Ao lado do talentoso artista Gabriel Walta, Tom King entregou em 12 edições um dos títulos mais elogiados da Marvel nos últimos anos: Visão. Agora, a Marvel Comics lançará uma “Versão do Diretor” do quadrinho, exibindo páginas dos roteiros originais, rascunhos em progressos e todos os tipos de informações dos bastidores da concepção do gibi.
Promovendo esse lançamento, a Marvel fez uma entrevista com King sobre sua experiência escrevendo Visão e vocês podem conferir sua versão traduzida abaixo:
Marvel.com: Quando nos falamos pela primeira vez, a Marvel estava prestes a lançar Visão para o público. Na época, você me disse “Eu sou um grande fã dos Vingadores; eles são o time que me trouxe para os gibis quando criança,” e que escrever uma série sobre o Visão era bom demais para recusar.
Com o seu papel terminado, como você diria que mudou o jeito das pessoas verem o personagem?
Tom King: Não sei se cabe a mim dizer isso. Leitores de quadrinhos são um grupo diverso de pessoas que vêm de uma multidão de contextos; Eu duvido que exista qualquer reação em comum para essa série além de “Por que o Tom odeia gatos?!? E cachorros?!?”
O que posso dizer é que não estava tentando mudar a maneira que qualquer um pensava sobre o Visão. Tudo na minha série foi feito para ser fiel ao personagem construído por pessoas como Roy Thomas, Steve Englehart e John Byrne. Ele sempre foi uma arma do mal tentando ser boa, um robô tragicamente convencido de que ser bom significa ser normal. Nessa série, nós nos apoiamos nos ombros dos gigantes que trabalharam no Visão e tentamos descrever o mundo que vimos dali de cima.
Você também mencionou que “Visão é o extraordinário tentando ser ordinário.” Você acredita que ele conseguiu? De quais maneiras?
Eu não acredito em histórias onde as pessoas aprendem coisas sobre si, têm epifanias e mudam suas vidas para melhor. Eu escrevo dessas de vez em quando porque são boas histórias e muita coisa boa pode vir delas, mas eu não acredito nisso. Eu só acho que, enquanto vivemos nossas vidas, fazemos esforços constantes para mudar e às vezes dá certo, às vezes não dá, às vezes os dois e às vezes nenhum. E na maior parte do tempo onde o que quer que fizemos é feito, nós percebemos que nada foi feito e começamos a nos mexer para tentar fazer de novo. O Visão tenta ser ordinário. Esse esforço é a coisa mais ordinária que ele faz. Então, ao tentar, ele triunfa; E tal sucesso é extraordinário, então, ao triunfar, ele falha. Espera-se que algo verdadeiro saia desses ciclos.
A Marvel vai lançar essa “Versão do Diretor” de Visão, onde os leitores verão os bastidores de sua jornada com o personagem. Que tipo de conteúdo você espera que os fãs vejam?
Sendo eu um típico escritor egocêntrico é até difícil de dizer, mas, sendo honesto, eu recebo crédito demais por Visão. A equipe trabalhando nesse quadrinho—Gabriel na arte, Jordie [Bellaire] nas cores, Clayton [Cowles] nas letras, Wil [Moss] na revisão, Mike [Del Mundo] nas capas e eu numa escrita egocêntrica—criou esse quadrinho junta; Se vocês acham que é bom, é porque fizemos ser bom, não porque eu fiz ser bom. Espero que as pessoas comparem meus roteiros com o produto final e vejam como o Gabriel projetou cada cena, como Jordie deu o tom, como Clayton transformou palavras em diálogos, como Wil fez tudo fluir unido, como Mike preparou o leitor e como eu peguei parte dos créditos que definitivamente pertencem a eles.
Diferente da matemática, onde você precisa mostrar todo o seu trabalho, escritores normalmente querem apagar os seus erros para que a audiência só veja o produto final. O que você acha que atrai os leitores para essa versão de bastidores?
Acredito que são, provavelmente, duas coisas. A primeira é que existe uma coisa sobre ler quadrinhos que te faz querer criar quadrinhos. Um monte de gente, incluindo eu, que se alegra nessa mídia quer botar a mão na massa e fazer algo tão bom quanto o que estão lendo. Essa é a chance de ver como tudo é feito e as pessoas podem usar os métodos e truques que nós usamos, colocar seu próprio gingado nisso e produzir sua própria alegria. Foi assim que eu comecei: Lendo gibis desse tipo, que mostravam como gibis eram feitos e copiando tudo do jeito que eu podia.
