[ANÁLISE] Call Of Duty: Black Ops Cold War | Voltando às origens

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Call Of Duty é um dos títulos mais famosos e lucrativos do entretenimento, sempre mantendo-se no topo das listas de jogos mais vendidos do ano. A franquia cresceu tanto que deu origem a séries menores, sendo uma delas Black Ops. Lançado em 2010, o primeiro título da série arrebatou uma legião de fãs por apresentar um pacote mais do que completo: uma campanha incrível voltada para teorias da conspiração e espionagem, personagens carismáticos, multijogador frenético e o modo cooperativo zumbis, que tornou-se marca registrada da franquia.

Os dois últimos títulos da série, Black Ops 3 e 4, não tiveram uma recepção tão calorosa do público e nem da crítica quanto os anteriores, ficando abaixo do esperado. Boa parte disso ocorreu pelos jogos tomarem um rumo diferente dos primeiros títulos, perdendo quase toda a essência e magia que encantou os jogadores de outrora.

Com o lançamento da nova geração de consoles e necessitando de um título de peso, a Activision decide voltar ao universo da série, trazendo personagens conhecidos de volta em uma aventura nova, mas ainda familiar, que promete resgatar os bons tempos para agradar veteranos e trazer novatos para conhecer a franquia.

Campanha

Ao contrário de Modern Warfare (2019) que optou por uma abordagem realista, madura e crítica dos efeitos da guerra, Cold War entrega-se a galhofa, paranóia e teorias da conspiração para entregar uma das narrativas mais divertida dos últimos anos da série.

Um espião soviético de codinome Perseus possui um plano apocalíptico para destruir os Estados Unidos e alterar completamente a Ordem Mundial, colocando a União Soviética como a nação mais poderosa do globo. Não foi confirmado pela desenvolvedora, mas é provável que este Perseus seja inspirado em um espião soviético de mesmo apelido que realmente existiu e conseguiu infiltrar-se no Projeto Manhattan.

Para impedir o desastre, Russell Adler, um lendário agente da CIA, reúne uma equipe altamente capacitada e nela teremos o retorno de Mason, Woods e Hudson, velhos conhecidos dos fãs.

Nesta equipe, integrantes inéditos na franquia irão juntar-se a caçada por Perseus, incluindo aquele controlado pelo jogador. A novidade é que você deverá criar seu personagem, escolhendo aparência, passado e habilidades, ganhando o codinome Bell.

A criação de personagem não é elaborada como em RPGs, resumindo-se em escolher as características que você deseja preenchendo uma ficha e seu passado, você nunca verá o rosto de seu personagem, nem ouvirá sua voz.

A Treyarch, junto da Raven, consegue produzir uma ambientação muito boa inspirada no início dos anos 80, com direito a figurinos, trilha sonora com Steppenwolf e Pat Benatar e, como não poderia faltar, figuras históricas e fatos reais misturados com ficção e muita criatividade para dar vida ao roteiro.

Os coletáveis, chamados aqui de evidências, terão utilidade para resolver certas investigações conduzidas no centro de operações, local que o jogador irá após concluir missões e poderá interagir com os personagens principais, conhecendo mais sobre os mesmos.

A campanha possui um sistema dinâmico em que você poderá escolher a próxima missão a ser cumprida no centro de operações. Missões opcionais também ficarão disponíveis ao longo da história e recomendo que cumpra-as por dois motivos: possuem fatos interessantes que enriquecem a narrativa e pela oportunidade de controlar Mason junto do lendário sargento Woods, permitindo que você relembre os bons tempos do primeiro jogo em operações fantásticas com toda a marca registrada da série.

As fases são bem variadas entre si e possuem um ritmo de desespero e tensão, já que os personagens estão correndo contra o tempo constantemente para conter uma ameaça gravíssima. Por mais que Black Ops seja focado em espionagem e possua bons momentos explorando o tema, os jogadores que esperam por momentos explosivos e cinematográficos estarão muito bem servidos com cenas épicas e exageradas que só Call Of Duty consegue entregar.

A campanha pode ser finalizada em aproximadamente 6 horas, caso o jogador complete a história junto com as missões opcionais jogando na dificuldade normal. O jogo conta com um sistema de escolhas que afeta o andamento da história e possui 3 finais diferentes, incentivando mais jogatinas.

