[CRÍTICA] The Umbrella Academy – 1ª Temporada | Mais do mesmo, com uma pitada de preguiça

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Recentemente, a plataforma de streaming mais utilizada no mundo, a Netflix, lançou uma nova série do gênero de heróis chamada The Umbrella Academy.  A série é uma adaptação da HQ de mesmo nome, criada por Gerard Way (vocalista da banda My Chemical Romance) e o desenhista brasileiro Gabriel Bá, lançada pela editora Dark Horse.

Recentemente, a Netflix cancelou diversas séries que produzia em parceria com Marvel, mas mesmo assim, a plataforma mostra não estar disposta abandonar o gênero dos super-heróis, adaptando uma franquia menos conhecida, mas que tem de tudo para agradar os fãs de quadrinhos.

A trama da série gira em torno de um grupo de super-heróis que nasceram de maneira misteriosa e que foram adotados pelo bilionário excêntrico chamado Sir Reginald Hardgreeves (Colm Feore). Depois de uma infância cheia de treinamentos e traumas, os jovens heróis cresceram e acabaram se distanciando um dos outros. Contudo, após a morte misteriosa do bilionário, os jovens se reúnem novamente para dar um último adeus ao pai adotivo, trazendo à tona todos os ressentimentos que acumularam ao longo dos anos.

Os primeiros episódios começam mostrando que a série possui um grande potencial e muita excentricidade. No entanto, conforme os episódios vão passando, o roteiro acaba se perdendo em fórmulas e caminhos preguiçosos que tornam The Umbrella Academy mais uma série genérica de super-heróis.

Um dos pontos mais fracos do roteiro é a sua extrema previsibilidade. De início, temos um mistério envolvente que nos deixa bem curiosos, mas, a partir do terceiro episódio, o telespectador já consegue ter uma noção do que vai acontecer mais à frente. O roteiro traça caminhos tão óbvios que fica fácil discernir a ameaça, onde está o perigo ou quem vai causar problemas. Isso faz com que quem esteja assistindo, não se sinta impactado ou tenso com as descobertas dos personagens, pois dificilmente o telespectador vai ser surpreender com aquilo que ele já sabe ou espera.

Outro problema do roteiro é a quantidade de momentos convenientes que ele possui.  Ele usa deste artifício de maneira excessiva durante toda a série. Em alguns momentos, o telespectador chega a prever que determinado personagem pode surgir ou realizar determinada ação. Como por exemplo: os poderes de alguns que são ignorados em algumas cenas de ação para que a luta tenha uma duração maior ou para que os vilões realmente pareçam ser uma grande ameaça. Aliado a isso, temos lembranças de fatos marcantes que são totalmente esquecidas e que de maneira conveniente surgem no momento preciso para tentar aumentar a tensão de uma cena na trama.

Outro problema do roteiro são as pontas soltas que são deixadas por toda a história. Com certeza, o telespectador vai se perguntar: se cerca de 50 crianças nasceram de maneira excepcional, com poderes, porque só foram descobertas sete? Por que isso aconteceu?  Um personagem que está preso e pronto para ser transferido, acusado de um crime grave, simplesmente some da cadeia e ninguém o procura?

O final da série é tão solto que parece que o telespectador está vendo o fim de mais um episódio não de uma temporada.

Sobre os Personagens,  os que roubam a cena são o Número 4 / Klaus (Robert Sheehan) e o Número 5 (Aidan Gallagher).

O Klaus tem uma vida regada a drogas e excentricidades, que são muito bem justificadas na história pelo medo do seus poderes e sua infância traumática. O ator Robert Sheehan dá um peso dramático ao personagem durante a série, que faz com que mergulhemos em todos os dramas e traumas do personagem. Seus poderes atiçam a curiosidade do público, pois o próprio personagem não os conhece ou os domina com maestria.

Seu Irmão, o Número 6 / Ben (Ethsan Hwang), tem sua história pouco desenvolvida, mas funciona como um tipo de consciência para Klaus. Contudo, o fato de Ben se comunicar com Klaus é meio contraditório, visto que os poderes de Klaus só funcionam quando ele está são, e seu irmão está ao seu lado na maior parte da série.

