[CRÍTICA] O Livro de Boba Fett – 1ª Temporada | The Mandalorian 2.5

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Desde sua aparição em O Império Contra-Ataca, muitos fãs da saga Star Wars abraçaram Boba Fett como um dos seus personagens favoritos em todo o universo criado por George Lucas. Contudo, pouco se soube do caçador de recompensas por anos, até mesmo após a introdução do seu pai, Jango Fett, o passado de Boba continuou um mistério, e muitos fãs passaram gerações pedindo por respostas e uma salvação para o personagem, até um tempo atrás dado como morto após cair no Poço de Sarlac.

Eis que, em 2019, temos a chegada de The Mandalorian, que não somente trouxe de volta a esperança dos fãs para o universo da Lucasfilm, como expandiu ainda mais toda a gama de histórias e personagens de toda a saga, obviamente focando mais nos mandalorianos, cuja história foi muito bem explorada nas séries animadas encabeçadas por Dave Filoni, e que chegam agora no live-action para se tornar o novo norte da Galáxia Tão, Tão Distante. No meio disso, tivemos o tão esperado retorno de Boba Fett (Temuera Morrison), que junto de Fennec Shand (Ming-Na Wen), partem na busca por dominação do submundo de Tatooine.

Encabeçada por Jon Favreau e Dave Filoni, responsáveis por The Mandalorian, e a lenda Robert Rodriguez, O Livro de Boba Fett chegou para explorar um pouco mais do período do caçador de recompensas pós O Retorno de Jedi, com o intuito de mostrar que, debaixo de sua armadura de Beskar, tem muito mais que um simples mercenário. Funciona? Com certeza. Tem problemas? Infelizmente. Mas não se pode acertar sempre não é mesmo?

Se The Mandalorian já se inspira em faroeste, aqui é elevado ao máximo

Desde seu retorno, Boba Fett e mostrava um personagem diferente do que fora apresentado na trilogia clássica de Star Wars. Com o passar dos anos, o mercenário parece que se tornou algo semelhante ao Lobo Solitário dos antigos filmes de faroestes, só que diferente do próprio Mandaloriano (Pedro Pascal), Boba foi evoluindo para se tornar um personagem mais sábio e pragmático, o que lembra muito os últimos filmes da época dos faroestes, onde os personagens evitavam conflitos o máximo possível, até que fosse inevitável.

Todo esse clima está presente durante toda a série, mostrando dois lados até então não explorados de Fett. Em um deles, através de flashbacks, a jornada de mudança na índole do personagem é explorada, enquanto no outro, acompanhamos Boba já com sua nova filosofia, buscando se tornar algo mais que apenas um caçador de recompensas que é capanga daqueles que pagarem mais. Nesse quesito, o roteiro da produção consegue acertar em boa parte do tempo, especialmente na parte do passado, que desenvolve bem toda a jornada do vilão se redimindo após um acontecimento em específico. Já no presente, a trama se desenrola a passos lentos, e acaba deixando o protagonista apagado em comparação a sua versão das lembranças.

No decorrer da trama, além do próprio Boba, vemos também a tentativa de mudança de Fennec, que ainda se sentindo em débito com seu salvador, busca na redenção dele a sua própria, auxiliando o novo chefe de Mos Espa desde o princípio e rendendo ótimas cenas de tiroteio e pancadaria. Sinto que, para os fãs de muito bang bang e porrada, a produção pode ser um pouco decepcionante, mas para mim isso se encaixou perfeitamente na proposta apresentada desde o primeiro episódio. Além da dupla protagonista, temos a apresentação em live-action de outros personagens icônicos e queridos do Universo Star Wars, como o Wookie Krrsantan, outro mercenário feroz e popular no selo Legends, além de outros já canônicos, como Cad Bane, personagem das animações que criou Boba após a morte de Jango, o ensinando tudo que ele sabe. É sem sombra de dúvida uma excelente expansão de universo, especialmente por outro fato que falarei mais pra frente, só que aí…

Robert Rodriguez não se encaixa muito bem em Star Wars

Depois da excelente recepção do episódio que dirigiu na segunda temporada de The Mandalorian, Robert Rodriguez, um dos diretores mais emblemáticos do cinema e grande amigo de Quentin Tarantino, recebeu a missão de ser o principal chefe na série de Boba Fett, e isso a princípio parecia a escolha perfeita, vista as cenas espetaculares de tiroteio que o mesmo dirigiu quando Boba finalmente recuperou sua armadura, só que, se levarmos em consideração a filmografia do diretor, especialmente seus filmes mais recentes, Rodriguez tem um estilo que, se pararmos pra pensar um pouco, não se assemelha muito ao do Universo de George Lucas, ou pelo menos, não combinou aqui.

O cineasta responsável por filmes como Um Drink no Inferno, Sharkboy e Lavagirl e Machete, é conhecido por suas obras exageradas e com toques de bizarrice, características que até podem soar bem num universo tão vasto como o de Star Wars, mas que acabam vindo com outro probleminha, seu roteiro. Não me entenda mal, eu gostei de O Livro de Boba Fett, só que existem fatores durante a trama que acabam cansando um pouco para os espectadores, especialmente aqueles que não são muito familiarizados com o estilo de Rodriguez, como é o caso da lentidão tirada dos filmes de faroeste ou então alguns personagens que muitos vão achar meio esquisitos.

Dito isto, o ideal poderia ter sido Rodriguez agir mais semelhante a Jon Favreau e Dave Filoni em The Mandalorian, comandando o cenário pelos bastidores, e quem sabe dirigindo um ou dois episódios, mas ao comandar praticamente metade da produção, parece até que os outros capítulos não conversam entre si, e aí entramos em outro ponto…

Não tem Boba Fett na série do Boba Fett?

Antes de mais nada, DE JEITO NENHUM que eu achei ruim vermos Din Djarin em O Livro de Boba Fett. Muito pelo contrário, o episódio focado no Mandaloriano e como ele se encontra após os acontecimentos da última temporada da série foi maravilhoso, só que isso acabou se estendendo por quase 3 episódios… Tornando o Mando quase que o protagonista novamente. Talvez essa volta pudesse ter sido melhor explorada se ela acontecesse em pequenos trechos no decorrer dos 7 capítulos, intercalando as duas tramas até elas se cruzarem para a batalha final contra o Sindicato dos Pyke. 

Foi ruim vermos GroguLuke Skywalker novamente? Ainda por cima com a Ahsoka? JAMAIS! Só que do jeito que foi apresentado, faz parecer que O Livro de Boba Fett seja nada mais do que The Mandalorian 2.5, uma enorme preparação para a terceira temporada de Din e Baby Yoda, este último inclusive voltando cedo demais, perdendo completamente o valor emocional do finale da segunda temporada, e tudo isso para não esquecer o bendito cânone que o primeiro aluno de Luke foi Kylo Ren (só de me lembrar daquela trilogia dá enjoo).

A questão estrutural da história da série é seu principal problema, fazendo com que seu próprio protagonista seja escanteado do nada apenas para expandirmos nossos olhares para o que vem sendo construído nessa nova fase de Star Wars, que parece estar mais organizada e concisa do que os últimos três filmes da saga Skywalker. Ainda assim, O Livro de Boba Fett é uma produção que mostra que o caçador de recompensas é sim um personagem a ser admirado e querido pelo seus fãs, e quem sabe numa possível Segunda Temporada as coisas não se arrumem para termos algo ainda mais satisfatório?