Multijogador

Se você era daqueles que sentia saudades do estilo mais básico e tradicional do multijogador, temos excelentes notíciais: Cold War abre mão de diversos elementos que foram adicionados ao longo dos anos para entregar uma experiência que consegue ser tradicional e atualizada, mas que preserve a essência da série.

A variedade de armas e a jogabilidade das mesmas continua afiada, fluida e bem responsiva. Os detalhes, como som dos disparos e animação do manuseio das armas é limpo, apresentando melhoria significativa desde a beta. O armeiro do título anterior, umas das melhores adições da história da franquia, retorna para permitir alta customização das armas.

Como todo Call Of Duty no lançamento, as armas estão desbalanceadas. As submetralhadoras estão reinando de forma suprema nas partidas. O patch do dia 20 nerfou a MP5, que era a arma predominante do multijogador, mas ela continua dando um trabalho e tanto, fazendo com que, do ponto de vista competitivo, poucas armas compensem serem usadas. Durante as partidas que joguei, as armas mais populares eram a M16, MP5, AK-47 e a XM4 . Sempre que as partidas acabavam, o jogador que ficava em primeiro lugar portava uma das quatro.

A Treyarch optou por fazer mapas menores e menos complexos, ao contrário daqueles em Modern Warfare (2019): com menos áreas abertas e poucos locais que franco atiradores possam se esconder, incentivando os jogadores ao combate direto e movimentação constante, resgatando o ritmo rápido com o qual o título caiu nas graças de muitos.

O jogo abre mão do sistema de Killstreaks, em que você precisava de sequências de baixas inimigas sem morrer para desbloquear recursos poderosos, para as séries de pontuação. Matar inimigos e executar ações, como por exemplo destruir o equipamento de localização de um oponente, fará com que o jogador acumule pontos. Ao atingir certa cota, mesmo que ele morra, dará acesso aos recursos que o jogador escolher nas suas séries de pontuação quando criar a sua classe.

Esta decisão é o maior acerto do modo multijogador, permitindo que as partidas sejam mais dinâmicas, dando chances para todos jogadores terem o seu momento na partida, seja acionando um helicóptero de ataque para suprimir o time inimigo ou lançando um míssil que poderá dar boa vantagem ao time aliado. Em Cold War, cada jogador pode fazer diferença já que as partidas costumam ser bem acirradas, principalmente no mata-mata em equipe.

O título conta com modos tradicionais e inéditos, como mata-mata em equipe e o estreante, porém divertidíssimo, Escolta VIP para 12 jogadores (6 vs 6) e o novo estilo Armas Combinadas para 24 jogadores (12 vs 12), permitindo mapas maiores e a utilização de veículos em modos como Dominação, velho conhecido dos fãs que obriga os jogadores a controlarem pontos estratégicos. O modo Warzone, battle royale de sucesso absoluto lançado neste ano, retorna como parte integrada de Cold War já em seu lançamento.

O novo modo que vale destaque é o Bomba Suja, composto por 40 jogadores, divididos 10 em esquadrões de 4 operadores, colocando os jogadores para trabalharem em equipe atrás de urânio e detonando bombas sujas, obrigando movimentação constante do time para fugir da área de radiação. A equipe que alcançar a pontuação máxima primeiro é declarada vencedora. Este modo é o que incorpora melhor os elementos do Battle Royale, inaugurados em Warzone, e entrega uma experiência divertida e robusta, principalmente jogando com amigos.

Vale lembrar que Cold War seguirá pela mesma estrada de Modern Warfare (2019): todos os conteúdos extras, com exceção de itens cosméticos, serão lançados gratuitamente para todos os jogadores que possuírem uma cópia do título. A Activision decidiu adotar o sistema de Passe de Batalha dos Battle Royales em que o jogador poderá desbloquear itens cosméticos ao atingir certas marcas e objetivos em sua jogatina, mas aqueles que quiserem desbloquear itens automaticamente, poderão efetuar a compra com dinheiro real.

O jogo conta com apenas 8 mapas no lançamento, com o clássico Nuketown adicionado no dia 24/11 gratuitamente.

Zumbis

Um dos modos mais queridos e aguardados da série retorna em Cold War implementando mudanças, mas conservando tudo o que os jogadores gostam. Uma das melhores mudanças é que o sistema de progressão do jogo é unificado, ou seja, você poderá usar suas armas, níveis, equipamentos e skins obtidos no multijogador para o modo cooperativo e vice versa. Resumindo: não importa em qual modo você escolha, você sentirá que estará sempre fazendo algum tipo de progresso.

