Nessa quinta-feira, chegou aos cinemas o filme Brightburn: Filho das Trevas, que tem uma história que, à primeira vista, é muito conhecida no mundo todo, principalmente pelos fãs de quadrinhos. Uma família, numa cidade de interior dos Estados Unidos, em uma noite pacata, se depara com um estranho objeto que cai do céu, direto no quintal de sua propriedade. De início, parece que é um meteorito, mas olhando de perto, descobre-se uma grande surpresa: o suposto meteorito é uma nave com um bebê de outro planeta. Percebem a semelhança da história com a origem de um grande herói da DC Comics?
Mas, as semelhanças acabam aí. O filme tem como proposta principal apresentar uma versão muito diferente do Superman. O roteiro de Mark Gunn e Brian Gunn (irmãos de James Gunn) apresenta uma história em que o garoto, à medida que começa a descobrir seus poderes, se mostra um ser maligno, influenciado pelo veículo que o trouxe à Terra e com apenas um objetivo: dominar.
O filme mostra a trajetória de Brandon Breyer (Jackson A. Dunn) e sua transformação. De início, o longa tenta te convencer que aquele garoto estudioso e quieto, amado por sua família, jamais seria um monstro e faz um bom trabalho nisso. Porém, as coisas começam a dar errado. Perto do seu aniversário de 12 anos, seus impulsos malignos começam a se desenvolver e você começa a se perguntar, o que ele poderá fazer? Quando seus poderes despertam, o filme faz um bom trabalho em imaginar como uma criança com poderes lida com as crises da juventude: bullying, amor e puberdade, mas sempre te lembrando que Brandon não é deste mundo. O filme conduz a narrativa de forma direta, na maior parte das vezes, você não sente que o filme está enrolando e muitos fatos que precisam ser mostrados, têm relação direta com a transformação do garoto.
O longa não tem intenção de ser um terror na linha slasher, com o garoto matando indiscriminadamente todos que entram em seu caminho. Mesmo assim, as mortes cometidas por Brandon chocam pelo seu nível de violência e detalhes, sendo explícitas e bem expositivas. Em uma das cenas, um personagem precisa arrancar um pedaço de vidro do próprio olho, causando um desconforto tremendo.
A direção de David Yarovesky é regular. Não há nada criativo ou espetacular, é apenas normal. O destaque do diretor fica nas cenas em que Brandon aparece trajado com a máscara grotesca e a capa, encarnando a personalidade de Brightburn. Outra sacada inteligente do diretor é utilizar táticas para driblar os custos de produção, camuflando as deficiências dos efeitos especiais sem comprometer nenhuma das cenas em que o garoto demonstra seus poderes. Não espere no fim uma grande batalha, cheia de ação e destruição, no nível de O Homem de Aço, do diretor Zack Snyder. Mesmo assim, o ato final, em que Brandon libera seu poder, é muito bem conduzido e interessante, dando a noção do poder absurdo de destruição dele e todo o perigo que ele representa ao nosso planeta.
O roteiro é morno, sem nada extraordinário, porém funciona na proposta do filme. As deficiências são compensadas por outros fatores, como por exemplo, as atuações do círculo principal de personagens (Dunn, Elizabeth Banks e David Denman), incluindo Brandon e seus pais, que são bem competentes. Todos os três, principalmente Jackson Dunn, são extremamente naturais e convincentes.
A trilha sonora é simples, mas funciona, principalmente nos momentos de tensão.
Brightburn não é um filme perfeito e muito menos um grande blockbuster, porém se mostra muito honesto e até abre brechas para uma sequência. Mesmo assim, a produção merece reconhecimento pela originalidade e ousadia de recriar uma das histórias mais conhecidas de todos os tempos em um filme de horror, apesar das limitações de orçamento.
Não é o melhor filme do ano, mas certamente se configura como uma das surpresas agradáveis do cinema em 2019.