3% Tenta fazer com que o Brasil se aproxime de Hollywood mas apresenta falhas pelo caminho

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Eu estava bem cético quanto à 3%, primeira série brasileira produzida pela renomada Netflix, confesso que atualmente não tenho acompanhado nenhuma produção nacional, seja ela na TV ou nos cinemas, simplesmente pelo fato de estar saturado das já conhecidas comédias ou por não ter paciência de acompanhar os dramas (que confesso não serem meu gênero favorito), mas não coloco em pauta a qualidade das mesmas, que muitas vezes agradam público e crítica, acredito que seja apenas uma rejeição pessoal.

Independente disso, após assistir o trailer da série, fui tomado por uma curiosidade de conferir o material, surpreendido por ver que tratava-se de uma trama completamente diferente das quais estamos acostumados a ver, misturando vertentes similares a Jogos Vorazes e Maze Runner e mostrando que finalmente o Brasil pode produzir um conteúdo de entretenimento que consiga destacar-se perante os grandes sucessos hollywoodianos, e fugir dos tradicionais trabalhos que agradam (ou não) a “tradicional família brasileira”.

A série estreou no serviço de streaming na última sexta (25) com todos os episódios da primeira temporada, como é tradicionalmente feito com todas as séries produzidas pela Netflix, com apenas 8 episódios, foi fácil concluir a temporada em pouco tempo, a série começou muito bem e apresenta a premissa do Brasil pós-apocalíptico e a clara divisão socioeconômica entre “o lado de cá”, formado por todos aqueles que não foram qualificados o suficiente para passar pelas provas do Processo, que escolhe apenas 3% dos participantes anuais para viverem dignamente na cidade de Mar Alto, o “lado de lá”.

Em meio a tanta miséria surge uma resistência que planeja acabar com o processo infiltrando espiões na seleção, sem contar uma briga política entre um dos conselheiros de Mar Alto e o responsável pelas seleções do Processo.

A trama realmente é excelente, não nego que fiquei deslumbrado com o primeiro episódio, mas ao longo dos sete episódios restantes, minha empolgação foi diminuindo, a série apresenta muitos defeitos que podem (ou não) serem corrigidos em eventuais futuras temporadas, uma das principais, sem dúvidas são as atuações.

Apesar de contar com grandes nomes da dramaturgia brasileira, como Zezé Mota e até mesmo Sérgio Mamberti (o Dr. Victor do Castelo Rá-Tim-Bum), o elenco jovem não consegue sustentar a força da trama e muitos deles não conseguem passar emoção o suficiente para que você crie empatia por seus personagens, consequentemente diminuindo a qualidade da produção. Outro grande defeito é a clara inconsistência de alguns eventos da trama, toda a tecnologia avançada mostrada ao longo da série, faz com que os funcionários do Mar Alto em alguns momentos pareçam policiais da década de 70 que sequer descobriram a internet.

Talvez isso se deva ao fato da série não apresentar tantos mistérios, tudo é resolvido muito facilmente, o desenrolar acaba sendo apressado demais pra fechar o arco da primeira temporada, e essa aparente dificuldade em solucionar os problemas da temporada seja para que tudo não fique ainda mais pífio.

3% tem um grande potencial que pode revolucionar as produções televisivas e cinematográficas brasileiras, mas muito ainda precisa ser lapidado e melhorado, a fotografia da série é bonita e casa com o jogo de câmeras e os efeitos especiais apesar de serem poucos são feitos de uma forma positiva (para uma série brasileira produzida pela Netflix), mesmo com os problemas apresentados, não desisti da série e quero ver o que a segunda temporada irá me proporcionar, e espero de verdade que isso seja um passo na evolução das produções brasileiras nas terras da ficção científica.