O Número 5 (Aidan Gallagher) pode ser descrito com o John Wick viajante do tempo. Suas cenas de ação são sensacionais e sua perspicácia e inteligência é absurda, mostrando que realmente ele é o melhor herói da família. O ator mostra que, apesar de ser o mais jovem do elenco, possui talento de sobra e entrega um personagem marcante, sarcástico e cheio de personalidade.

Número 1 / Luther (Tom Hopper) entrega um personagem um pouco raso, que apesar dos traumas, foi leal ao seu pai e no final, acabou descobrindo que o título de líder e de “Número 1”, acabou resultando apenas em decepções e desilusões.

Número 2 / Diego (David Catañeda) serve, basicamente para mostrar o quanto a série pode ser bem desenvolvida em termos de coreografias de luta e ação, contudo, a carga dramática que o personagem deveria conter acaba se perdendo em meio aos dramas dos demais personagem, fazendo com que ele seja apenas um psicótico com desejo de atirar facas.

Número 3 / Allison (Emmy Raver-Lampman) tem um bom desenvolvimento e possui um dos poderes mais interessantes da equipe, porém as habilidades dela são pouco utilizadas durante a série, se resumindo a um breve momento de sua infância e um flashback com sua filha. O drama pessoal da personagem é muito bom e nos faz questionar nossas atitudes se estivéssemos em seu lugar.

Por fim, temos a Número 7 / Vanya (Ellen Page), que precisou crescer como o “patinho feio” da família e ser a única da equipe sem um superpoder, porém a previsibilidade do roteiro faz com que qualquer um preveja o que irá acontecer antes mesmo da trama se desenrolar.

Outros dois personagens da série são os agentes Hazel (Cameron Britton) e Cha-cha (Mary J. Blige) que surgem como grandes ameaças aos heróis, mas que no fim acabam sendo tratados quase que como alivio cômico da série, transformando os agentes em dois patetas armados.

Por trás dos agentes, existe uma organização chamada A Comissão, que gerencia os acontecimentos do espaço tempo. Contudo, os membros da gerência da organização, como a personagem da atriz Kate Walsh, possuem poderes tão grandes que fazem com que a personagem se torne logicamente imbatível, visto que sobreviver à explosões, avançar, retornar e parar o tempo, são poderes que a comparam quase a um Deus, mas mesmo como tantas habilidades assim, a organização se limita a ser enganada e agir nos bastidores de forma desleixada, quase como se gostasse de ver tudo dando errado.

Ao falarmos sobre a parte audiovisual da série, devemos ressaltar que a trilha sonora está sensacional. Em muitos momentos, temos a sensação de estar assistindo a um videoclipe romântico ou de ação, o que apesar de ser incrível, em alguns momentos não se encaixa tão bem com a produção no geral, mas isso não irá atrapalhar sua experiência. A fotográfica e os efeitos especiais estão de encher os olhos, com bons cortes, cores que te transportam ao sentimento daquela cena ou momento, além de personagens digitais que surpreendem pela qualidade e realismo.

Por fim, The Umbrella Academy é uma série mais do mesmo, que pouco inova no gênero e que tem medo de surpreender o telespectador, entregando todo os fatos antes que eles aconteçam. A série em si não é ruim, nem excepcional, ela é só OK. Ela consegue entreter, empolgar com as cenas de ação, fazer o público dar algumas risadas, mas não consegue fazer com que o telespectador fique imerso totalmente na trama da série. The Umbrella Academy tem um grande potencial e espera-se que nas próximas temporadas a série possa aprender com seus erros e voltar de maneira mais completa e profunda, sem parecer tanto o terceiro filme de  uma certa franquia de mutantes da Marvel (isso não é uma referência a X-Men 3: O Confronto Final).

PS:  Fique atento para as cenas de abertura que apresentam o logo da série, elas são geniais e muito divertidas.