Homem-Aranha: De Volta ao Lar | Crítica 2

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Dan Slott, um dos geniais escritores das histórias do Aranha nos quadrinhos, uma vez falou que considerava Peter Parker o maior vilão do Homem-Aranha. DeMatteis, outro grande nome na carreira herói, escreve em seu clássico “A Última Caçada de Kraven” que “o Homem-Aranha é só uma máscara”. Straczynski desconstrói e divide o herói entre Homem
e Aranha. Um híbrido. Existem outros.

Fato é, a linha que divide Peter Parker do Homem-Aranha é tão tênue que se torna imperceptível. Onde acaba o adolescente brilhante do Queens que vive com a tia e começa o amigão da vizinhança, o Homem-Aranha? Não é possível se envolver com um sem que, eventualmente, seu caminho se cruze com o outro.

E é exatamente essa essência que Homem-Aranha – De Volta ao Lar se propõe a realizar enquanto, ao mesmo tempo, para fazer jus ao seu nome extremamente bem escolhido, encaixa o escalador de paredes no longevamente estabelecido universo cinematográfico da Marvel.

O filme apresenta um Peter Parker ( Tom Holland ) que vem diretamente de um primeiro contato real com os super-heróis (durante Capitão América: Guerra Civil) que admirou durante anos. Entre seus semelhantes, Peter sente que finalmente encontrou seu lugar e vocação, já que, diferente dele próprio, um adolescente tímido e isolado socialmente, o Homem-Aranha encarna o poder e (as responsabilidades) a liberdade.

Sob o pretexto de filmar um filme de super-herói, Jon Watts abraça a missão de fazer um filme colegial com um protagonista que claramente não se vê mais nesse mundo, mas não completou sua transição ainda. O drama da juventude e do crescimento brilha durante cada cena do filme, acompanhando cada decisão do herói.

Seu caminho, no entanto, se cruza com o do Abutre ( Michael Keaton ), um ladrão e traficante de materiais exóticos deixados para trás nas batalhas dos Vingadores, numa fiel adaptação do clássico vilão do Aranha.

As atividades do vilão em direção a Tony Stark (Robert Downey Jr.) chamam a atenção de Peter, que tenta a todo custo detê-lo para se provar capaz de integrar o mundo que tanto o fascina e perpetuar seu lugar nos Vingadores.

O núcleo escolar de Peter divide o tempo de tela entre si. Ned é o melhor amigo de Peter, mas, diferente do amigo, entende melhor a sua vida de adolescente e sonha em ser aceito socialmente nesse meio, embora também ame super-heróis e faça de tudo para ajudar o Aranha.

Liz (Laura Harrier) continua tão madura quanto sua contraparte clássica nos quadrinhos, mesmo sendo mais velha que os demais nessa versão. Eugene “Flash” Thompson é uma grande leitura do personagem e cumpre o papel de ser uma pedra no sapato da ascensão social de Peter, reforçando sua convicção de que não pertence a esse meio. Enquanto Michelle (Zendaya) diverte pela sua aparente despreocupação com a vida.

May Parker (Marisa Tomei) e Happy Hogan (Jon Fraveau), às suas maneiras, se relacionam com Peter. Se May é a parente que Peter quer evitar, por ser parte da vida de Peter Parker, Happy é a representação do próprio Tony Stark, a quem o Homem-Aranha precisa impressionar, reforçando a dualidade que Peter enfrenta em busca de seus sonhos.

As cenas de ação são ótimas, com as diferentes armas do Abutre e suas diversas funções sendo utilizadas contra o Homem-Aranha e seu arsenal de teias (GRANADA DE TEIA! THWIP!)

No geral, De Volta ao Lar é um ótimo filme do Homem-Aranha e, se não for sobre a origem de um herói, é sobre a construção de um, levantando questões pertinentes sobre o que faz de um herói um herói, afinal. Ao mesmo tempo, é um ótimo filme sobre Peter Parker e os desafios de ser um adolescente. Tal como era nos anos 60, tal como é hoje. Jovens não mudam. Heróis também não.