[CRÍTICA] Duna | Um espetáculo lento, mas poderoso

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Como muitos fãs da obra de Frank Herbert esperavam, a nova adaptação de Duna com certeza precisaria ser um show que fizesse jus ao livro.

Comandado por Denis Villeneuve, que tem em seu currículo filmes como: A Chegada (2016) e Blade Runner 2049 (2017), o novo longa tem dois pontos de partida extremamente importantes, que o impediriam moralmente de ser um filme ruim: a história original em que é baseado, que é extremamente rica e marcante e a competência do diretor. Com base nisso, conseguimos obter o verdadeiro suco do espetáculo visual e narrativo.

O estúdio já planejava que a história seria abordada em partes, com o filme de 2021 sendo a primeira, por isso, temos uma divisão entre os eventos para que as coisas aconteçam de forma mais lenta e completa, o que acaba por influenciar o ritmo do filme. Embora isso seja necessário, Villeneuve consegue construir em Duna uma evolução em escalas para que o espectador se interesse pelo que está acontecendo, sem ficar muito entediado, já que as coisas seguem na primeira marcha.

Primeiramente, é necessário entender o contexto de Duna no aspecto do público que não teve acesso ao livro ainda ou não viu as adaptações anteriores, como a versão de David Lynch. Paul (Timothée Chalamet) é o promissor herdeiro do clã Atreides, que tem tido sonhos que mostram uma misteriosa garota (Zendaya). Mais adiante, descobrimos que a tal garota é moradora do planeta Arrakis, onde existe uma substância única que torna aquele local – e seu povo – constantemente explorado pelo império galático (ou Império Padishah, como nos livros).

Com o clã Atreides assumindo o comando do planeta após a retirada dos maléficos Harkonnen, toda uma conspiração parece começar a se desenrolar e Paul precisará desenvolver suas habilidades para encontrar seu caminho.

Somente na descrição acima, todos já esperam algo nível Star Wars ou Star Trek, o que é compreensível, já que as duas franquias estabeleceram um norte para a ficção científica espacial e as obras e adaptações que as seguem acabam sendo comparadas. Ambas as obras apresentam arcos envolventes, com personagens carismáticos e acontecimentos redondinhos e dinâmicos, o que pode causar estranhamento naqueles que esperam algo exatamente assim em Duna, que funciona de forma diferente.

É claro que temos locações de encher os olhos e batalhas incríveis, mas a abordagem é diferente na perspectiva da ação. Enquanto o filme sobe em escala e o objetivo de Paul vai ganhando sentido tanto para quem assiste quanto para o personagem, a ação vai esquentando no pano de fundo, enquanto essa lentidão no desenvolvimento do protagonista é quem toma as rédeas na narrativa. E isso não é problema nenhum, afinal, Duna é Duna. O problema talvez more mesmo na montagem.

Enquanto toda a mitologia da história e seus personagens ganham apresentações e contexto neste universo, os ganchos usados para transitar entre argumentos e momentos podem soar meio confusos e até que bruscos, principalmente no fim, que destoa totalmente do que estamos acostumados a ver no cinema quando uma sequência faz parte dos planos. Apesar disso, em um aspecto geral, dentro do interim do que é apresentado, pouco afeta ou incomoda infimamente perante a grandiosidade do restante.

Duna pode agradar quem leu a obra de Herbert ao mesmo tempo que tem a tarefa de introduzir um novo mundo ao público geral, criando novos fãs, e faz isso com sucesso, já que Villeneuve sabe o que faz e fez muito bem com o que lhe foi emprestado.