Após duas temporadas muito boas, uma terceira muito ruim, um cancelamento e uma salvação pela Netflix, mais uma temporada boa e outra mais ou menos, Lucifer chega ao seu fim em sua sexta temporada. Fico feliz em dizer que, diferente da parte 2 do ano anterior, dessa vez fizeram direito e encerraram de vez, sem espaço para mais episódios só para encher linguiça mais pra frente. E fico mais feliz ainda em dizer que o final da série é satisfatório, embora esteja uns dois anos atrasado.
Como visto no quinto ano, agora Lucifer deve lidar com o fato que ele precisa se tornar o novo Deus e como isso vai afetar seu relacionamento com Chloe Decker e todos seus outros companheiros. E ainda bem que, dessa vez, a série não focou apenas no casal protagonista resolvendo crimes enquanto lidam com seus problemas através das ridículas coincidências dos trágicos assassinatos com suas vidas pessoais. Aqui, finalmente tivemos novas formas de desenvolver a trama, coisa que eu sentia falta desde a segunda temporada. Até mesmo com a ida para a Netflix após seu salvamento, e a diminuição de episódios, parecia que a série simplesmente não conseguia contar uma história sem os famigerados “crimes da semana”, coisa comum em séries investigativas, principal inspiração para a produção do capiroto.
Fechamentos dignos para todos os personagens
Por se tratar da sua última temporada, a série faz questão de fechar os arcos que ainda não haviam sido fechados anteriormente, como o romance de Mazikeen e Eva ou o “dedo podre” de Ella. Junto disso, ainda dá tempo para vermos um pouco mais do que aconteceu com Dan após seu trágico final na péssima segunda parte da quinta temporada. O policial acaba tendo um desenvolvimento muito interessante em seu arco, encerrando de vez e de uma forma bonita, sem a necessidade de um episódio inteiro completamente desnecessário (sim, estou falando novamente daquela horrível parte 2 da quinta temporada).
Obviamente, o núcleo principal também se encerra, com Lucifer Morningstar e Chloe Decker chega no seu ápice como casal e parceiros, especialmente após a chegada de uma nova personagem que abala todas as circunstâncias, fazendo o antigo senhor do inferno se questionar sobre suas decisões para o futuro. Dito isso, toda a trama envolvendo esta nova personagem, vivida por Brianna Hildebrand (Deadpool), é uma excelente adição, servindo como excelente foco principal para o último ano da série. Além disso, o arco tem um dos fechamentos mais inteligentes de toda a série, revertendo qualquer expectativa que eu tinha em relação ao mesmo.
Menos é mais, mas ainda rola filler
Diferente também do ano anterior, a sexta temporada de Lúcifer tem apenas 10 episódios, uma escolha sábia para encerrar a série de forma certa. Infelizmente, para não perder o costume, ainda há espaço para episódios inteiros para resolver uma única coisa que se resolveria em 10 ou 20 minutos. Chega a ser chato como a série perde tempo dando 40 minutos para histórias que não acrescentam em nada a trama, ou que até mesmo não precisavam novamente ser abordadas. Cito como exemplo o episódio focado no casamento de Maze e Eva, onde temos a primeira aparição de Adão. O cara aparece, cria um problema simples de ser resolvido, e a série demora quase uma hora para fazer aquilo que já sabíamos que ia acontecer.
Ao mesmo tempo, a série traz tramas que poderiam ser interessantes para um episódio próprio, mas que acabam sendo apenas 10 minutos aqui e ali, como o arco de Amanadiel tentando se tornar policial que mais uma vez toca no assunto da violência contra pessoas negras que ocorre nos Estados Unidos, para se encerrar rapidamente sem nenhuma consequência narrativa, ou se possuem qualquer resultado, só é mostrado no último episódios apenas como forma da série dizer “Ei! Lembra disso aqui que mostramos rapidamente uns episódios atrás e não falamos mais? Então, foi isso que aconteceu”. Graças a coisas assim, temos uma temporada de 10 episódios que provavelmente poderiam ser 8.
No fim, uma importante mensagem
Desde os seus primeiros episódios, uma das principais mensagens que Lucifer tentava passar era de que as pessoas eram responsáveis pelos seus atos, e que até mesmo pessoas consideradas irredimíveis poderiam encontrar um lado bom dentro de si mesmas. Agora, após seis anos com altos e baixos, a série finalmente chegou no seu final e a mensagem nunca esteve tão clara. O próprio diabo teve sua tão esperada redenção, encontrando sua razão para ter se tornado o rei do inferno há milhares de anos, além de também encontrar seu verdadeiro amor e criar laços verdadeiros com outros. Acaba sendo gratificante ver a jornada do capiroto para se tornar algo maior.
Em resumo, Lucifer se encerra de forma satisfatória, mesmo tendo passado do ponto. Muitos acabaram deixando a série de lado por ela fugir do material fonte, que são as HQ’s de Neil Gaiman, mas acredito que o próprio autor se sentiu feliz com essa adaptação, pois o objetivo principal foi mostrado aqui, mesmo que de forma não tão clara para muitos, ou que isso tenha sido ofuscado pelos exageros e apelos para manter uma audiência. Ainda assim, as capirotagens do coisa ruim renderam uma jornada interessante, e o seu final me deixou com um sorriso no rosto afinal de contas.