[CRÍTICA] Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis | O Tigre e o Dragão da Marvel Studios

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Quando foi anunciado na San Diego Comic-ConShang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis me parecia mais uma tentativa da Disney de agradar somente e unicamente o mercado chinês, dessa vez usando a imparável Marvel Studios. Utilizando um personagem desconhecido do universo Marvel, tudo o que eu achei que seria apenas mais um filme divertidinho de origem, e que bom que eu estava enganado.

O filme dirigido por Destin Daniel Cretton já começa bem pelo seu protagonista. Simu Liu se entregou de corpo e alma para viver Shang-Chi, fazendo inclusive com que seja difícil de separar o ator do personagem. A atualização do herói para os dias atuais, especialmente em seu excelente relacionamento com sua melhor amiga Katy (Awkwafina), funciona muito bem pelo tempo em que ela é explorada em tela, com a personagem servindo como âncora para que Shang-Chi continue conectado com o mundo após ser forçado a retornar a seu local de nascimento, a sede dos Dez Anéis.

É mais que um drama familiar ou um simples filme de origem

A trama do filme não é das mais originais, mas ainda assim, a trajetória não só do protagonista, como daqueles ao seu redor é deveras interessante. Não somente por finalmente sermos apresentados verdadeiramente a organização dos Dez Anéis, como também por entrarmos ainda mais no mundo místico da Marvel, cada vez mais amplo e com cara de que será o foco principal da Fase 4. Além disso, ver Tony Leung como Wenwu, ou Mandarim, foi um deleite, especialmente após o desastre mostrado em Homem de Ferro 3. Desastre esse citado pelo próprio Leung em determinado momento, além de termos a participação hilária de Ben Kingsley retornando como o famigerado Trevor Slattery. Essa parte em questão é o “pedido de desculpas” da Marvel Studios para os fãs, além de ser uma espécie de mea-culpa em relação ao Mandarim dos quadrinhos, onde muitos o consideram desrespeitoso e estereotipado.

O líder dos Dez Anéis tem um objetivo simples, mas perfeitamente crível e que faz com que o espectador se identifique com o mesmo. Junto disso, a interação entre Wenwu, Shang-Chi e sua irmã, Xialing, deixa claro que alí já houve uma família, mas agora ela está quebrada devido aos traumas do passado e as escolhas de cada um. Mesmo que esses relacionamentos sejam mostrados quase que somente em flashbacks, eles são íntimos o suficiente para não serem somente elementos de trama, mas também deixarem uma marca nos personagens ao logo de todo filme. Por fim, a adição da fantasia inspirada nas lendas e crenças chinesas são um destaque a parte, com seus animais espetaculares e suas cidades místicas, algo que para os que cresceram com filmes como O Tigre e o Dragão ou os clássicos de Jet-Li, é fascinante.

Nada de porrada fofa, amigo

Obviamente, o que toda e qualquer pessoa esperava desse filme eram suas cenas de luta e de ação, especialmente após com certeza todos terem buscado informações sobre Shang-Chi e terem se deparado com seu codinome nos quadrinhos, Mestre do Kung-Fu. Fico feliz demais em poder dizer que o que é feito aqui é excelente, com todas as lutas mano a mano sendo incrivelmente bem coreografadas, até mesmo as que utilizam de CGI, como é o caso das lutas envolvendo os dez anéis. Vale destacar a importância de Brad Allan, lenda de Hollywood que coordenou diversos dublês e é responsável não só pelo filme da Marvel, como também Mulher-Maravilha, Han Solo: Uma História Star Wars, Kingsman: Serviço Secreto e por diversos filmes do icônico Jackie Chan. Infelizmente, Allan faleceu antes de poder ver seu último trabalho, e é merecidamente homenageado nos créditos do filme do MCU.

O trabalho de Allan é de cair o queixo. Em nenhuma cena de luta, até mesmo as envolvendo muito CGI e fundo verde, você se sente entediado do que está sendo mostrado, o que costuma ser bem difícil as vezes, especialmente num filme de origem do MCU.

Um épico com a cara da Marvel Studios

Mesmo com todo seu tom épico e eu diria até isolado, Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis ainda tem a chamada “fórmula Marvel” na sua estrutura. Humor aqui e alí, algumas conexões e referências com outros filmes, e, obviamente, as cenas pós-creditos. A fórmula não atrapalha em nada no decorrer da trama, na verdade, em muitas partes elas acrescentam mais para o que vem acontecendo com o mundo dos heróis pós blip. Dito isso, ela também trás consigo alguns dos problemas de muitos filmes de origem do MCU, como personagens subutilizados ou tramas que não se desenvolvem tanto quanto deviam. Novamente, não chega a ser um problema, mas vale dizer que colocar o Abominável pra lutar com o Wong não serve pra absolutamente nada.

Ainda assim, o diretor conseguiu criar um clima épico através da estrutura de um filme da Marvel Studios, especialmente em relação a batalha final, que ultimamente sempre tem sido algo grandioso envolvendo quase todos os personagens da trama. Parece até que se aproveitaram dessa questão para criar ainda mais o clima de estar vendo um filme clássico como O Tigre e o Dragão, de longe o meu favorito envolvendo a cultura chinesa.

No fim das contas, Shang-Chi é uma excelente adição para o MCU. Além de consertar alguns erros do passado, o filme se torna bem mais do que apenas “uma jogada para vender” ou coisa parecida. É de fato uma trama extremamente interessante com personagens humanos e identificáveis em todos os aspectos. É de fato o primeiro passo da Fase 4, e começamos bem.