo, venda de vinis, espaço kids com monitoria, áreas de descanso e pontos para pegar água de forma gratuita.

Sexta-feira com Hard Rock farofa ao Metal Extremo

A segunda edição do Summer foi marcada pela mistura de gêneros que normalmente divide o público do metal. Nessa edição, ficou como destaque o Hard Rock, Power Metal, Thrash Metal, Death Metal e um pouco de Metal Core.

A abertura do festival aconteceu na sexta-feira (26) no Ice Stage, com os suecos representantes do Hard Rock da Nestor, banda que estourou em 2021 com seu álbum de estreia, “Kids in A Ghost Town”, seguido por Flotsam & Jetsam, banda de Thrash Metal que está na ativa desde 1981.

Após da porradaria dos americanos do Flotsam, o Ice Stage começou a lotar mesmo com um sol escaldante de 30º graus para o show de um dos vocalistas de metal mais famosos do Brasil, o Edu Falaschi.

O ex-frontman do Angra promoveu canções de sua carreira solo, além de seus sucessos da época que estava no Angra, como “Acid Rain”, “Spread Your Fire” e “Bleeding Heart”. Junto disso, houve uma versão a capela de “Pegasus Fantasy”, abertura do anime “Cavaleiros do Zodíaco”.

Após o saudoso Power Metal de Edu, a banda norte-americana de Hard Rock, Black Stone Cherry, assumiu o Hot Stage com um show extremamente energético, fazendo o público gritar e pular mesmo com o calor insuportável e o céu sem praticamente nenhuma nuvem a vista.

Após a Black Stone, veio a primeira virada de chave da noite. Quase no final da tarde, entrou no Ice Stage uma das mais influentes bandas de Thrash Metal de todos os tempos, o Exodus. 

O grupo formado em 1979, trouxe um repertório com músicas de seu novo álbum e músicas clássicas da banda, como “Bonded by Blood”, “Piranha”, “A Lesson in Violence”, “Fabulous Disaster”, “The Toxic Waltz” e “Strike of the Beast”. Mesmo com um show extremamente energético, o festival estava só começando, pois ainda faltavam as 3 bandas principais da noite de sexta.

Começando no final da tarde no Hot Stage, Sebastian Bach iniciou a trinca de Hard Rock da noite, com um repertório passando por sua carreira solo e também pelos clássicos iconicos do Skid Row, como “18 and Life”, “I Remember You”, “Youth Gone Wild” e “Monkey Business”.

Após um show energético de Sebastian, com direito até um cover de “Tom Sawyer” do Rush,  a segunda parte da trinca dos clássicos do Hard Rock foi iniciada com MR. BIG.

Na ativa desde 1988, o grupo está promovendo sua última turnê mundial, entitulada de “The Big Finish Tour”, onde estão trazendo uma última vez os clássicos da banda. Eric Martin, Billy Sheehan, Paul Gilbert e Nick D’Virgilio entregaram um show digno de uma despedida, com clássicos como “Just Take My Heart”, “To be With you” e “My Kinda Woman”, que marcaram a trajetória do MR. BIG desde os anos 80.

Enquanto o Power Metal e Hard Rock reinavam nos palcos principais, no Sun Stage rolou uma trinca de heavy metal de respeito com DR. Sin, Tygers Of Pan Tang e Massacration.

O final da noite do palco Sun ficou por conta dos morcegões e pioneiros do Goth Rock The 69 Eyes e a virtuosa banda de hardcore punk Biohazard, que levou sua mensagem de paz através de um show destruidor, com até mesmo sinalizador de fumaça no meio do moshpit.

O encerramento do primeiro dia de Summer Breeze ficou para uma das figuras mais emblemáticas do Rock como um todo, o grandioso Gene Simmons, baixista, vocalista e fundador do Kiss, que está seguindo em carreira solo desde o término da banda.

Apesar de estar com 74 anos, Gene provou que ainda tem muita lenha para queimar. Embora o show seja de Gene e sua banda de apoio, eles tocaram somente os clássicos do Kiss e alguns covers, como Motörhead e Led Zeppelin.

Sábado lotado com Thrash, Power e Symphonic Metal

Iniciando os shows de sábado no Ice Stage, tivemos a banda brasileira Nervosa, que fez um show brutal, apesar do horário e muitas pessoas ainda estarem chegando no evento. Aqui fica o destaque para  a vocalista e guitarrista Prika Amaral, que mostrou extremo profissionalismo ao seguir o show somente com os vocais, pois as cordas da guitarra acabaram arrebentando durante a apresentação.

Seguindo a linha do metal extremo, após o show caloroso das meninas, subiu ao Hot Stage o Forbidden, banda de Thrash metal americana que também foi extremamente importante para o gênero. Apesar do calor escaldante, os “thrashers” não deixaram o sol do meio-dia atrapalhar o mosh e também de presenciar uma das lendas do genêro.

