Margaret Stohl e Mark Waid falam sobre diversidade e mais

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Na Wondercon, os escritores Mark Waid e Margaret Stohl subiram ao palco para conversar com os fãs sobre Natasha Romanov, diversidade e mais. Num clima bastante divertido, Waid se introduziu como alguém que já escreveu um milhão de quadrinhos e “nossa estrela, Margaret Stohl, que escreveu seis.”

“Você já fez as contas – um milhão contra seis,” disse Stohl. “Já dá pra perceber quem é a estrela aqui.”

“Eu estou aqui porque ela é muito tímida pra ficar aqui sozinha, então pediu por apoio,” Waid falou. “Estamos aqui para entrevistá-la hoje sobre sua Viúva Negra e outras coisas que ela queira falar.”

“Não, eu que ia te entrevistar,” Stohl protestou.

“O quê?” Waid exclamou. “Nós não vamos chegar em um consenso.”

“Eu perdi minhas perguntas,” ela respondeu. “Eu até as tinha em um pequeno cartão. Em algum lugar daqui, existe um conjunto perigoso de perguntas para Mark Waid. Caso você as encontre, aproveite.”

Waid perguntou se ela lia quadrinhos na infância, recebendo como resposta: “Então, Mark, você lia?” Ela parou para dizer que sentia que tinha “a mais ridícula cara de paisagem,” e mostrou como sentiu que se parecia aparecendo sobre Waid com a boca e os olhos abertos. Ela parou para posar para as fotos, para que ninguém tirasse fotos feias dela.

Stohl explicou que seus anos de formação foram durante a era do traje de gato da Mulher-Gato e que ela tinha pesadelos com o Coringa de Cesar Romero como Satã.

“Isso é ridículo. Satã não tem um bigode,” Waid disse. “Todos sabem disso.”

Crescendo em uma família rígida, Stohl assistia desenhos em preto e branco e roubava gibis dos irmãos. “Eu queria coisas que não pudesse ter, o que me fazia questionar coisas. Onde está a Gandalf? Por que Yoda é menino? Fiquei buscando por uma garota que me guiasse no mundo da fantasia pela maior parte da minha vida.”

Waid disse que ninguém estaria interessado em ouvir sua história. Ela respondeu que, no Twitter, alguém tinha feito uma pergunta para ele, e ela respondeu que os fãs podiam perguntar por si mesmos como se estivessem no Twitter. Waid explicou que Adam West apareceu na televisão interpretando o Batman quando ele tinha três anos e seu pai trouxe gibis, acrescentando depois que ele esteve em doze escolas durante dez anos devido a constantes mudanças com a família, e que os personagens dos quadrinhos eram a única coisa constante em sua vida.

Stohl perguntou: “Por que fazemos isso? Eu estou pensando bastante sobre heróis e contos. Eu escrevo romances para jovens adultos. Eu já escrevi pilotos e já ingressei em audições porque eu vivia em Los Angeles, onde todos os seus colegas tinham um pai que conhecia um agente. Eu me pergunto porquê fazemos isso. Eu já trabalhei em jogos e quadrinhos. Meu livro já virou um filme. Eu fui pra frente e pra trás entre vários formatos, então estou pensando, por que fazemos isso? Você fica sempre atormentado, você não fica rico… Bem, talvez você fique, eu não fiquei rica…”

Waid respondeu, “Eu ia te pedir vinte dólares ao final desse painel…”

“Eu não sei se vocês têm acompanhado,” ela continuou, “mas mulheres e diversidade foram assuntos um pouco perseguidos na internet ontem, como às vezes são. Por que ainda se incomodar? Por que trabalhamos nos quadrinhos, e por que trabalhamos em um quadrinho com uma personagem feminina se não precisamos?”

“Pra mim,” Waid falou, “Eu gosto dos brinquedos. Esses brinquedos – Batman, Superman, Homem-Aranha – estavam lá por mim quando eu era criança. Por causa disso, especialmente estando apegado a eles tão jovem, eles viraram parte de mim. Hoje, ao escrever quadrinhos, eu faço um monte de criações autorais, de maneiras em que isso não me completa como quando escrevo histórias que eu amei enquanto crescia porque me sinto de volta ao passado.”

“A sensação é a mesma?” Pergunta Stohl.

