[CRÍTICA] Aquaman 2: O Reino Perdido | A água parada da DC que marca o fim da era Snyder

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O filme foi vítima de diversos problemas, dos quais o próprio estúdio fechou os olhos

Após diversos anos de idas e vindas, esse projeto realmente submergiu à superfície. Assim como Flash (2023), o longa era cercado de expectativas, especialmente pelos créditos pelo sucesso de seu antecessor. Todavia, o tempo e as diversas falhas não ajudaram a DC (e a Warner) a aprender a entregar um filme mais bem desenvolvido. Em vez disso, fazendo uma analogia ao personagem, entregaram o que representa perfeitamente a DC: uma poça de água parada que não vai a lugar nenhum e só acumula sujeira.

A missão impossível

James Wan tinha uma missão difícil, que era entregar uma premissa que se igualasse ou superasse o longa anterior do personagem, trazendo o carisma de Jason Momoa novamente. Utilizando alguns pontos e até piadas que deram certo em Aquaman 1, tratando-se de um universo vasto, Wan trouxe alguns recortes de Star Wars, Guardiões da Galáxia e Senhor dos Anéis. No entanto, com uma obra fragilizada, nem imagens que remetem a combates de naves ou exércitos enfrentando criaturas monstruosas salvaram esse projeto.

A falta de sinergia dos personagens é fácil de sentir, personagens fundamentais que se tornam inúteis, a tentativa de fazer um filme de família e as diversas frases ou momentos que tentam ser engraçados e acabam morrendo nas mãos de Momoa. Vale apontar que esse último acontece com frequência no enredo.

Os créditos dessa história ficam nas mãos do próprio James Wan, David Leslie, que tem uma extensa lista de materiais relacionados ao gênero de terror (Invocação do Mal 3, A Órfã e The Walking Dead) e cooperou no primeiro filme. Thomas Pa’a Sibbet, cujos trabalhos foram todos ao lado de Jason Momoa, além do próprio ator que dá vida ao Aquaman.

O estúdio poderia suspender e descartar o material, assim como fizeram com Batgirl? Seria melhor! assim poderiam ajustar os problemas e não jogar toda a aposta nas mãos do protagonista do primeiro filme. Afinal, a protagonista feminina (Amber Heard) encarava um grande problema fora das telas, fato que acarretaria fortemente no longa.

O mergulho sem volta

Amber-Heard-Aquaman-2-Warner-Bros

Tudo começou em 2018, onde Amber Heard se identificou como “uma vítima pública representando abuso doméstico”, fato que acabou sendo ligado a Johnny Depp e teve fim em dezembro de 2022 com vitória para o ator. Nesse período, Wan já executava regravações e fazendo com que a participação da atriz fosse reduzida, já que a repercussão negativa traria impacto.

Sejamos sinceros, Mera era um dos pontos fortes do primeiro filme, diminuir seu papel teve seu impacto seja nos momentos de ação (sem emoção) ou nas cenas do casal. A personagem apenas surge, reage e não tem impacto ou brilho de outrora.

E esse impasse não incomoda apenas com o personagem de Amber, mas todas as figuras que antes tinham papéis vitais na história. Aqui absolutamente todos carecem de sabedoria, sobrando para Arthur Curry (Jason Momoa), que sempre foi um dos fatores cômicos desse universo, dizer para qual direção apontar. De fato, o ator que é o protagonista acaba não conseguindo sustentar nenhuma de suas propostas, se tornando crivelmente chato.

Dito isso, é óbvio que desenvolveriam uma parte humorada do filme, mas ele sequer cumpre seu papel, surgindo apenas na metade do segundo ato. Aquaman 2 dispara em várias direções, porém seus tiros na água perdem a força e se tornam algo que torcemos para ser encontrada uma solução.

As maçãs que salvam!

Arraia-Negra-Warner-Bros

O que realmente traz uma respiração à superfície desse lamaçal são as atuações de Yahya Abdul-Mateen II (Arraia Negra) e Patrick Wilson (Orm). Sem dúvida, por levarem a sério seus trabalhos, ambos conseguem desenvolver com tranquilidade seus personagens e fazer com que queiramos ver mais deles em tela, já que o resto não se sustenta.

Enquanto Jason tenta ser o fator engraçado e falha, Yahya Abdul-Mateen II encarna um vilão sério, leal aos ideais e mais instável do que foi visto anteriormente. Patrick Wilson adota o estilo mais irônico, algo que torna essa jornada mais leve e tenhamos ele com mais tempo de tela.

Se por um lado o roteiro tem grandes fragilidades, por conta dos diversos problemas, os efeitos especiais acabam preenchendo os olhos dos espectadores. É lindo o fato de acompanharmos a fauna e a flora do fundo dos mares mais uma vez e questionarmos sobre os perigos que podemos encontrar no fundo do oceano. Os combates recordam com carinho lembranças de Star Wars e outros títulos, mas apenas recordam, porque alguns momentos o espectador pode até achar cansativo.

O after da tragédia

Um motivo que podemos trazer dos oceanos é o fato da falta de sal, ou melhor dizendo, da divulgação que seria peça fundamental para esse material. Talvez isso possa ter cooperado facilmente para que o longa não fosse muito falado próximo ao período de sua estreia. Esse trabalho só teve início com o fim da greve dos artistas, em 9/11, faltando um mês para o filme.

Então, recapitulando todo o projeto, James Wan, em todo esse processo, lidou com um roteiro feito por pessoas que eram ligadas mais ao cenário de terror, uma atriz que estava com problemas nos tribunais, a pressão do estúdio para que reorganizassem o filme, fazendo com que passasse por regravações e o último longa da DC pelo velho selo. O que poderia dar errado? No fim? Tudo.

Não é possível ter envolvimento com a história, diálogos fracos, ação despretensiosa, cenas que são possíveis notar que foram cortadas ou editadas por conta de problemas. No fim, esse projeto representa exatamente todo esse universo criado lá atrás com Zack Snyder, algo caótico que finalmente encontra seu fim. Uma poça que agora é drenada para que um universo mais organizado possa surgir, mesmo na baixa do gênero de heróis no cinema.