Titãs – 1ª temporada | O que foi bom e o que pode melhorar nas próximas temporadas

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A série de TV dos Titãs inaugurou o serviço de streaming da DC, intitulado “DC Universe”, e logo na época de lançamento, o show começou a receber uma resposta positiva dos fãs, elogiando o tom da série, extremamente denso e adulto, além de uma sutil mescla com as páginas das HQs do grupo. A primeira temporada foi composta por 11 episódios, construindo uma narrativa que, apesar dos tropeços, é promissora para o futuro.

O que foi bom?

Primeiramente, é preciso reconhecer a ousadia dos produtores em optar por fazer um seriado desse tipo, destoando totalmente da visão mais popular dos heróis, que foi fixada no público a partir do desenho “Os Jovens Titãs”. A visão é outra, e ela é bem executada, apesar dos excessos.

Os personagens combinam com a proposta, fazendo disso um ponto positivo. Os visuais escolhidos pela produção foram um objeto de intenso debate entre os fãs de quadrinhos, pois enquanto alguns eram muito bem feitos e estilizados, como os dos Robins, outros causaram polêmica e dividiram opiniões, como o da Estelar e Mutano. Acontece que o visual da Kory utilizado no seriado também já foi usado por ela nos quadrinhos, na fase de sua apresentação, ao chegar na Terra e sendo uma completa estrangeira e tendo que se enturmar. Mutano não ficou verde como tradicionalmente é, mas isso também tem embasamento nas origens do personagem, onde o mesmo ainda passou um tempo com pele normal antes de adquirir a cor verde. Os visuais certamente irão mudar na segunda temporada, visto que agora o Robin abandonou o manto e passará a ser o Asa Noturna, como também a equipe está reunida e, ao que tudo indica, começarão a agir de fato como os Titãs.

Ao falarmos sobre os personagens, Titãs possui uma bom conjunto deles. Estelar na pele de Anna Diop é a melhor de todos, se destacando a cada episódio, divertida e eficiente em cena, a atriz provou que seus detratores estavam errados em julgá-la como ruim para o papel.

Mutano é carismático, alegre e possui um entrosamento interessante com Ravena, apesar de suas habilidades e utilidades ficarem um tanto limitadas. Rapina e Columba são excelentes, donos de uma química que gera uma aproximação instantânea do público com os dois, principalmente no episódio filler voltado para a origem de ambos.

Outra grande participação é a da Patrulha do Destino – que em breve irá ganhar uma série própria – incrivelmente semelhante à loucura e psicodelia dos quadrinhos, e com um trecho memorável ao som de AC/DC. Por fim, Jason Todd e Donna Troy estão perfeitos. O segundo Robin vivido por Curran Walters é marrento, exibido e insuportável, ou seja, é o Jason Todd. Já a estonteante e belíssima Donna Troy de Conor Leslie, veio mais como uma ótima prévia para mostrar que irá se juntar à equipe em algum momento no futuro.

Os grafismos e fotografia resultam numa mistura de realismo com cores de gibis, sendo propositalmente um reflexo da trama. Esses elementos lembram em alguns momentos, a marca visual que a DC pegou para si na era dos filmes de Zack Snyder, no entanto, diferente do que ocorreu nas telonas, eles são mais livres, precisos, vivos e fortes. A elaboração e execução das cenas de ação são bastante fiéis ao que a série apresenta desde o primeiro episódio, na pancadaria entre o Robin e alguns bandidos. As variedades das coreografias são o que se espera de alguém da Bat-família: Velozes, agressivas, habilidosas e precisas.

Vale ressaltar que, em partes, o roteiro adapta a primeira fase dos Novos Titãs de Marv Wolfman e George Perez, apenas mudando a abordagem. A ideia de fazer algo sombrio, psicológico e adulto para um grupo que comumente tem um tratamento infanto-juvenil em outros produtos midiáticos, como a animação dos Jovens Titãs, os próprios quadrinhos ou até mesmo Jovens Titãs em Ação! pode soar estranho e equivocado para muita gente, mas a série de TV teve sucesso promissor demonstrando a versatilidade da equipe, mesmo com os exageros.

 O que pode melhorar?

Se Titãs acerta em muitas coisas, erra feio em outras. Dick Grayson/Robin aparece numa versão ultraviolenta e sanguinária, mutilando e quebrando caras maus sem piedade. Acontece que a motivação do Robin em se afastar do Batman é justamente pelo Homem-Morcego ficar cruel e descontrolado demais, acabando com o Dick Grayson se afastando dele. Entretanto, Grayson acaba fazendo a mesma coisa durante toda a temporada: Agir com extrema violência, vez ou outra pondo em risco a vida dos inocentes.

Brenton Thwaites se sai bem, ainda que o texto não colabore e acabe criando incongruências no desenvolvimento do personagem. Se ele rejeitou seu passado e agora se tornará o Asa Noturna, resta torcer para ter um tratamento melhor do que teve como Robin. Já a Ravena, embora desempenhe um papel central, sofre com a falta de capacidade da atriz Teagan Croft em demonstrar algum tipo de emoção que alguma situação mais dramática exija.

Onze episódios foram o suficiente para contar a história, mas o problema é como ela foi contada pelo roteiro. A estratégia de guardar alguma revelação ou plano chocante para o final de alguns episódios foi um mecanismo arriscado para desenvolver os plots, e acabou não funcionando bem. Do mesmo modo, outros episódios interferem na imersão do público e não têm simplesmente nada a oferecer para a história principal. Por mais que o filler do Rapina e Columba seja envolvente, não há muito o que contribuir, além de apresentar melhor os personagens. Há uma ameaça implícita para a Ravena e a equipe, mas a falta de um vilão compromete qualquer curiosidade em saber mais dessa ameaça. Por fim, situações forçadas brotam dessas inconsistências, como o gancho fixado para a segunda temporada, revelado numa controversa season finale.

Violência explícita e gratuita foi outro erro grotesco. Se por um lado acertou em cheio nas lutas, ora priorizou a brutalidade em prol do heroísmo e coerência, como por exemplo, os próprios protagonistas cometendo assassinatos. Enquanto outras obras conceituadas, como Logan (2017) e a série de Demolidor dispensam essa apelação, escolhendo outras maneiras de criar verossimilhança e dramas convincentes, em Titãs, a utilização demasiada desse recurso como muleta mostra que os produtores precisam rever urgentemente como estão lidando com essa questão.

Crítica | Titãs é uma péssima série de super-heróis e ainda precisa melhorar muito!