Tom Holland sofre bastante no papel do Homem-Aranha. Não como o personagem em si, embora ele já tenha passado por poucas e boas e até mesmo desaparecido por cinco anos. O ator é cobrado constantemente pelos fãs por conta da abordagem que é feita em cima de seu Peter Parker, que diferentemente do que vemos nos quadrinhos – e franquias anteriores dos cinemas – é muito dependente do Homem de Ferro e sempre tem alguém para lhe amparar.
Peter Parker é um personagem com que os fãs conseguem se identificar, principalmente por seus problemas financeiros mais palpáveis, algo que é inclusive marca registrada do super-herói da Marvel.
Azarado, sem um tostão no bolso e com problemas em seus relacionamentos, o Homem-Aranha é um dos favoritos dos fãs por ter problemas que os fãs também têm, mas desde a chegada desta versão do MCU, algo havia se distanciado das características principais do personagem.
Apadrinhado por Tony Stark, recebendo trajes tecnológicos, bugigangas de seu mentor e sempre muito imaturo, o Peter de Holland acabou criando essa resistência e até uma certa rejeição em parte dos fãs.
Se você é um dos que estava cansado disso, vai ficar feliz em saber que Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é justamente o ponto de virada que o herói precisava para se aproximar mais de sua contraparte dos quadrinhos.
Partindo de onde parou o filme anterior, vemos que Mystério teve sucesso em seu plano final: incriminar o Homem-Aranha por sua morte e ainda revelar a identidade secreta do jovem Peter, fazendo a vida do garoto virar do avesso.
Assediado pela mídia e pelos cidadãos que se dividem em apoiá-lo ou apoiar Quentin Beck, o herói começa a perceber uma série de consequências pesadas que se desencadeiam com a revelação, inclusive para aqueles que vivem ao seu redor. Percebendo todo este impacto negativo, ele vai em busca de magia para resolver o problema, mas isso acaba sendo apenas o estopim para tudo o que acontece no filme.
O longa é fluido e rápido. Mesmo com o longo tempo de tela, Jon Watts consegue trabalhar bem o ritmo narrativo e desenvolver a trama cujo propósito é mostrar que está na hora do novo Peter “crescer e aparecer” na vida.
Temos um herói em busca de consertar seus erros e vilões que, embora alguns tenham mais destaque e sejam melhor aproveitados que outros, foram muito bem utilizado nesse universo de novas possibilidades.
Com tanta coisa acontecendo, fica a pergunta: tantos elementos assim funcionam para a brusca transformação do Teioso?
Jon Watts encontrou seu caminho. Apesar de De Volta ao Lar e Longe de Casa segurarem recepções positivas da crítica, os fãs ainda mantinham um pé atrás com o diretor. Em Sem Volta Para Casa, com auxílio do argumento de Erik Sommers e Chris McKenna, Watts soube conduzir a gigantesca salada de acontecimentos de forma que nada fica exagerado demais, tentando não ofender o espectador.
Apesar de se apoiar um momentos cômicos que não funcionam muito, soluções incrivelmente convenientes e diálogos que, apesar de interessantes, poderiam ser substituídos por informações mais relevantes, é válido deixar a picuinha técnica de lado e apenas aproveitar as interações entre os queridos personagens e todos os eventos pelos quais eles estão passando para encher os olhos de emoção, porque o que a Marvel e a Sony fizeram nesse filme, meus amigos, ah isso não se vê todo dia.
A jornada de crescimento de Peter se mostra necessária na urgência apresentada. O filme joga na cara do herói e de quem assiste que ele precisa encarar consequências reais e dolorosas, para aprender sobre as responsabilidades que vêm junto com o manto que escolheu vestir para ajudar as pessoas e é exatamente isso o que o filme aborda: crescer em magnitude narrativa e fazer o personagem crescer em desenvolvimento.
Ser um herói é uma jornada de perigo e conceder às pessoas uma segunda chance, algo que remete muito bem o que o próprio Tom Holland vive com os fãs mais ferrenhos do Aranha.
Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é definitivamente um evento estrondoso dentro do universo da Marvel, que se esforça para não se perder no próprio jogo de homenagens. A Marvel e a Sony abraçaram a salada absurda que o multiverso pode oferecer e, sem medo de serem felizes, dão aos fãs o que eles mais querem.