Após Forbidden, com um calor maior que do dia anterior, chegou o momento do “metal espadinha” brilhar. Às 13:10 em ponto, era dado inicio a uma das atrações mais aguardadas do dia, o Gamma Ray.

Liderado por Kai Hansen, do Helloween, o show da banda foi praticamente um presente para todos os fãs de Power Metal ali presentes, pois muitos ainda duvidavam do retorno de Kai ao Gamma devido a sua reunião com os demais membros do Helloween. O show fez valer cada gota de suor do dia ao tocarem clássicos como “Heaven Can Wait”, “Rebellion in Dreamland”, “Somewhere Out in Space” e “Send Me A Sign”.

Ainda seguindo com clássicos do gênero, em seguida veio a maior banda de power metal do brasil, Angra! Liderado por Rafael Bittencourt, como sempre o Angra entregou um show extremamente técnico, no nivel de reconhecimento internacional da banda.

Intercalando clássicos da época de “ouro” do grupo, junto com músicas da era do Lione, atual vocalista, eles conseguiram entregar um show de respeito no meio de um festival com diversas bandas importantes para o desenvolvimento do metal mundial.

Porém o Summer estava longe de acabar. Após o show técnico do Angra, o Ice Stage começou a ficar extremamente lotado para ver uma das grandes atrações da noite, Lacuna Coil. 

A banda de metal gótico é liderada por Andrea Ferro e Cristina Scabbia, que fazem um mix de vocal extremamente interessante e potente. Mesmo com o sol, a banda não economizou em seus trajes pretos e maquiagem, emplacando hits de sua carreira como “Blood, Tears, Dust”,  e “Trip The Darkness”.

Após a energética apresentação do Lacuna, as pessoas começaram a se aglomerar no Hot Stage. Após alguns minutos, você conseguia ouvir o inicio de um dos maiores coros do festival.

Um pouco antes das 17:10, horário previsto para a próxima banda, os headbanguers ali presentes já estavam eufóricos gritando pela próxima atração, e alguns minutos depois, foi dado inicio ao show épico de power metal do Hammerfall.

A banda sueca é uma das mais importantes do cenário dos anos 90 e 2000, que abriu o show com a música “Brotherhood”, do seu último álbum Hammer Of Dawn, de 2022. O show também contou com vários clássicos da banda como “Hearts on Fire”, “Hammer High” e “Last Man Standing”

Depois da aula de Power Metal, praticamente todos ali presentes se moveram para o Ice Stage, onde em alguns minutos teríamos uma das bandas de metal sinfônico mais famosas do mundo, Epica.

Liderada pela belissima Simone Simmons, Epica entregou um show de dar inveja, tanto em quesito técnico quanto em presença de palco. Foi um show cheio de contrastes, tanto pelo seus instrumentos quanto pelos vocais de Mark Janssen em contraste com os vocais de Simone.

O ponto mais alto da noite foi quando a banda uniu duas deusas do metal, a Cristina Scabbia, do Lacuna Coil, subiu ao palco, e junto com Simone, cantaram “Storm The Sorrow”.

Após o show emblemático do Épica, chegou o grande momento do último headliner da noite, o Within Temptation que fez juz em ser a última banda da noite. Com um palco extremamente complexo e lotado de pirotecnia, Within trouxe um setlist bem abrangente com 19 músicas, um dos shows mais longos do festival.

Aqui vale o destaque para “Raise Your Banner”, que foi tocado em suporte a Ucrânia, e também para uma versão acústica de “Never-Ending Story”.

Enquanto o Ice e Hot Stage ficaram basicamente focados em Power e Symphonic Metal, no Sun Stage foi onde houve a maior diversidade músical da noite. Nele, as bandas brasileiras Sinistra e Korzus abriram o dia, seguido de Jelusick, The Night Flight Orchestra, Dark Tranquility e In Extremo.

A missa negra de Domingo

Domingo foi o dia mais esperado pelos headbangers, principalmente pela volta do rei ao Brasil! Já às 11 horas da manhã, o Memorial estava mais lotado que em todos os demais dias, e mais da metade do público usava a camisa de uma única banda: Mercyful Fate, banda que a mais de 20 anos não voltava ao Brasil. Mesmo com um calor beirando os 35º, no meio da multidão era super comum  encontrar pessoas com a famosa maquiagem de King Diamond, o vocalista da banda.

Mas antes do Mercyful, existia todo um lineup de peso e extremamente importante para toda a história do metal. Iniciando o dia no Ice Stage, tivemos a banda de hard rock Eclipse, fundada em 1999 em Estocolmo pelo vocalista, Erik Martensson e o guitarrista Magnus Henriksson.

Após o show caloroso do Eclipse, foi a vez do metalcore britânico do While She Sleeps, que apesar de ter iniciado com um público um pouco tímido, conseguiu deixar todos que estavam ali animados e preparados para o que estava por vir. Minutos após o show dos britânicos, uma grande roda já estava se abrindo no Ice Stage para o show de uma das bandas de Thrash Metal mais requisitadas do evento, Overkill. A banda de New Jersey, comandada pelo frontman Bobby Ellsworth, teve um convidado especial nessa tour, David Ellefson, ex-baixista e um dos fundadores do Megadeth.

