Como John Wick se tornou um fenômeno do cinema de ação

"Não era só um cachorro"

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De tempos em tempos, o cinema de ação hollywoodiano ganha um novo ídolo para integrar o panteão. Exemplos vão desde Rambo com o lendário Sylvester Stallone, comandando a ação frenética e imparável dos anos 1980, ou Arnold Schwarzenegger, entoando o memorável bordão “I’ll be back!” em Exterminador do Futuro. Recentemente, o cinema dos brucutus testemunhou o nascimento do personagem que agora pode ser considerado icônico dentro do gênero, e é ninguém menos do que John Wick.

O primeiro filme do assassino mais temido do planeta é chamado em terras brasileiras de “De Volta ao Jogo“, lançado em 2014, sem grandes pretensões de fazer sucesso ou virar um fenômeno. Unindo uma história bem delineada e redonda com uma ação requintada, cheia de coreografias de luta violentas, o longa obteve sucesso nas bilheterias e um excelente boca a boca entre o público que comprou a motivação do homem atrás de vingança (ou justiça?) a todo custo. Além disso, a carreira do astro Keanu Reeves estava mais uma vez alçada ao mainstream do cinema de ação.

Três anos depois do seu debute, o Senhor Wick retornara mais uma vez em “Um Novo Dia Para Matar“, a sequência que expandiu o mercado do qual John fazia parte e criou uma mitologia para aquele universo, estabelecendo locais, grupos e sociedades que faziam parte do negócio da morte. A cidade de Nova York foi completamente envelopada dentro da fantasia constante de violência que deixava o alerta para o perigo de qualquer cidadão ser um assassino disfarçado.

A roupagem e o tom de suspense mixado com urgência criaram uma certa elegância narrativa e, sobretudo, oferecendo identidade visual através de cenários operísticos que acompanham o desenrolar da trama. O diretor Chad Stahelski ampliou os pontos fortes do primeiro filme, assim como Keanu Reeves encontra na expansividade do corpo e o rosto fixo sem expressões o espaço perfeito para desenvolver seu monossilábico personagem. Aliás, talvez o duo Stahelski/Reeves sejam os maiores responsáveis pelo sucesso da franquia, que aposta num protagonista que se constrói pela lenda dos seus feitos impressionantes, abusando da teatralidade em momentos onde sua presença é imaterial, mas o sussurrar que o nome de John Wick causa em outros personagens é o suficiente para simbolizar sua história.

A dupla também compreende com louvor que não existe necessidade de formular uma narrativa hiper explicativa, que certamente soaria destoante da proposta da obra, então, um dos recursos utilizados para desenvolver o roteiro é justamente priorizar o gestual e as interjeições em vez das linhas de diálogo entre o personagem principal e os coadjuvantes. Reeves segue a receita à risca e acerta perfeitamente na execução. Portanto, a empatia gerada pelo público devido à fragilidade emocional do personagem, mesmo com tanta força nas cenas de ação, incita uma preocupação instantânea com os rumos que a vida do assassino profissional irá tomar, ou seja, mesmo que ele não fale mais do que dez palavras em cena, a audiência quer acompanhá-lo.

Se a ação do primeiro filme era competente e ridiculamente divertida, na continuação, a velocidade e agressividade amplificam a brutalidade à enésima potência, oferecendo um espetáculo conduzido com maestria e propriedade, destacando a personalidade estabelecida pela franquia num gênero cada vez mais repleto de clichês e menos inventividade e criatividade. O final do longa guia Wick para uma expansão definitiva não só de sua própria história, como também da utopia do mundo dominado pelo comércio dos assassinatos.

John Wick: Parabellum é o terceiro capítulo da saga e estreia na próxima quinta-feira (16) nos cinemas nacionais. Toda a expectativa depositada em torno deste lançamento parece que será correspondida, pois a crítica especializada exaltou a produção e os números da bilheteria poderão ser ainda maiores do que o filme anterior. De qualquer modo, John Wick já pode ser considerado um ícone do cinema de ação moderno, constituindo uma identidade própria tanto pelo protagonista e suas individualidades, quanto pelo atraente mundo ficcional onde as histórias se passam, além de uma ação única, primorosa e poderosa.