No último final de semana, chegou ao catálogo da Netflix a leva final de episódios da primeira temporada da série animada League of Legends: Arcane. Desde o princípio, a série cativou o público e a crítica especializada, alcançando um sucesso estrondoso na plataforma e deixando todos engajados com a história das irmãs Jinx e Vi.
Antes de comentarmos sobre a temporada como um todo, temos de olhar um pouco ao passado e lembrar de tudo o que aconteceu para que a Riot Games conseguisse lançar uma produção tão aclamada.
League of Legends (LoL) foi lançado em 2009, com apenas 40 campeões. Os desenvolvedores do jogo, em sua maioria, eram pessoas que trabalharam no Dota, outro Multiplayer Online Battle Arena (MOBA) e grande rival de LoL, com isso, conseguiram integrar alguns elementos conhecidos e queridos pelos fãs no jogo, o que atraiu rapidamente uma base sólida de jogadores.
Com o passar do tempo, o LoL acabou se modificando e conquistando sua identidade única, o que deixou parte da comunidade antiga revoltada, ocasionando em piadas desagradáveis com o jogo. A parte em que LoL conquistou sua própria identidade e se diferenciou de outros MOBAs é importante, pois é onde percebemos que o jogo sempre caminhou para uma expansão de seu universo e história, em uma jornada constante de evolução.
No início, os personagens não possuíam histórias complexas e tudo girava em torno da Liga. A Liga das Lendas (League of Legends) era a instituição que supervisionava a resolução de conflitos políticos, sendo formada por um grupo de magos poderosos, que decidiram que os conflitos deveriam ser resolvidos nos Campos da Justiça (Summoner’s Rift, o principal mapa do jogo).
Os personagens que juntavam à Liga e eram chamados de “campeões” e era basicamente nisso que a motivação dos personagens se baseava.
Com o passar do tempo, os personagens ganharam uma origem própria, com histórias que se cruzavam e regiões do universo de Runeterra que se se expandiam cada vez mais, o que exigia uma narrativa mais coesa. Foi através dessa evolução e expansão narrativa que a Riot deixou de ser apenas uma desenvolvedora de jogos para se tornar uma criadora de histórias e experiências, permitindo que finalmente chegássemos em League of Legends: Arcane.
A reformulação do universo nos trouxe histórias, seja dos personagens ou das regiões nas quais eles vieram, permitindo o desenvolvimento dessas histórias em outras mídias. Inicialmente, a Riot se concentrou no desenvolvimento de biografias, passando para contos, histórias e, finalmente, começou a flertar com pequenas animações nos mais variados estilos para apresentar skins, novos personagens e eventos do League of Legends.
Essas pequenas produções abriram os olhos da comunidade para a possibilidade de uma série ou filme baseados naquele universo tão espetacular e foi aí que finalmente chegamos em Arcane.
Arcane se concentra nas cidades de Zaun e Piltover, mostrando a dualidade entre o lado baixo e mais pobre, chamado de subferia, e o lado alto com uma organização social e econômica mais próspera. Isso cria perspectivas de vida diferentes para os personagens que vive nos diferentes pontos da cidade.
Enquanto os zaunitas se desenvolvem por necessidade de sobrevivência, os piltovenses se desenvolvem por orgulho e prestígio como cidade do progresso. Esses fatores aguçam os conflitos entre as duas cidades, mas somente um lado sofre tão duramente as consequências.
A reformulação do universo nos permitiu ver uma trama com aspectos equilibrados e desenvolvimento que mantém um nível de qualidade altíssimo ao longo de todos os nove episódios da temporada.
A estética é sem dúvidas o ponto alto aqui. Zaun e Piltover reúnem o melhor do estilo steampunk no universo de League of Legends e a série sabe se aproveitar muito bem disso na composição de cenário e design de engenhocas e de personagens.
As cores são agradáveis aos olhos, se contrastam muito bem com o ambiente, isto em ambas as cidades. Em Zaun, utiliza-se cores que remetem a substâncias tóxicas e eventos noturnos, como verde, roxo e azul, vezes escuros e vezes vibrantes, acompanhando devidamente o clima de cada cena. Já na cidade do progresso, temos cores mais claras e limpas, destaca-se dourado e azul brilhante que remetem a tecnologia hextech.
Arcane conta com uma fotografia digna de atenção, com detalhes visuais que valorizam ainda mais a trama. Em cenas de luta, há uma verdadeira brincadeira das animações em conjunto com a trilha sonora, que permitem o espectador sinta ritmo da cena em questão. Outro ponto a ser destacado é a imersão na cabeça da Jinx que a animação cria, através de uma verdadeira reprodução psicodélica incrível.
Além de personagens extremamente carismáticos e cativantes, temos um enredo envolvente, ótima fotografia, uma trilha sonora original digna de grandes produções Hollywoodianas e um estilo de animação tão ímpar e hipnotizante que merece ser equiparado ao igualmente excelente Homem-Aranha: No Aranhaverso.
Através de Arcane, os fãs puderam conhecer melhor alguns de seus personagens favoritos, acompanhar a origem deles que, até então, só se sabia por alguns textos publicados pela Riot e até mesmo se aprofundar mais nesse universo tão mágico de Runeterra.
Mesmo que você nunca tenha jogado League of Legends, ou até quem tem preconceitos pelo jogo, consegue gostar de Arcane e se apaixonar por seus personagens. A narrativa criada pela Riot consegue ser inclusiva o bastante para cativar a todos.
A escolha de focar na região de Piltover e Zaum, bem como concentrar a trama em Jinx e Vi, foi certamente um trunfo muito bem usado pela Riot, já que são personagens extremamente identificáveis, cujas origens dramáticas fazem com que o público torça por elas e, muitas vezes, tenha que se ver dividido sobre qual lado merece ser apoiado.
Arcane é a coroação de toda essa evolução da Riot, que há muito deixou de ser apenas uma desenvolvedora de jogos e, atualmente, pode ser comparada à Marvel, o que nos faz pensar que muito em breve, o Universo Cinematográfico League of Legends ganhará um novo capítulo, colocando em risco a soberania da Marvel Studios e companhia.