O PlayStation segue em uma direção perigosa e os fãs estão se cansando

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Antes de iniciar este texto, gostaria de fazer uma breve introdução sobre a minha experiência no mundo dos jogos. Meu primeiro videogame foi um Super Nintendo, que marcou a minha infância. Logo após ele, tive um Nintendo 64 e um PlayStation 1 e migrei para o PlayStation 2, porém na sétima geração, acabei optando por um Xbox 360 e acabei mantendo os consoles da Microsoft por 10 anos, até comprando o Xbox One no lançamento.

No final da oitava geração, decidi adquirir um PlayStation 4 para jogar seus exclusivos e, de fato, acabei me encantando. Com a chegada da geração atual, decidi me manter na Sony e optei pelo PlayStation 5, por causa da minha experiência com o console anterior.

Essa breve introdução foi necessária para deixar claro que eu ando pelo espectro de consoles desde criança e não tenho uma marca favorita, decidindo pela que me interessa no momento.

Mesmo tendo feito minha escolha prematuramente, creio que seja necessário discutir certas práticas polêmicas que estamos vendo na atual geração. Eu julgo necessário elogiar o que merece ser elogiado e criticar aquilo que merece ser criticado.

Microsoft em desvantagem

Na oitava geração, tanto a Microsoft quanto a Sony, tiveram um início morno. Muitos no Brasil optaram pelo Xbox One devido ao preço (R$ 2,2 mil na época), enquanto outros decidiram esperar até o PlayStation 4 abaixar o preço para adquiri-lo, já que o console chegou ao Brasil custando R$ 4 mil. Porém, esta vantagem de preço não foi bem aproveitada pela Microsoft.

O grande problema do Xbox One no início da geração foi o chefe da divisão Xbox: Don Mattrick. Por mais que ele tivesse feito um trabalho esplêndido com o Xbox 360, trazendo jogos e conteúdos exclusivos para o console, além de aumentar a base dos jogadores imensamente, ele tinha uma visão especial para o novo console da Microsoft: o Xbox One deveria ser uma central multimídia, para a família toda, com música, esportes, Skype, filmes e séries.

Enquanto isso, a Sony focava no que toda pessoa que compra um videogame quer: jogos de alta qualidade, com narrativas mais elaboradas e gráficos realistas, que utilizassem todo o poder do console. Com isso, o PlayStation 4 voou alto e conquistou não só os usuários da marca, mas também os novatos que não sabiam qual plataforma escolher.

Por mais ousada que essa ideia tenha sido, sejamos francos: você escolhe um videogame pensando na possiblidade dele ser um aparelho multimídia ou em seus jogos? Infelizmente, o Xbox minguou por uns anos até engatar, algo que aconteceu graças à uma figura chamada Phil Spencer, que assumiu a divisão Xbox e teve uma ideia brilhante para alavancar o console e, de quebra, conquistar mais usuários para a plataforma.

A hora da virada

Em 2017, a Microsoft iniciou um novo tipo de serviço para Xbox One e PC que, particularmente, considero revolucionário: o Game Pass. A plataforma permite que seus assinantes tenham um amplo catálogo de jogos a seu dispor por um valor acessível, incluindo os exclusivos do Xbox no mesmo dia em que são lançados na loja, como: Halo, Gears of War e Forza, por exemplo. Todo os meses, jogos entram e saem do catálogo, a fim de manter a rotatividade da plataforma, igual o que acontece com a Netflix.

Por mais que este serviço tenha chegado na reta final da oitava geração, ele foi o suficiente para os jogadores passassem a olhar a plataforma Xbox com mais carinho e atenção. Outro movimento de peso foi a recente aquisição da ZeniMax pela Microsoft, uma transação de US$ 7,5 bilhões, que fez com que franquias consagradas como: The Elder Scrolls, Fallout, Doom e Wolfenstein passem a ser propriedade Xbox, adicionando uma vasta seleção de jogos e futuros exclusivos para o Game Pass.