“Criação autoral? Não,” Waid respondeu. “É um animal completamente diferente. Essa é a parte boa, mas também é a ruim. A parte boa significa poder construir um mundo do nada, a parte ruim é ter que pensar em tudo, você não pode esperar que o Planeta Diário esteja lá. Não existe uma mitologia concreta.”

“Eu tenho uma filha que não é heteronormativa, então estou sempre pensando nisso,” diz Stohl. “Eu cresci em uma casa muito convencional com uma cultura que dizia, e eu cito, ‘Floresça onde lhe plantarem.’ Eu nunca fui boa em florescer onde me plantaram. Não é uma habilidade que eu tenha. Se você me diz para florescer onde eu fui plantada, eu vou florescer em todos os lugares, menos onde fui plantada. Sou do contra por natureza.”

“Para mim, eu olho pra isso como o ponto inicial nos debates culturais,” ela prossegue. “Se as pessoas ficam bravas e dizem ‘quadrinhos são destruídos pela inclusão’, tudo bem. Se você quer se irritar, tudo bem, porque eu estou aqui em cima, orgulhosa da minha filha, essa foi uma rima. Eu estou aqui falando sobre isso com vocês. Eu vejo isso como uma votação. Estou aqui para estar aqui. Eu sempre fui a única moça na sala. Eu trabalhei em jogos onde eu era a líder de design em um projeto. Eu entrei na sala para uma reunião onde eu estava no comando, e um programador olhou pra mim e falou, ‘olha, a stripper chegou.’ Essa é a cultura de onde eu vim. Eu aceito que em qualquer época onde você esteja em um espaço de comunidade, as pessoas vão te enfrentar por isso.”

Stohl perguntou a Waid qual era o seu objetivo ao fazer um quadrinho tão sangrento da Viúva Negra. Waid começou a louvar Chris Samnee, o co-escritor e artista do quadrinho, e Stohl o interrompeu para dizer que “acredita que artistas vendem quadrinhos,” novamente mirando nos comentários feitos por David Gabriel durante o encontro entre os lojistas e a Marvel.

“Não acredite em tudo que lê,” Waid comentou.

“Não acredito,” Stohl disse. “E eu amo o David.”

Waid comentou que Samnee foi o ímpeto para a direção que a história tomou, dizendo que o artista tinha mais desejo em fazer o quadrinho porque “a Viúva Negra é uma área cinza”.

“Eu gosto das áreas cinzas,” Stohl disse.

“É um lugar mais interessante para se escrever,” Waid admite. “Chris apontou, e nós falamos sobre a trama, então eu volto e faço os diálogos. A primeira regra que eu coloquei foi que com Demolidor fizemos um monte de narração em primeira pessoa e eu queria ir no caminho oposto com a Viúva Negra. Eu não quero saber o que ela pensa. Pela história que estamos contando, seria prejudicial estar dentro da mente dela.”

Waid disse que estava receoso em escrever uma personagem feminina durante doze edições, ficando mais confortável fora da mente de Natasha. Stohl disse que ir a um salão de beleza, um espaço feminino que poderia ter um “filme de menina” sendo exibido, era era intimidador quando os favoritos dela incluíam “Band of Brothers“.

Ela disse que a Marvel não poderia ter sido mais acolhedora, apesar dela e da editora Sana Amanat serem as únicas mulheres em uma sala de mais de quarenta pessoas. Ela descreveu as pessoas presentes, com Brian Michael Bendis presidindo as reuniões como um “rei gnomo,” Amanat reinando na loucura, Axel Alonso tentando “treinar os filhotes” e visitas de Gabriel e pessoas das animações e vendas. Ela também disse que todos param e escutam sempre que Ta-Nehisi Coates diz qualquer coisa.

Stohl respondeu a pergunta de uma cosplayer, dizendo que ela fez da Natasha uma personagem modelo porque era um papel desconfortável para ela. Ela contou para outro membro da audiência que os fãs podem melhorar as coisas comprando o quadrinho de um criador diversificado, baixando seus trabalhos ou dizendo coisas positivas, o que ela descreveu como “empatia extrema.”

A Viúva Negra de Waid e Samnee é publicada atualmente no Brasil pela editora Panini. Margaret Stohl possui dois livros do selo Marvel estrelando a Viúva Negra publicados nos EUA e em diversos países, e atualmente escreve A Poderosa Capitã Marvel, pela Marvel NOW.