Seu personagem conta com um novo recurso chamado melhoria de campo. Elas recarregam com o tempo e funcionam como uma habilidade especial, como por exemplo, o tiro congelante que torna os inimigos mais lentos e permite que você possa repensar sua estratégia ou até mesmo dar uma respirada quando as coisas apertarem.

Os bônus, uma das marcas registradas do modo, retornam praticamente intocáveis e com a mesma ideia: quanto mais zumbis você matar, maiores as chances de conseguir benefícios que poderão salvar a sua vida como munição extra ou a bomba atômica que mata todos os inimigos automaticamente. As caixas misteriosas também marcam presença e adicionam o toque de “loteria”, já que você nunca sabe o que receberá delas.

O que incomodará muitos jogadores é que o modo Zumbis conta com apenas 1 mapa atualmente, enquanto o título anterior contava com 4. A desenvolvedora promete mais mapas ao longo do tempo, de forma gratuita. Uma alternativa para conter essa limitação é que é possível jogar em um modo novo chamado Chacina, exclusivo do PlayStation 4 e PlayStation 5,  que permite que você enfrente ondas de zumbis reaproveitando os mapas do multijogador.

Aspectos Técnicos

É aqui que Cold War deixa muitos jogadores na mão. A obrigatoriedade de fazer com que Call Of Duty seja uma franquia anual cobra seu preço aqui: o jogo sofre de sérios problemas de otimização em todas as plataformas e coisas que seriam resolvidas caso o jogo fosse adiado para polimento.

Os consoles base da geração anterior sofrem para rodar o jogo, principalmente durante a campanha. O jogo demonstra dificuldades para renderizar texturas, fazendo com que demorem segundos para carregar, mesmo quando você não está no controle do personagem.

Esses problemas não mostram-se presentes na nova geração, já que o processador nos novos consoles é mais do que suficiente para dar conta do recado, permitindo gráficos belíssimos em 4k e framerates na casa dos 120 fps. No PlayStation 5, o Dual Sense rouba a cena com os gatilhos adaptáveis e a vibração que simula o recuo de disparo de cada arma.

Em compensação, as versões na nova geração são acometidas de bugs que causam desde o desligamento do controle e do próprio console. Há usuários relatando que o console precisou ser formatado após desligar durante o jogo para funcionar adequadamente, algo preocupante. A Treyarch afirma que está ciente dos problemas e uma atualização será disponibilizada em breve para correção destes bugs.

No PlayStation 5 apenas tive problemas menos graves, como erros da interface de usuário, que me obrigaram a fechar o jogo e reiniciar o console para conseguir resolvê-lo. Durante o modo Zumbis, fui acometido pelo erro 5 vezes no período de meia hora. Encontrei 3 erros em momentos aleatórios que fecharam o jogo repentinamente, mas não trouxeram consequências para o console.

Call Of Duty tem tradição de lançar com problemas de conexão no multijogador. Felizmente, esse título foi lançado sem problemas do tipo. Em todas as partidas, desde o lançamento, não fui acometido por lag ou desconectado por erro de conexão.

Outro problema de multijogador que a série costuma sofrer no lançamento é o renascimento. Não é comum relatos de jogadores que morrem e renascem na frente de outro jogador, sendo mortos imediatamente, sem chance de defesa. Em Cold War, não fui vítima deste incômodo em nenhum momento.

Considerações Finais

Call Of Duty: Black Ops Cold War é um jogo voltado para os fãs que buscam uma experiência tradicional e nostálgica que jogue de forma segura, mas que não soe ultrapassada. Com uma campanha de alto nível cinematográfico e um multijogador sem pausa para respirar, apela a jogadores veteranos mas também recebe novatos de braços abertos.

Os problemas de otimização são complicados e mostram dois lados: o início da geração dos novos consoles é sempre um desafio para os desenvolvedores e a obrigação de Call Of Duty ser um título anual impede que adiamentos ocorram para que polimento extra seja aplicado para identificar e corrigir eventuais problemas.

Com a desenvolvedora atenta aos relatos da comunidade, prometendo correções e muito conteúdo gratuito, Cold War tem potencial para tornar-se um dos melhores títulos da franquia.

*O jogo foi testado no PlayStation 4 e PlayStation 5. Agradecemos a Activision por nos ceder uma cópia do pacote multigeração.