A segunda é que, quando algo dá certo, é divertido saber como podia dar errado. Te revela as eventualidades da arte e até da vida. Eu, pessoalmente, não me canso de ler sobre gibis e filmes antigos e suas coincidências loucas, esforços e erros que culminaram em algo bom saindo daquilo. Talvez te faça apreciar o que se tem ou talvez te faça ansiar pelo que não se teve. De qualquer forma, gera uma empolgação que queremos que os fãs tenham e é o que estamos tendo.
A maior parte dos escritores normalmente precisa passar por diversos rascunhos para chegar até o produto final. Houve alguma mudança drástica no seu arco que você acredita ter modificado um rascunho ou outro? Qual foi?
Visão realmente não passou por muitos rascunhos. Na maior parte do tempo, o que você vê aqui é minha primeira tentativa do que a edição devia ser e eu tive sorte delas serem também as últimas. Provavelmente metade das edições tiveram entre uma e três páginas que precisaram ser reescritas. Vocês verão coisas que mudaram na fase de letramento, onde as palavras no roteiro tiveram que se ajustar ao que foi desenhado, o que é uma parte natural nos quadrinhos.
A maior mudança no caminho provavelmente foi a inclusão do Victor Mancha. Originalmente, era para ser o Tocha Humana da Era de Ouro, que é uma espécie de padrinho/tio do Visão e teria desempenhado um papel de avô. Infelizmente, devido ao que acontecia em outros quadrinhos, não pude usar o Tocha Humana e Wil Moss, nosso editor, sugeriu Victor. Isso funcionou melhor do que minha ideia original. Às vezes, fazer gibis é improvisar. Ou melhor: Às vezes, a melhor parte dos gibis é o improviso.
Existe alguma ansiedade em ter pessoas vendo seu trabalho em progresso ou você fica confortável em deixar tudo para que o mundo veja?
Eu sinto que devia dizer que não. Eu devia dizer que estou plenamente confiante que tudo que eu fiz irá reluzir e mostrar o caminho para coisas melhores que farei. Mas, se eu falasse isso, eu não seria um escritor, muito menos um escritor com preocupações o bastante para escrever sobre uma família robô que não faz nada além de se preocupar. Então, sim, eu fico um pouco ansioso. Mas se você não fica, você não arrisca nada. E, se você não arrisca, você não está fazendo quadrinhos e tudo que eu sempre quis foi fazer quadrinhos. Então eu aceito a ansiedade e os quadrinhos.
Qual você diria ter sido a sua maior conquista com essa série?
Tem uma cena na edição 10 onde o Visão reza. São poucas páginas, mas eu acredito ser a melhor cena que já escrevi, talvez a melhor que já escreverei. Acho que tem alguma coisa nesses painéis, alguma coisa que eu normalmente não consigo alcançar, apesar de tentar. Tem alguma a ver com usar a maravilhosa absurdidade dos quadrinhos de super heróis para refletir a maravilhosa absurdidade da vida real. Eu sei, isso é muita bajulação pra mim mesmo, mas estou muito orgulhoso dessas páginas. Sendo justo, eu te avisei que era um escritor egocêntrico.
Da mesma forma, qual foi seu maior desafio?
A edição mais difícil de escrever foi a 9, onde uma das crianças morre. Não faz muito sentido para mim, uma vez que eu e Gabriel criamos essas crianças. Elas existiram apenas para contar essa história e, na própria história, uma delas morre. A morte não devia ser grande coisa, mas, quando fui escrever, quando imaginei o Visão ninando sua criança, não conseguia colocar as palavras na página. Cada tecla pressionada parecia um soco. O que eu repito, não faz sentido, sendo que nada daquilo era real. Mas era o que era, então é a história que eu contarei.
Só mais uma pergunta: Olhando para trás na sua jornada com o Gabriel Walta, fico curioso para saber como você vê o crescimento dos dois através da experiência adquirida nesse quadrinho.
[Risos] Bem, primeiramente eu vou te lembrar do meu blá-blá-blá sobre como eu não acredito em crescimento porque parece uma contradição enquanto acontece. E, sendo consistente com essa contradição, eu diria que cresci de uma maneira incrível enquanto escrevia essa série. A maior parte foi perceber que existe um público lá fora para um quadrinho desse tipo.
Mas, para conquistar esse público, você tem que ser digno deles. Você tem que ser inteligente, divertido e sofisticado como eles esperam que seja e como eles próprios são. Eu gosto desse quadrinho. Eu gosto de ter trabalhado nele. Eu gosto do fato das pessoas o terem encontrado. Meu crescimento é saber que pude me encontrar gostando de tantas coisas.