Recentemente, a Microsoft deu outra tacada de mestre, anunciando que incorporou o serviço EA Play, da Eletronic Arts, ao Game Pass sem nenhum custo adicional. Isto permitiu que todos os jogos badalados da EA, como: FIFA, Battlefield, The Sims e Need For Speed, sejam automaticamente adicionados ao serviço da Microsoft.

Para entender a real dimensão da importância do Game Pass, temos que falar em quanto isso custa para o consumidor. Uma assinatura anual do EA Play custa R$ 109,90 e a trimestral sai a R$ 47,90. Caso você assine o Game Pass na edição básica (no PC ou no Xbox), você pagará mensalmente R$ 29,99, podendo usufruir da plataforma da Microsoft E da EA Play.

A Microsoft também oferece o Game Pass Ultimate por R$ 44,99 ao mês, que além das vantagens do Game Pass tradicional, também inclui o serviço Live Gold, que permite jogar online nos consoles e receber 4 jogos gratuitos mensalmente, dois de Xbox One e dois de Xbox 360. Colocando tudo na ponta do lápis e levando em consideração que o preço dos jogos AAA atualmente varia entre 250 e 350 reais, é uma economia tremenda.

Que comece a vigarice

Com o início da nova geração, a Microsoft também criou um serviço chamado Smart Delivery, que ajuda os jogadores a fazerem a transição para a nova geração de consoles, sem que eles tenham o bolso penalizado por isso. Isto é, caso você compre um jogo na plataforma Xbox com o recurso, você terá em sua biblioteca a melhor versão dele, sem ter que pagar mais nada por isso. Por exemplo, caso você compre o exclusivo Halo Infinite no seu Xbox One, você poderá baixar sem custo adicional a versão de Xbox Series S ou X quando adquirir o console.

Mas, enquanto a Microsoft buscava formas de conquistar novos jogadores, mercado e visibilidade com benefícios atraentes e atitudes pró-consumidor, o que a Sony fazia com seus serviços?

Em 2014, a Sony lançou o serviço PS Now na América do Norte, ampliando nos anos seguintes para a Europa e Japão. Basicamente, este serviço em nuvem permite que os jogadores possam acessar jogos do PlayStation 2 até o PlayStation 5 através do PS4, PS5 ou PC, com um catálogo variado que conta atualmente com mais de 800 jogos, mas não tem lançamentos, sejam exclusivos ou de outras empresas.

O valor da assinatura é US$9.99 por mês, US$24.99 por trimestre ou US$59.99 por ano. Como dissemos, o serviço não existe no Brasil e não há sequer previsão de que ele chegue por aqui. O último país a ter o PS Now disponível foi o Japão, em 2017, e acabou ali.

De acordo com a Newzoo, uma empresa renomada que conduz análises e levantamentos a respeito do setor de games, o Brasil movimentará US$ 2,3 bilhões (cerca de R$ 12 bilhões na cotação atual do dólar) no ano de 2021, representando um aumento de mais de 5% em comparação com o ano passado. Deste total, os jogos mobile equivalem a 47%, os consoles 29% e PC 24%. O Brasil é o maior consumidor de jogos da América Latina e o décimo segundo mercado em todo o mundo, é de se estranhar que a Sony nos ignore e não tenha trazido o serviço para cá ainda.

No início da nova geração, algumas empresas, incluindo a Sony, anunciaram que seus jogos aumentariam de US$ 60,00 para US$ 70,00. Convertendo esta mudança, significa que o padrão para muitos lançamentos passa a ser R$ 350,00, sem contar com DLCs e outros adicionais. Atualmente, já temos versões deluxe, com o passe de temporada e outros penduricalhos incluídos, custando mais de R$ 500.

A PlayStation Plus, o serviço da Sony que permite a jogabilidade online, descontos em compras e distribuição gratuita mensal de jogos, também sofreu um aumento recente, apresentando valores de: R$ 34,90 mensal, trimestral de R$ 84,90 e anual, caso você seja um novo assinante, de R$ 149,90. Aqueles que estão em busca de renovar a assinatura através do plano anual, devem investir R$ 199,90.

