[CRÍTICA] O Homem do Norte | Um conto de fadas para os vikings de Osasco

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Imagine a seguinte sinopse:

Um rei extremamente respeitado enquanto ocupa seu trono. Seu único filho e sucessor ao trono atinge a idade necessária para entender as complexidades e responsabilidades que a coroa traz. O irmão do rei, tio do menino, em um ato de pura inveja e ganância, assassina o rei, toma seu lugar e o jovem príncipe foge para longe enquanto todos do reino pensam que ele também morreu.

Você deve estar pensando que estou falando de O Rei Leão, clássica animação da Disney, mas estamos falando de O Homem do Norte, novo épico assinado pelo renomado Robert Eggers, que traz sua identidade mística ambígua, além de nos confundir e nos jogar nos mesmos questionamentos sobre fé e loucuras vividos pelos personagens da trama.

Para ser honesto, tanto O Rei Leão quanto O Homem do Norte são inspiradas em Hamlet, obra do aclamado William Shakespeare. Vale lembrar que a obra original é uma história nórdica, o que faz com que o filme de Eggers seja um pouco mais fiel.

Na Escandinávia do século IX, os costumes de adoração aos deuses nórdicos, bem como seus rituais e crenças, permeavam aquelas terras e faziam parte do cotidiano dos camponeses, guerreiros e realezas que ocupavam desde a Groenlândia até a Islândia e todo o norte europeu.

Neste contexto, a fuga de Amleth de seu lugar de origem e seu juramento de vingança em nome de seu pai é o que estabelecem o que vamos acompanhar em O Homem do Norte. O jovem príncipe cresce cheio de ódio, tornando-se um viajante ao lado de seu grupo de guerreiros berserkers, tomando vilas e criando escravos. Ao ser confrontado novamente com seu passado e se apaixonar por uma jovem donzela, Amleth decide consumar seu juramento.

É de se admitir que há um esforço narrativo que conduz a história de forma interessante de. Tanto as jogadas tensas da insanidade dos personagens quanto a grande pesquisa feita pelo diretor para ambientar a trama viking da maneira mais verossímil possível – a fim de ensinar o público sobre os costumes daquela época – conseguem prender o espectador e fazê-lo questionar-se se algumas das ações realizadas no decorrer da história são meramente coincidências ou realmente intervenções de divindades perante seus fiéis seguidores.

Mesmo que sofra de problemas estruturais que jogam a condução toda na grandeza absoluta de sua natureza tornando a jornada de Amleth e suas conspirações com Olga um tanto cansativas, seria de extremo exagero afirmar que O Homem do Norte é incapaz de entreter. Mesmo com uma visceralidade até que tímida para seu ambiente e com ações que beiram a subjetividade, o que é necessário ser mostrado já entra para o imaginário de quem assiste e para quem testemunha o que acontece na tela cabe o julgamento se faltou algo mais explícito ou não.

Com uma infinidade de qualidades técnicas, que vão desde o próprio enredo, passando pelo elenco inspirado e entregue a seus papeis, bem como a fotografia exuberante e a trilha sonora assustadora, O Homem do Norte é mais um filme característico de Eggers, com seus trejeitos extremamente notáveis a cada segundo e isso é ao menos admirável.