Nos últimos anos, o cinema tem recebido uma leva de continuações de grandes obras do passado, que ficaram por muitos anos sem novidades, principalmente no gênero do terror.
Doutor Sono, que depois de quase 40 anos continuou a trama de O Iluminado, e Halloween (2018), que ressurgiu dando sequência à franquia e até mesmo servindo de gancho para novas continuações, são grandes exemplos dessa tendência.
Felizmente, A Lenda de Candyman segue nessa mesma linha.
No novo capítulo, que é uma continuação direta do filme de 1992 e não um reboot ou remake, como muitos pensavam, são feitas adições extremamente valiosas à mitologia do assassino sobrenatural Candyman.
Toda a narrativa favorece a inserção de elementos que levam o filme pra longe da ideia de simplesmente tentar refazer o que já deu certo em uma franquia, que é o maior erro cometido por algumas tentativas de sequências que fracassaram (oi, O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio). Embora seja indispensável assistir ao Candyman de 92, a sequência faz questão de situar o espectador em pontos importantes da trama para que ele não fique perdido, caso não tenha conferido o anterior ou esteja conhecendo a franquia só agora.
Baseando-se ainda no conto de Clive Barker, que originou o primeiro filme, aqui acompanhamos a história de Anthony McCoy (Yahya Abdul-Mateen II), um pintor que está sem inspiração para produzir um novo material há algum tempo, bem como participar de galerias de arte pra dar continuidade à sua carreira.
Depois de ficar sabendo da história de Candyman e receber um resumão do filme de 1992, Anthony se vê extremamente seduzido pela lenda e começa a usar isso como inspiração para seu trabalho. À medida que se vê mais absorto pela mitologia sobrenatural do assassino, Anthony começa a perceber que está passando dos limites, já que isso começa a interferir em sua vida pessoal e até mesmo a ganhar força na sociedade.
A direção de Nia DaCosta – responsável pelo ótimo thriller policial Passando dos Limites (2019), e que está no momento comandando a direção de The Marvels, sequência de Capitã Marvel para a Marvel Studios – faz com que o filme seja extremamente bem conduzido e intrigante, como deveria ser.
Vale dizer que o longa sofre grande influência de seu produtor executivo, o incrível Jordan Peele, cujo estilo de trabalho pode ser facilmente percebido à medida que a história avança.
Por falar nisso, fica clara a intenção de fazer com que o filme seguisse o estilo de Corra e Nós (positivamente falando), ambos dirigidos por Peele.
Em meio à temática de horror, temos também uma abordagem pesada de críticas em relação ao segregacionismo, racismo e o descaso das autoridades e violência policial para com a comunidade negra, algo que é claramente visto no Candyman original e que se integra à nova sequência com uma abordagem mais precisa do que a feita por Bernard Rose no original.
Não podemos deixar de destacar que a trama também é estrelada pela excelente Teyonah Parris, que fez sua estreia no MCU em WandaVision e que retomará a parceria com DaCosta em The Marvels.
Totalmente necessário, envolvente, bem produzido, conduzido, críticas pertinentes e sangue. A Lenda de Candyman passa longe de ser apenas uma continuação para ganhar dinheiro e se mostra grande exemplo de como o terror deve ser abordado e como uma sequência pode funcionar, mesmo depois de um longo hiato.