Com a chegada do PS5, a Sony parecia que seguiria a linha da concorrente. Inclusive, ela ofereceu upgrades gratuitos com os recursos do PS5 para aqueles que compraram Miles Morales e Sackboy: Uma Grande Aventura no PlayStation 4.

Além disso, através de uma publicação em seu blog oficial para anunciar o lançamento do console, constava que o tão aguardado exclusivo Horizon Forbidden West também teria um upgrade gratuito para os jogadores do PlayStation 4. Por falar nisso, os materiais de divulgação da própria Sony diziam que a empresa acreditava em gerações e que ajudaria os jogadores a fazerem a transição para o novo console.

Infelizmente, não é isso que estamos vendo.

Gratuito, mas nem tanto

Nos últimos meses, temos visto a Sony tomado decisões um tanto quanto controversas. Para começar, a PlayStation Plus passou a oferecer três jogos por mês, dois de PlayStation 4 e um de PlayStation 5. Até aí, nada de errado, porém algum dos jogos distribuídos para PlayStation 5 possuem versões para PlayStation 4, mas os assinantes não podem ter acesso à ela, ficando totalmente restrita aos usuários do console da nova geração. Ou seja, quem é assinante e só possui um PS4, terá de se contentar com a “redução” na distribuição dos jogos mensais, mesmo que isso não signifique uma redução no valor da assinatura. 

Há pouco tempo, Final Fantasy VII Remake foi distribuído na PlayStation Plus, mas isso acabou causando um reboliço entre os assinantes, já que era um jogo de peso e que fora lançado recentemente. A versão distribuída na plataforma era a de PlayStation 4 e quando o jogo ganhou melhorias para PlayStation 5, tivemos uma grande surpresa: a Sony bloqueou o upgrade gratuito para aqueles que resgataram o jogo na Plus, permitindo que apenas aqueles que tivessem comprado o jogo pudessem fazer  a atualização.

Recentemente, a empresa entrou em novas polêmicas através dos relançamentos de jogos exclusivos com a alcunha de Director’s Cut. Ghost Of Tsushima, um jogo lançado em julho de 2020, foi relançado nesse sistema recentemente, mas forma que a Sony decidiu comercializar a versão causou uma grande rejeição por parte dos consumidores.

Caso você já o tenha comprado o jogo no PlayStation 4 e queira obter a versão de diretor, no mesmo console, você deverá pagar R$ 104,90 para fazer o upgrade. Mesmo com essa nova versão, você não terá acesso às atualizações da nova geração, sendo obrigado a pagar mais R$ 55,00 para ter direito ao port da nova geração. Resumidamente, você precisa pagar cerca de R$ 160,00 para ter acesso à versão de diretor (que inclui uma campanha adicional) e melhorias do PS5.

Caso você não tenha nenhuma versão e deseje adquirir o jogo pela primeira vez, a versão básica lançada em 2020 foi retirada da loja e, agora, somente pode ser adquirida na versão do diretor, custando R$ 299,90 no PlayStation 4 e R$ 349,90 no PlayStation 5.

A expansão da Ilha Iki fica atrelada à essa nova versão do diretor e não pode ser comprada separadamente. Isso faz com que aqueles que desejem adquirir o jogo pela primeira vez no PS4 sejam obrigados a comprar o pacote completo, pagando o preço cheio em um jogo mais antigo.

Que fique claro: não sou contra a venda de DLCs, mas esta decisão para vender a nova expansão soa um tanto quanto questionável.

Esta semana, tivemos mais uma bomba, ao iniciarem a pré-venda de Horizon Forbidden West, mas para entendê-la, precisamos voltar ao ano passado.

Diretamente do túnel do tempo…

Jim Ryan, chefe da divisão PlayStation

Em 16 de setembro de 2020, o PlayStation Blog fez um post apresentando novidades sobre o PlayStation 5 (o mesmo citado mais acima), onde ressaltou o aumento de preços em seus jogos exclusivos, tendo como padrão valores que variam entre R$ 249,90 e R$ 349,90. O mesmo post também apresentou a PlayStation Plus Collection, uma seleção de jogos de peso disponíveis para download para aqueles que comprassem o PlayStation 5 e fossem assinantes da Plus.