Com um setlist recheado de clássicos e também com músicas dos albuns mais recentes, eles conseguiram lotar o palco principal do evento ainda no inicio da tarde, entregando um show destruidor e com uma das maiores rodas de todo o Summer Breeze.

Poucos minutos após o destruidor show do Overkill, foi a vez dos suecos do Avatar, banda de heavy metal que acabou fazendo bastante sucesso no Brasil após realizarem uma turnê junto com o Iron Maiden em 2022.

Sem um minuto a perder, o festival chegou ao seu ápice em música extrema quando Carcass subiu ao palco, tocando tanto clássicos da banda quanto músicas dos seus trabalhos mais recentes. O grupo é considerado uma das bandas mais importantes de todo metal extremo, principalmente por ter influenciado os subgêneros mais extremos do metal, como goregrind, deathgrind, grindcore e, posteriormente, death metal melódico.  O calor durante o show do Carcass estava tão insuportável, que até mesmo o baixista e vocalista Jeffrey Walker acabou passando mal e teve que tocar sentado para conseguir finalizar o show.

Após uma aula de death metal, o evento chegou em sua reta final com os últimos artistas dos palcos principais. O primeiro deles foi o Killswitch Engage, banda americana de metalcore que foi um dos precursores do gênero. Apesar de sofrerem um certo preconceito dos amantes mais tradicionalistas do metal, a banda agradeceu os veteranos do Anthrax, que apoiam o grupo há algum tempo.

Killswitch entregou um show de extrema qualidade, com a utilização de muita pirotecnia e uma presença de palco que cativou até mesmo as pessoas que só estavam ali aguardando a grande “missa” de domingo.

Pontualmente as 18:30 no domingo, subiu ao palco uma das bandas mais famosas no meio do metal, o Anthrax, que faz parte do famoso “Big 4” junto com Metallica, Slayer e Megadeth.

Fundada em Nova Iorque em 1981 pelo guitarrista Scott Ian e o baixista Dan Lilker, a banda ficou consagrada por misturar metal com hardcore e punk, criando um som único que serviu de influência para diversos outros genêros.

Tocando diversos clássicos como “Madhouse”, “Antissocial”, “Indians” e “Medusa”, a banda entregou o show mais energético e caótico dos 3 dias, com diversas rodas de moshpit e até mesmo alguns sinalizadores de fumaça vermelha no meio de todo caos. Vale o destaque para participação de Andreas Kisser, membro do Sepultura, que subiu ao palco para tocar a emblemática música “I Am the Law”.

Enquanto o Hot stage e Ice Stage eram derretidos pelo calor, o Sun Stage foi marcado pelas apresentações dos brasileiros do Torture Squad, Ratos de Porão, Battlebeast, Death Angel e, finalizando o dia, o grandioso Amorphis, que também era uma banda bem requisitada para o festival.

Mas tudo mudou as 20:10, quando era dado inicio a “missa” do Summer Breeze, pois chegou o momento que fez muitas pessoas terem interesse em ir no festival naquele domingo. Chegava a hora do retorno do rei do metal com o Mercyful Fate. 

A banda liderada pelo emblemático King Diamond foi fundada no ínicio dos anos 80 e é tida por muitos como a primeira banda de metal extremo, não apenas pela sua sonoridade, mas principalmente pelas suas letras que abordam o ocultismo, riffs extremamente rápidos e apresentações teatrais que flertam bastante com o ocultismo e o Satanismo de LaVey, onde King Diamond se inspirou.

Apesar do show curto, foi o suficiente para matar a saudade de todos ali presentes, principalmente pelo fato de ser o primeiro show da banda no Brasil em mais de 20 anos. Clássicos como “The Oath”, “Evil”, “Satan’s Fall” e “Come to the Sabbath” marcaram a última apresentação da noite de domingo do Summer Breeze.

Summer Breeze 2025 

Mesmo com lotação máxima, o festival praticamente não tinha filas para as atividades, proporcionando aos participantes uma experiência sem igual. As vendas para a edição de 2025 já começaram, com ingressos disponíveis no site da Clube do Ingresso desde terça-feira, 30 de abril.

O Summer Breeze é um evento que vai além do comum, oferecendo uma experiência exclusiva para os amantes do metal. Em contraste com os festivais mais tradicionais do Brasil, como o Rock in Rio, Lollapalooza e Primavera Sound, o Summer Breeze é a prova viva que um festival somente de metal pode se sustentar. Sua organização impecável e a variedade de espaços de atividades garantem que o festival seja um sucesso de público e crítica.

*O Cromossomo Nerd agradece a Agência Taga pela oportunidade de cobertura do evento!