[CRÍTICA] Doctor Who abraça causa LGBTQIAPN+ e saúde mental antes de iniciar nova fase

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Celebrando 60 anos desde sua estreia, Doctor Who, desde os seus primórdios, é uma série que sempre se mostrou à frente do seu tempo. Seja com a própria temática do programa, onde um viajante do tempo e espaço vem para nosso planeta, ou em outras questões sociais, a série da BBC nunca deixou de ter pautas importantes, mesmo que de forma tímida.

Agora, a série começa uma nova fase, não somente com os especiais de aniversário, que estão disponíveis no Disney+mas para a produção como um todo.

Falando nos especiais, eles são exatamente a prova de que, a partir de agora, Doctor Who está ainda mais à frente do seu tempo, e não tem vergonha nenhuma de mostrar isso para nós, espectadores e fãs.

Doctor Who sempre foi sobre o futuro

Rose Noble é uma mulher trans e prova que Doctor Who não terá medo de focar em temáticas importantes daqui pra frente

Como disse antes, a série sempre tocou em temas importantes, mesmo nas temporadas clássicas, onde falava de forma tímida sobre questões como religião, guerras e outros. Agora, na verdade desde a era Peter CapaldiDoctor Who não pretende esconder o que sempre quis destacar, a diversidade.

Falo isso em ampla escala destacando o especial The Star Beast, que adapta uma história em quadrinhos do universo expandido da série. Nela, não somente somos apresentados a mensagem de que não devemos julgar ninguém por aparência devido ao Meep, como também temos essa mensagem escancarada através de Rose Noble, que é uma mulher trans e tem papel crucial na história.

Junto a isso, o especial ainda destaca algo que já estava óbvio desde a chegada da 13ª Doutora, os Senhores do Tempo não possuem gênero definido, e como já era de se esperar, isso e o destaque de Rose gerou revolta de muitos “fãs”.

Essa “revolta” é mais uma prova da importância de Doctor Who tocar nestes temas, pois é necessário que as conversas sobre os mesmos se tornem maiores e mais pertinentes. Assim, os futuros fãs da série talvez não se igualem aos que acusam toda e qualquer produção que toca em assuntos como estes de estarem aderindo a tal “cultura woke” ou a “lactação” (Eu me recuso a usar essa palavra ridícula).

Além da temática do primeiro especial, onde se destaca o preconceito, seja contra alienígenas ou pessoas LGBTQIAPN+, a série também destacou muito outro ponto que acho sensacional.

Uma fase mais sentimental para o Doutor

David Tennant retornou para Doctor Who com uma forte mensagem sobre saúde mental

Desde The Power of The Doctor, que marcou a despedida de Jodie Whittaker do papel, os fãs foram surpreendidos com a volta de David Tennant como o icônico Senhor do Tempo. De lá pra cá, surgiram muitas teorias do motivo do rosto do 10º Doutor ter retornado na forma do 14º Doutor, e os especiais explicam isso de forma sutil, mas muito bem escrita.

Em Wild Blue Yonder, segundo episódio dos especiais, o Doutor precisa lidar com certa ameaça inédita, e esta acaba fazendo com que o personagem precise pensar em acontecimentos traumáticos da temporada do Fluxo, e é aí que finalmente percebemos o porquê do rosto estar de volta… O Doutor precisa descansar. 

O Toymaker de Neil Patrick Harris é um vilão excelente para Doctor Who

Essa mensagem fica ainda mais clara no terceiro especial, The Giggle, com a volta do Toymaker, que é vivido de forma exepcional por Neil Patrick Harris. O vilão deixa ainda mais escancarado a necessidade do Doutor fazer uma pausa.

Não só isso, depois de milhares de anos viajando pelo espaço tempo, o Senhor do Tempo precisa lidar com todos os acontecimentos da sua vida, algo que nunca acontecera de fato, mesmo em momentos felizes. Isso, pelo menos ao meu ver, é uma mensagem gigantesca para nós espectadores sobre a importância da saúde mental, de termos a oportunidade para lidar com questões psicológicas para podermos seguir em frente.

Particularmente, falando como alguém que possui Ansiedade e TOC, essa mensagem, e como ela foi mostrada, foi o ponto maior dos três especiais. O Doutor nunca parou e conversou sobre tudo o que aconteceu na sua vida, seja a perda de pessoas importantes ou eventos de nível universal que foram traumatizantes, e isso fez com que o Senhor do Tempo ficasse esgotado, tanto que isso afetou até a sua regeneração. Assim, somente após cuidar da sua mente e conversar sobre seus sentimentos, o Doutor pode finalmente seguir em frente…

Um Doutor renovado para um novo começo

O 15º Doutor é uma versão do personagem que finalmente lidou com seu passado e conseguiu seguir em frente.

Finalizando os especiais, somos apresentados ao 15º Doutor, vivido por Ncuti Gatwa. Com poucos minutos em tela, o ator de Sex Education abraçou completamente o Senhor do Tempo, também deixando claro a importância da mensagem passada durante os especiais sobre lidar com seu passado. Ele mesmo diz que é um Doutor “que parou para se curar”, e isso é nítido na sua energia e apoio emocional a si mesmo.

Com essa premissa, uma nova casa, e um universo inteiro a sua disposição, Doctor Who se renova, mas sem deixar de lado todo o legado dos últimos 60 anos. Muito pelo contrário, o Doutor finalmente absorveu tudo o que aconteceu todo esse tempo, aceitou as coisas ruins, agradeceu pelas coisas boas, e está pronto para uma nova aventura.