Como citamos acima, a Sony afirmou nesse artigo que apoiaria os jogadores na transição de gerações, anunciando upgrades gratuitos do PS4 para a versão de PS5 para Marvel’s Spider-Man: Miles Morales, Sackboy Uma Grande Aventura e Horizon Forbidden West. Até o fechamento de nosso texto, o post da Sony continua no ar com esta informação.

Em 02/09, um trailer anunciou que Horizon Forbidden West entrou em pré-venda, mas um detalhe fez com que boa parte da internet ficasse revoltada: o jogo não terá upgrade gratuito do PS4 para o PS5. Para ter acesso às duas versões, o jogador deverá comprar a Edição Deluxe por R$ 399,50, que também inclui bônus como: trilha sonora, livro de ilustrações, revista em quadrinhos digitais, além de bônus dentro do jogo. A versão base de PlayStation 4 está saindo por R$ 299,90, enquanto a de PlayStation 5 sai por R$ 349,90.

É perfeitamente compreensível a frustração dos fãs ao ver a empresa voltar atrás repentinamente em suas declarações, ainda mais quando levamos em conta que a Microsoft usa o Smart Delivery para entregar a versão mais atual sem custo adicional ao jogador.

Enquanto isso, vemos a Microsoft conquistando novos usuários dia após dia, por meio do Game Pass, ampliando seu serviço e fazendo com que ele seja o carro-chefe da sua plataforma. Ultimamente, a empresa também viu um mercado valioso nos PCs e fez questão de levar o serviço para esta plataforma e tem colhido bons frutos.

Enquanto isso, a Sony continua com seus serviços parados no tempo, desde 2017. Sim, é fato que a empresa continua adicionando jogos interessantes ao PS Now, mas o serviço ainda se mostra extremamente limitado e restrito, ainda mais quando pensamos que ele é uma plataforma de streaming, ou seja, é necessária uma conexão constante e de alta velocidade com a internet para se jogar.

Em tempos de pandemia, dólar nas alturas e com o país com sua economia afundando cada vez mais, torna-se cada vez mais difícil manter um PlayStation e a chegada de serviços que ofereçam acessibilidade aos jogadores e um bom custo-benefício são sempre bem-vindas. Neste quesito, a Microsoft tem feito o dever de casa e está caindo nas graças do público por isso.

A própria Microsoft reconhece a importância de ser mais “inclusiva” e já estuda formas de levar a experiência Xbox para qualquer dispositivo, sem que você tenha que comprar um console ou os jogos.

Por mais que tenha optado pelo PS5, quando me perguntam sobre qual console da nova geração devem investir, faço questão de elencar o que a Microsoft tem de bom e exalto o Game Pass e o Smart Delivery.

Ao falar sobre a Sony, tenho de me limitar aos jogos exclusivos da marca. E, infelizmente, parece que a Sony parou no tempo e continuará usando apenas sua tradição e o peso de suas franquias para vender consoles, recusando-se a adequar-se aos novos tempos e, principalmente, ao bolso do consumidor.

Neste início desta nova geração, é inegável: o Xbox fica cada vez mais atrativo para aqueles que querem um console principal para jogar muito e gastar pouco e o PlayStation 5 torna-se apenas uma máquina caríssima, limitada a exclusivos. As coisas ficam ainda piores quando pensamos que, caso o jogador queira a melhor versão de seu exclusivo favorito, ao fazer a transição entre gerações, deverá pagar duas vezes.

Isso nos faz pensar: qualidade é melhor que quantidade? Não podemos negar que os jogos da Sony são de fato excelentes e pesam bastante na escolha do console, mas até quando vai fazer sentido pagar uma fortuna em apenas um jogo, quando você pode pagar um valor mensal baixíssimo para ter acesso a um catálogo gigantesco, que também conta com lançamentos e exclusivos?

Cabe a você refletir o que é justo e escolher sabiamente qual é o melhor.